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Três gerações

Por Emerson Marinheiro,
professor da extensão curricular da Unidade Butantã

A Vila faz 35 anos, mas, em minha família, a Vila já está presente há três gerações.

A matemática parece dizer que essa conta não bate, mas vou provar que isso é possível.

Como morador de um Butantã de 30 anos atrás, tive uma infância muito simples, gostosa, quase como no interior. Na minha casa, não faltava comida, mas também não houve mais nada de material que sobrasse. Meu pai era alfaiate e minha mãe, doméstica.

Como eu morava em frente à Escola da Vila, cresci vendo e vivendo a movimentação da escola, carros que paravam, pais que esperavam seus filhos no degrau em frente à minha porta. A Vila fazia parte da nossa rotina.

Um pouco mais tarde, as coisas apertaram financeiramente na minha casa e minha mãe resolveu conseguir um segundo emprego, e este foi justamente como auxiliar de limpeza na Escola da Vila, à noite.

Durante anos, minha mãe chegava do seu emprego diurno, vestia o uniforme e enfrentava outro turno na Vila, quando as crianças já tinham ido embora e a escola precisava ser limpa e arrumada para o dia seguinte. Eu era novo, mesmo assim entendia que era uma rotina pesada para a minha mãe e tinha ideia do esforço que ela fazia em nome do bem-estar da minha família.

Os anos passaram eu fui trabalhar em uma Fundação da USP. Com isso, pude cursar uma faculdade. Fui a segunda pessoa da minha família a ter um diploma de 3º grau. Meu primeiro diploma foi o de Publicitário, mas circunstâncias diversas fizeram com que eu nunca trabalhasse na área.

Desde a adolescência, a capoeira já ocupava uma parte enorme da minha vida e posso dizer, com tranquilidade, que Mestre Alcides, meu mestre de capoeira, foi mais do que uma inspiração: através do seu exemplo, não só como mestre, mas como educador, eu e outros jovens capoeiristas do grupo construímos um futuro de superação através da capoeira e, posteriormente, da Educação.

Conheci minha esposa com 27 anos e, pouco antes de me casar, decidi que era hora de mudar a minha vida e finalmente ouvir a minha vocação. Voltei para a faculdade e, dessa vez, para fazer o curso de Educação Física. Enquanto eu fazia minha 2ª faculdade e, em seguida, uma pós-graduação, me casei e tive meus dois filhos, e isso me aproximou ainda mais do mundo das escolas e da educação. Ao escolher a escola para o meu primeiro filho, descobri que a maioria das escolas era muito diferente do que buscávamos. Queríamos que o nosso filho estivesse em um ambiente seguro e acolhedor para poder brincar e se desenvolver. O problema é que, aparentemente, brincar não estava nos planos de boa parte das escolas de educação infantil que visitamos.

Após muita pesquisa, escolhemos uma escola confiável e amorosa, cujo foco era de fato o aspecto humano da educação e onde nosso filho passou sua primeira infância cercado de bons amigos e educadores queridos. Pouco tempo após meu filho ter entrado nessa escola, fui convidado a lá iniciar um trabalho com a capoeira e acabei me tornando professor de capoeira dessa escola e depois de tantas outras.

Alguns anos depois, era chegado o dia do nosso João fazer a transição para o ensino fundamental, e novas dúvidas e inseguranças surgiram. Visitamos todas as escolas da região, mas estávamos convictos de que o João deveria ir para uma determinada escola para onde todos seus amigos da educação infantil também seguiriam. Foi quando minha esposa me perguntou porque não havíamos visitado a Vila. Eu não soube responder. Às vezes, o que é mais óbvio parece nos passar desapercebido. Agendamos a vivência e ficamos surpresos ao nos darmos conta de que a Vila tinha todas as características da escola que desejávamos para o nosso filho. E, para o João, isso também ficou claro desde o primeiro momento. Durante a vivência, ele demonstrou traços de uma autonomia, de um desejo de viver coisas novas, com novos amigos, que nem mesmo nós conhecíamos.

E, com algum nível de insegurança nessa possibilidade que não havia sido considerada até então, decidimos apostar, e foi na Vila que João deu início à sua incrível jornada de descoberta do mundo das letras e dos números, acompanhado por uma professora experiente, firme e amorosa e em um espaço físico que para ele era mágico, porque, além de ser muito maior que o da sua escola anterior, era exatamente em frente à casa da sua avó!

Já nesse início, eu, como pai, educador e capoeirista, me animei com a perspectiva de acompanhar através das vivências do meu filho um novo método de aplicação da Capoeira apresentado pelo Mestre Marcos Mourão, mais conhecido na Vila como Marcola. Ele mesmo foi quem, com tanta generosidade, se dispôs a abrir as portas da sua sala de Capoeira para me apresentar seu método e sua experiência junto aos alunos do Fundamental I. E o resto vocês já sabem. Não apenas fui apresentado às salas de Capoeira da Vila como hoje trabalho nelas quase todas as tardes, como professor de Capoeira dessa criançada incrível, que inclui também o meu filho João, hoje no 3º ano do E.F.I

Quis o destino que a Vila estivesse presente na história de 3 gerações da minha família. E de diferentes formas e em diferentes papéis, nós 3 também fazemos parte da história da Vila.

Feliz 35 anos, Vila!


Se você também tem uma história com a Vila, mande para nós pelo email 35anos@vila.com.br