Sustos e arrepios pelas ondas do rádio

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Por Luíza Zaidan, Professora de teatro do Ensino Fundamental 1 e 2

Escolher um material para trabalhar nas aulas de teatro nunca é uma tarefa fácil. Os desejos são muitos, as opiniões entram em conflito: história de princesa, roteiro de filme americano, tragédia grega, poesia. Há quem queira contar os casos da própria família ou brincar de ser o autor.

“Do que vocês querem falar?” Surge um festival de mãos se erguendo, depois que a professora de teatro ataca com a clássica pergunta. Apesar de comum, esse questionamento está sempre no ar. Porque é dele que surge o impulso de realizar no teatro. O que lhe toca, individualmente? O que mobiliza esse grupo, em especial? Como unir, em um único texto, as necessidades e paixões de toda a turma? No primeiro semestre de 2015, a resposta veio em coro: “Queremos contar uma história de terror! ”

Sim, pode ter sido algum evento astronômico, influência dos filmes ou a mais pura coincidência. O fato é que todas as turmas de teatro – do Ensino Fundamental 1 e 2 – queriam trabalhar os tais contos de mistério. Ou, como dizem os alunos menores, “as histórias de susto”.

Tema escolhido, atacamos o desafio seguinte: contar histórias de medo usando nossos jogos, as ferramentas próprias da aula de teatro. Com os alunos mais velhos, fomos beber na fonte do mestre, levando para a cena contos de Edgar Alan Poe. Os mais novos mostraram interesse especial pelas lendas brasileiras e os arrepios que podem causar o galope de uma mula-sem-cabeça ou os uivos do lobisomem. Mas ainda não tínhamos completado nossa escolha.

Foram dois meses de pesquisa até encontrar o estímulo perfeito. Mais uma vez, a reposta veio dos alunos, que leram no livro Minha Querida Assombração, de Reginaldo Prandi, as palavras que procuravam para tirar o fôlego dos espectadores.

No livro, uma família paulistana viaja para uma fazenda, no interior do Estado. Durante as férias, além de entrar em contato com a cultura caipira, as crianças ficam fascinadas com os casos fantasmagóricos contados, a cada noite, pelos anfitriões do lugar.

Mas o que, naquelas histórias, fazia a turma ficar de cabelo em pé? Aos poucos, os mecanismos do suspense foram se revelando: sons assustadores; uma maneira especial de narrar, com pausas escolhidas a dedo; personagens com vozes roucas e misteriosas. O terror não estava tanto nos acontecimentos, mas na maneira de contá-los.

Logo, os recursos sonoros se mostraram um forte aliado. O galope de um animal feroz poderia vir de dois pedaços de madeira batidos contra o chão. Um instrumento musical lembraria o som da chuva que atravessa as cenas de mistério. Com os próprios corpos, os alunos começaram a trazer vendavais, portões enferrujados e fantasmas para dentro da sala de aula.

De olhos fechados, ouve-se um tanto e o resto se imagina. Voltamos no tempo para buscar, na linguagem das radionovelas, os recursos que serviriam às nossas histórias de terror. A ideia era abrir mão de cenários, figurinos e do tão estimulado sentido da visão, para mergulhar de vez no território do ouvir e contar uma narrativa usando apenas os sons. Além disso, seria uma ótima oportunidade de experimentar uma nova maneira de interpretar. A composição física das personagens, suas maneiras de andar e agir, os acontecimentos da história, tudo foi pesquisado para que, depois, cada detalhe fosse condensado na voz dos alunos/atores.

A estrutura em capítulos do livro de Reginaldo Prandi favoreceu um trabalho coletivo entre todas as turmas. A cada episódio da radionovela Contos da Meia-noite (título escolhido pelos alunos de teatro), um grupo do Fundamental 1 ou 2 narra uma história de terror que assombra o pessoal da Fazenda Velha.

Agora, chegou a hora de acompanhar o resultado desse trabalho. Junte uma boa dose de coragem com chá e bolo caipira de fubá. Reúna a família como se fazia antigamente, em volta dos antigos aparelhos de rádio e... bom proveito pro’cês! 

Radionovela Contos da Meia-noite

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Capítulo 1: O Poço do Destino – Turma de teatro do Fundamental 2.

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Capítulo 2: A Noiva da Figueira – Turma de teatro do Fundamental 1, Unidade Morumbi.

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Capítulo 3: A Volta da Mula-sem-cabeça – Turma de teatro do Fundamental 1, Unidade Butantã, período da manhã.

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Capítulo 4: O Baile do Caixeiro Viajante – Turma de teatro do Fundamental 1, Unidade Butantã, período da tarde.