A falta em provas e outras situações de avaliação e o direito à atividade substitutiva

22_09_2014

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Por Tiago Lima e Joana Elkis

Em junho, por conta da importância que esse período tinha para o segundo trimestre letivo, e no intuito de reduzir mais as ausências de alunos numa época com grande quantidade de feriados com emendas e de jogos da Copa do Mundo, estabeleceu-se – em comunicado enviado no dia 2 de junho aos pais do Fundamental 2 – que a substituição de provas parciais nesse mês só se daria exclusivamente nos casos previstos no regimento escolar.

A regra já existia no Ensino Médio, mas sentimos a necessidade de estendê-la ao F2 em função das inúmeras ocorrências recentes. Essa transposição para o F2 demandou compreensão e disposição das famílias, que responderam prontamente, remanejando ou cancelando viagens de passeio.

Em março de 2013, havíamos publicado no blog da escola um texto que procurava compartilhar com os pais os prejuízos que uma viagem em período de aulas causava. O texto era uma reedição de outro que já tinha sido publicado em 2011 com o mesmo o objetivo: propor uma reflexão que contribuísse para reduzir o alto número de famílias que optam por tirar férias durante períodos de aula. Sempre, nessas situações, a preocupação era de tentar minimizar o impacto das faltas na rotina escolar e na aprendizagem, além de pensar em como fazer para que a presença nas atividades escolares não seja sentida pelo estudante como banal.

Contudo, aos obstáculos que as faltas em período de aulas trazem ao aluno para sua aprendizagem, soma-se uma dificuldade de gerenciamento da rotina escolar por parte dos professores e da orientação todas as vezes em que alguma avaliação parcial é perdida, os quais precisam:

(a) parar para avaliar a melhor data para o aluno perder mais uma aula para fazer essa reposição (tomando o cuidado para que ele não assista à correção da prova que os outros já fizeram, mas que também não perca aulas cruciais e, eventualmente, fazendo negociações com o aluno e a família para que ele tenha tempo para se preparar para a tal avaliação);

(b) em alguns casos, fazer adaptações na avaliação porque, em instrumentos mais objetivos, a cola fica muito facilitada;

(c) criar um espaço e disponibilizar uma pessoa (geralmente um orientador educacional ou um estagiário da disciplina) que acompanhe o aluno na realização da atividade;

(d) encaminhar, mais uma vez com atraso, a correção e a devolutiva daquele instrumento. Muitas avaliações parciais também possuem uma continuidade de trabalho que fica, por sua vez, atrasada com relação ao resto da classe.

Infelizmente, fato é que, nos últimos anos, a quantidade de casos que precisam desse tipo de atenção não só não regrediu, como tem se tornado cada vez mais a regra.

Algumas escolas, para combater esse tipo de costume, criam, por exemplo, medidas como cobrar um valor das famílias para que o aluno faça algum tipo de avaliação, geralmente ao fim do trimestre, que possa substituir a nota perdida. Importante falar aí de nota e não de avaliação, porque a função da última fica, ao fim do processo, reduzida à da primeira. Ou passa a coincidir com um tipo de avaliação de objetivo muito específico e que já existe: a prova trimestral – a qual, por estar situada no fim do processo, tem um caráter bastante distinto das avaliações parciais.

Mas mais interessante é o efeito que essa medida de cobrar uma taxa para reposição de provas tem produzido: o pagamento, ao invés de coibir a prática, tem intensificado a frequência com que ela acontece. Isso porque a legitima, na medida em que a institucionaliza e desobriga todos de terem de pensar no prejuízo pedagógico envolvido.

Por todos esses motivos é que gostaríamos de manter a medida de junho para o futuro, guardando a reposição de provas realmente para os casos excepcionais – e não mais como a regra.

Enquanto orientadores educacionais, muitas vezes acompanhamos a decisão de famílias em fazer uma viagem que frequentemente têm ganhos muito claros para a formação de uma criança ou adolescente, em termos de amadurecimento, conhecimento e cultura. Se isso nos deixa, por um lado, com mais vontade ainda de fazer o que está ao nosso alcance para tornar essa experiência o mais tranquila e sem prejuízos para o desempenho escolar do aluno, também sabemos que aquela viagem realmente excepcional na escolaridade de um aluno, quando é escolhida de forma consciente, ponderando perdas e ganhos, é passível de ser contornada no restante do ano, mesmo sem a reposição das notas envolvidas. Isto é, se a família avalia que o sujeito tem condições de enfrentar estas perdas e depois recuperá-las, faz uma escolha responsável. Já as viagens frequentes passarão, sim, a ter um impacto prejudicial no desempenho do aluno – e são essas que queremos evitar.