Está na hora de dar um celular para o seu filho?

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Por Vera Barreira e Roberta Tinoco 

“§ 3º - É vedado ao aluno: 

I – O uso de aparelhos eletrônicos (walkman, telefone celular, ipods, etc)durante as aulas e/ou atividades propostas; 

a) A escola não se responsabiliza pelo extravio, desaparecimento, sumiço ou furto de aparelhos deste ou de outro tipo que não sejam componentes ou solicitados como parte das necessidadesdo seu projeto pedagógico.”

Uma das regras que temos na Escola diz respeito ao uso de aparelhos eletrônicos. Os alunos de FII não são proibidos de trazer aparelhos eletrônicos (tablets, smartphones, vídeo game portátil...), para a escola, pois acreditamos que crianças acima de 11 anos têm autonomia e responsabilidade para cuidar de seus pertences, mas nosso regimento impõe limitações para seu uso.

Os aparelhos eletrônicos não podem ser usados em sala de aula, mas apenas nos horários de parque ou saída. Durante as aulas, devem permanecer desligados e guardados, caso contrário, os professores devem confiscá-los e deixá-los na secretaria, sendo que os objetos confiscados só podem ser retirados pelos pais. Os alunos entendem essa regra, e tem sido raro vivenciarmos esse tipo de situação em aula.

Alguns pais nos perguntam por que não proibimos de uma vez que os alunos tragam celulares e aparelhos afins para a escola. De nossa parte, vemos que muitas famílias utilizam os celulares, a partir do FII, para controlar os filhos que vão embora sozinhos, que fazem rodízios ou que ficam para treinos ou atividades na escola à tarde. Mas, mais importante que isso, acreditamos que é vivendo as situações, refletindo sobre elas e encarando as consequências que os alunos ganham autonomia. Saber usar o celular em situações adequadas e não usar quando vai atrapalhar o grupo ou o outro é também uma aprendizagem. Quantos adultos parecem não ter aprendido isso ainda?

 “A essência da autonomia é que as crianças tornem-se aptas a tomar decisões por si mesmas. Mas autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista. Quando uma pessoa leva em consideração os pontos de vista das outras, não está mais livre para mentir, quebrar promessas e ser leviano.” (Constance Kamii, in A autonomia como finalidade da educação.)

Deixamos a cargo dos pais decidir e avaliar se seu filho tem ou não tem condições de cuidar desse tipo de aparelho, incluindo aí a maturidade suficiente para fazer uso adequado dos mesmos.

Mas temos enfrentado, com frequência, um sério problema com os aparelhos eletrônicos trazidos de casa: a falta de cuidado por parte dos alunos. São vários aparelhos esquecidos em sala, alguns mais de uma vez; aparelhos quebrados durante brincadeiras inadequadas; aparelhos deixados no banheiro, no parque... e o desespero do dono quando percebe isso. E, daí, a mobilização de adultos para apoiar o aluno. Quando um objeto é “esquecido”, alguns funcionários da escola precisam ajudar o aluno a encontrá-lo: pessoal da secretaria, orientação educacional, monitoria conversam com o aluno para acalmá-lo, fazem perguntas que o ajudem a retomar a história e a lembrar-se da última vez que viu/mexeu no aparelho; acompanham o aluno as várias instâncias para verificar se o objeto já foi encontrado, vai em busca de outros colegas que estavam juntos etc...

Quando o objeto se torna parte de uma brincadeira e acaba danificado/quebrado, muitos sentimentos e emoções são gerados nos alunos envolvidos, necessitando, então, da mediação da orientação educacional ou dos professores para que possam se ouvir e negociar uma solução.

E, diante da angústia, do sofrimento ou do nervosismo dos alunos, e muitas vezes dos pais, frente a uma situação que envolva seu aparelho eletrônico, mesmo que a escola, como consta no regimento, não se responsabilize por objetos que não façam parte do material escolar, acabamos por gastar um tempo de uma série de pessoas para cuidar da questão, deixando de lado aspectos mais importantes do cenário escolar.

Diante dessas novas possibilidades e recentes práticas sociais de uso dos eletrônicos, é preciso refletir e ponderar: está na hora de dar um celular para o seu filho?