#35anosescoladavila

miruna

-

Nos pequenos detalhes

Por Miruna Genoino

Texto dedicado à Andréa Polo, atual orientadora da Educação Infantil

Como ex-aluna da Vila, irmã de aluno, e agora mãe de alunos da Vila, pude participar da maior parte (se não de todos) os aniversários da Vila, marcados de forma especial a cada 5 anos. Já escrevi a partir de diferentes pontos de vista e sempre apresentando um pedacinho do sentimento enorme que tenho por essa escola que já me deu tanto, que já me mostrou tanto, que já me fez viver tantas coisas.

Neste aniversário de 35 anos, porém, não queria falar mais como professora que é ex-aluna da escola, mas sim como professora em começo de carreira, de como foi o começo de tudo, o que marcou a minha entrada neste mundo complexo da profissão docente. Pois sim, foi na Vila. Eu tinha acabado de prestar vestibular para a faculdade de Pedagogia e, ao encontrar antigas professoras na formatura de 8ª série do meu irmão, recebi o convite para que, caso eu fosse aprovada, viesse fazer estágio na Vila. Quis, fui, e de lá nunca mais me afastei… Na verdade, eu nunca tinha me afastado, mas, desde aquele momento, eu começava uma nova forma de viver a Escola da Vila, agora pelo lado de dentro.

Depois de um estágio maravilhoso com a Angela Crescenzo, no ano seguinte fui contratada como professora auxiliar e me disseram que eu ia ficar com a professora Andréa Polo. "Ela é uma professora muito especial, com um olhar bem cuidadoso para as relações e para o brincar, acho que vai ser ótimo para você", foi o que me disseram. O que eu não podia imaginar é que eu seria colocada ao lado de alguém que iria mudar a minha vida para sempre.

Andréa me recebeu em sua sala de 1º ano com um sorriso do tamanho do mundo e uma paciência sem fim para trilhar uma parceria com uma menina que 19 anos ainda tão inexperiente no mundo da educação, mas com tantos sonhos, com tanta utopia. Pois bem, enquanto eu só queria pensar no grande, a cada dia em que íamos construindo nossa parceria, Andréa foi me mostrando o valor do pequeno, do simples, dos pequenos detalhes. O que eu não sabia era o quanto esses pequenos detalhes marcariam para sempre a minha carreira e a minha visão do que é uma educação não só construtivista, como libertadora.

Com Andréa, aprendi o cuidado de perguntar ao aluno qual o nome e o sobrenome que gostaria de que fosse colocado na lista de nomes, mesmo que isso significasse explicar aos pais a diferença entre o que vinha de casa e o desejo que a criança manifestava. Com ela, presenciei o cuidado e o carinho que podem existir na simples confecção de um cartaz com uma parlenda preferida, e nas palavras da rotina escritas demoradamente na lousa da classe. Ela me dava sinais delicados mostrando que talvez fosse hora mais de ouvir do que de falar (que grande ensinamento, meu Deus, para uma tagarela como eu!), e me ajudava a construir uma conversa carinhosa com os alunos ao abrir uma lancheira e compartilhar um pedacinho de casa com a classe.

Tudo o que Andréa me mostrou naqueles dias em que estivemos juntas eu carrego comigo como um pequeno tesouro. E, nesse pequeno tesouro, existe um muito especial, que veio por meio de um conselho, uma "chamada de atenção", uma conversa franca que eu nunca, jamais esqueci, nem esquecerei. Eu, ativa e agitada como sempre fui, estava sempre querendo ajudá-la, e ia me adiantando sempre que possível aos tantos afazeres que faziam parte desse emaranhado da sala de aula… Além disso, ela estava grávida, e isso aumentava o sentido de responsabilidade de que eu tinha que ajudar no que fosse preciso. Um dia, Andréa me chamou e disse:

"Mi, você tem sido uma parceira maravilhosa e mostra sempre uma eficiência incrível em tudo o que faz. Mas eu queria te dizer uma coisa… Você precisa ter o cuidado de não se adiantar sempre e acabar fazendo antes algo que as crianças mesmas podem fazer. Deixe que elas assumam a responsabilidade pela classe também, você vai ver que dá certo."

Foi incrível. Naquelas poucas palavras, Andréa me presenteou com um dos maiores valores presentes naquele que seria um princípio fundamental na minha relação com a educação, com a aprendizagem, com a sala de aula: buscar a autonomia, sempre, e acreditar nessa autonomia do aluno, lembrando-me dela sempre que necessário também. E ela tinha razão, tudo sempre dá certo quando a gente aposta por esse caminho…

Eu e ela vivemos muitas coisas juntas desde então. A mais forte delas foi o nascimento da Lorena, o bebê lindo que foi crescendo à medida que crescia nossa amizade também. Mas outras tantas vivências, também muito emocionantes, se sucederam... Lembro-me das lágrimas em seus olhos quando eu soube que ia assumir uma licença médica, sua emoção de me ver firme e segura em uma sala de aula, o carinho do nosso reencontro, quando voltei para a Vila depois de alguns anos fora do Brasil.

A Vila sempre vai representar muita coisa para mim, pois ela fez parte de praticamente todas as etapas da minha vida e da minha família. Mas, nestes 35 anos, quero homenagear a Vila por conseguir reunir tantas pessoas maravilhosas e competentes, que possibilitam que a gente descubra belezas profundas em momentos grandiosos, como no final da produção de uma escrita coletiva, mas também nos menores detalhes, como na confecção de uma lista de nomes. Os gestos de Andréa que eu presenciei sempre ficarão marcados aqui dentro de mim, como uma recordação maravilhosa daquele tempo juntas, quando eu aprendia a cada gesto, a cada fala, a cada olhar, o que era ser uma professora tão comprometida e tão símbolo do que é a Escola da Vila.

Parabéns Vila, parabéns a todos os que fazem a Vila ser o que é!


Se você também tem uma história com a Vila, mande para nós pelo email 35anos@vila.com.br