#35anosescoladavila

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A minha história de vida na Vila

Por Marcos Mourão (Marcola)

Dedicada ao professor de Ed. Física Marcelo Barros da Silva, o Jabú  

A primeira vez que ouvi falar da Escola da Vila foi na minha graduação na USP. Fazia o curso de licenciatura em Educação Física, e o professor Oswaldo Ferraz, da disciplina "Ed. Física na  infância", convidou dois colegas para uma conversa com a turma, um deles era o professor  Marcelo Barros, conhecido como Jabú. Quando Jabú começou a falar sobre a proposta de trabalho na Escola da Vila, imediatamente senti uma grande empatia por suas ideias. Para conhecê-las  mais a fundo, resolvi que iria tentar fazer um estágio de observação na unidade Butantã. Lembro-me do dia em que vi, pela primeira vez, o portão azul de entrada na Barroso Neto. Estava fechado, sem tranca, cadeado. Esperei algum tempo, e, como não apareceu ninguém, resolvi entrar. Subi os degraus de pedra e logo avistei uma moça, a Alessandra, na época, a secretária. Perguntei pelo Jabú, e a Alê me pediu para esperá-lo na quadra. Quadra? Qual quadra? Na época, só havia um pátio coberto por uma lona laranja, conhecida como "Asa Delta"! Fiquei aguardando um pouco e logo chegou a turma de crianças. Assim que a aula começou, as ideias expostas na faculdade começaram a se materializar. Uma aula que não se norteava pela atividade repetitiva de exercícios? Estranho... Uma aula que respeitava a atividade corporal da criança? Muito estranho...  Uma aula que não precisava de linhas esportivas na quadra e que não propunha o uso de material complicado, caro e específico, mas utilizava sucatas e outros materiais simples, de fácil acesso? Bem estranho... Uma aula na qual as crianças interagiam, se divertiam e não se agrediam? Esquisitíssimo!

Decidi que era isso que queria fazer na minha vida profissional! Passei então a estudar alguns teóricos da pedagogia e da psicologia e voltar minha atenção ao desenvolvimento infantil e ao jogo, aguardando a oportunidade de um dia ser convidado pela Escola da Vila. E essa oportunidade veio com a introdução da atividade de extensão curricular de capoeira, no segundo semestre de 1993. Nessa época, a escola atendia aos alunos do fundamental 1, mas, no ano seguinte, abriria a primeira turma de 6º ano E, com a perspectiva de trabalhar com uma faixa etária inédita, me convidaram para assumir as aulas de educação física e introduzir o treinamento esportivo! Obviamente fiquei muito feliz e preocupado… Será que daria conta?

Minha primeira entrevista foi com o Vinicius Signorelli, coordenador do ensino fundamental 2. Para aqueles que não conheceram o Vinicius na época, pensem na figura de um viking. Acrescentem a ela um pouco de Einstein e Beethoven. Era fácil se intimidar à primeira vista...

Fui muito bem recebido por toda a equipe da escola. Para se ter uma ideia, as reuniões pedagógicas de terça-feira aconteciam numa sala do bloco B com todo o corpo pedagógico! Muitas reuniões podiam ser chamadas de “terças insanas”! Era uma concentração absurda de ideias e conceitos pedagógicos por m²! Imaginem um garoto de 23 anos, recém-formado, com pouca experiência docente, nesse ambiente! De qualquer modo, ficava escutando e admirando aquelas mentes brilhantes. Mentes? Mas eu não era do corpo? Pois é, uma das coisas que aprendia aos poucos era que o professor de educação física que gostaria de me tornar precisaria de tantos estudos, tanto embasamento teórico, tanto conhecimento, como todos os outros mestres.

Bigode (matemática),  Vinicius (ciência), Graça (Geografia), Conceição (História), Sérgio (Teatro), Claudio Cretti (Artes), Noemi (Português), Zinia (Inglês), Clice (O.E) são os primeiros professores do ensino fundamental 2 de 1994 que me marcaram profundamente. Com eles aprendi que não sabia nada, mas tinha sempre um colega que sabia, pois não dava para construir uma equipe sozinho. Pelo menos isso eu aprendi na elaboração do trabalho de implementação do ensino fundamental 2.

Falando em saberes, quero destacar um deles para dar a dimensão do tempo que já passei nesta escola. Era 1994, e uma reunião quase inteira foi ocupada para a apresentação de algo revolucionário na busca e na troca de saberes: a INTERNET.

Ficamos todos ao redor de uma mesa, aguardando a conexão por linha discada, enquanto o ruído característico (os mais velhos lembram) acusava a tentativa. Após uns vinte minutos discando, nada apareceu na tela. Tivemos que nos contentar com os relatos do Vicente sobre  o site da NASA, de como era fantástico, etc. Hoje conto essa história aos meus filhos Pedro (14) e Marina (16), como se fôssemos homens da caverna em busca do fogo!

Pois é, foi na Escola da Vila que, desde pequenos, eles sempre estudaram. Pedro ainda teve o privilégio de frequentar o Espaço da Vila, Berçário de 0 a 3 anos. Confesso que tenho uma certa "inveja" deles... Como gostaria de ter uma escola assim na minha formação. Uma escola que cumpre o seu papel de formar estudantes, que olha com respeito a diversidade e a inclusão, que não restringe a sua atuação à sala de aula, que se compromete com as questões sociais, que orienta e educa seus alunos, suas famílias. E que, com uma significativa  parcela de minha contribuição, trata o corpo e o movimento numa perspectiva integrada, libertadora e autônoma. Obrigado, Escola da Vila, e parabéns pelos seus 35 anos!!!!


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