Intervenções no espaço da escola


Intervenções coletivas criadas pelos grupos classe com os materiais e mobiliários disponíveis para que os estudantes pudessem ter uma primeira experiência de ativação do espaço antes de elaborar seus projetos finais.

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Por Marisa Szpigel (Zá) – orientadora de arte do Fundamental 2 e professora de arte dos oitavos e nonos anos

Muitas são as ações de protagonismo com as quais os estudantes do nono ano se deparam nesta etapa da escolaridade. Sim, queremos marcar as conquistas e a passagem do Fundamental 2 para o Ensino Médio.

Por essa razão, costumamos brincar que o projeto “Intervenções no espaço da escola” é o TCC de arte do Fundamental 2, ou seja, um trabalho de conclusão, aberto a processos abrangentes e diversos, para que os estudantes possam colocar em jogo conhecimentos adquiridos ao longo de um intenso contato com a arte.

Para dar suporte aos projetos de intervenção, as propostas de trabalho da série procuram evidenciar a dimensão política da arte. A fim de favorecer o contato com essa dimensão, durante o ano todo, três conceitos fundamentais são abordados: a reprodutibilidade, a apropriação e a circulação da arte.

No primeiro trimestre, a investigação acerca da xilogravura, que envolve os processos de gravação e impressão, possibilita aos estudantes a experiência com uma técnica reprodutiva, ou seja, o conceito de reprodutibilidade se materializa quando, a partir de uma única matriz de madeira, torna-se possível a impressão de muitas imagens. Assim, a arte pode circular por diferentes lugares ao mesmo tempo.

No segundo trimestre, os estudantes conhecem mais de perto dois artistas, que, de modos diferentes, questionam os circuitos tradicionais de arte: Cildo Meireles e Banksy. Ambos ampliam a ideia de lugar da arte. O cotidiano, a cidade e a rua, as questões sociais e políticas, são tensionados por esses artistas. Como nossos alunos experimentam essa tensão? Cada um escolhe uma imagem e cria um estêncil para imprimir em uma área externa da escola. Nesse caso, o desafio não é apenas estampar a imagem, mas pensar como a imagem transforma o lugar e como o lugar transforma a imagem.

Munidos desses conceitos e com algumas outras tantas experiências artísticas na bagagem, consideramos importante o exercício de agir no espaço da escola. A escola, nesse sentido, pode ser entendida como a rua, a cidade, e, por essa razão, assume dimensão pública.

Do ponto de visto didático, é um momento de maior autonomia dos estudantes no curso: determinar entre si os interesses que darão as diretrizes de seu trabalho numa vastíssima gama de possibilidades; escolher um local e o público com o qual seu trabalho dialogará; realizar operações que serão orientadas pelos professores. No que toca os conteúdos específicos da disciplina, a autonomia se sente na determinação do caráter de cada intervenção; no modo como uma referência se deixará perceber como influência na realização do trabalho; na escolha dos materiais e seus procedimentos de manipulação que deverão ser levados a cabo com rigor para que o trabalho efetivamente aconteça e, dentre eles, fazer um estêncil pode ter o mesmo valor de um procedimento aprendido no primeiro ano do fundamental 1, ou mesmo fora da escola.” Bartolomeo Gelpi – professor de arte dos oitavos e dos nonos anos.

Antes de ir a campo, três situações pontuais são decisivas para possibilitar a criação de proposições conceitualmente consistentes, a partir da consideração e da apropriação do espaço, tendo em conta, ao mesmo tempo, uma gama de materiais e procedimentos artísticos factíveis quando se trabalha com escalas maiores que aquelas a que estão acostumados. A primeira é entrar em contato com a poética de Andy Goldsworthy e Christo, artistas contemporâneos que fazem intervenções em grandes dimensões. A segunda, realizar coletivamente, no ateliê, uma intervenção breve, com o desafio de pensar em uma questão e, com os materiais ali disponíveis, o grupo classe ativar o espaço para que aquela ideia possa se concretizar visualmente. A terceira implica os estudantes na realização de um projeto em grupo (de 3 a 4 integrantes).

Os estudantes tomam o desafio para si, e com seus recursos debatem e discutem, exercitam o lugar de impor suas ideias, ouvir e considerar a dos outros, e, juntos, reunir elementos que tornarão mais potentes suas ações sobre o espaço. A experiência favorece o agir no mundo, e, independente do caráter da intervenção, imprime uma dimensão política ao trabalho.

Para sua efetivação, os estudantes analisam a planta da escola com o objetivo de apreender o espaço de atuação de cada grupo e, assim como nos editais de arte, elaboram uma ficha em que detalham o projeto por escrito, antecipando por uma descrição detalhada, aquilo que pretendem fazer, além de criar uma justificativa conceitual e levantar os materiais e as quantidades necessárias para realização do projeto.

“A diversidade obtida no conjunto dos resultados é imensa. Alguns grupos optam por intervenções que discutem de modo incisivo questões práticas do cotidiano na escola, assumindo forte caráter político; outros procuram uma via que leve à introspecção, outros acentuam o humor, outros, ainda, o puro lirismo.” Bartolomeo Gelpi – professor de arte dos oitavos e dos nonos anos.

Os trabalhos realizados no espaço são de caráter efêmero, e podem durar de um dia a uma semana. Essa é uma condição colocada pelo projeto, e o fato dele acontecer no final do ano e por considerarmos importante que os alunos participem da desmontagem das intervenções, coloca a necessidade de desfazer o trabalho e reaproveitar materiais como parte do processo. Em função dessas condições, incluímos a documentação como etapa fundamental. É importante notar que, para conhecer os trabalhos dos artistas de referência, os alunos pesquisaram a documentação dos mesmos. Qual o lugar da documentação no campo da arte? Essa é uma questão que é colocada também como ponto importante, assim, os alunos se organizam para fotografar ou filmar o processo durante toda a montagem e a desmontagem dos trabalhos.

Na semana que vem, as ideias serão concretizadas e a documentação será o meio de divulgação das intervenções criadas pelos estudantes. Convidamos a comunidade a conhecer, refletir e debater sobre o lugar que a arte ocupa na vida cotidiana.

A documentação será publicada no flickr e, em breve, enviaremos o link.

Contamos com a participação de todos com comentários e questões!