Admiração e orgulho! Alunos do Ensino Médio no Simpósio Interno da Vila.

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Por Sônia Barreira

Estávamos todos ali, ouvindo os alunos. Professores de Educação Infantil, Fundamental e Ensino Médio, orientadores, coordenadores, diretores. Vieram alguns pais também. Eles, os apresentadores, estavam nervosos, mas respiraram fundo e subiram ao palco.

O primeiro trabalho, nascido nas aulas de filosofia, foi fruto de uma andança pela cidade de São Paulo, cenário conhecido. No entanto, o conhecimento construído anteriormente, aliado à proposta didática, ofereceu aos alunos uma lente através da qual puderam, com sensibilidade e disponibilidade, olhar o que jamais haviam visto. Piaget dizia que o que se enxerga não é o que o olho vê, mas o que a mente pode apreender. E nossos alunos viram as contradições entre o espaço público e o espaço privado, a segregação social, as marcas do sistema produtivo no qual estamos inseridos determinando os passos rápidos e a falta de interlocução com o outro e com o espaço. Eles buscaram, nas referências teóricas, explicações para o que viam. Mas também captaram, através da literatura, possibilidades de entendimento da indiferença. Confessaram que nunca mais olhariam para a cidade da mesma maneira. Foram tocados e transformados pelo saber e pela experiência significativa. Foram aplaudidos porque, além de tudo, souberam comunicar a força desse processo a todos os seus educadores.

Escola da Vila

O segundo trabalho, nascido do projeto integrado de ciências da natureza, enterrou qualquer dúvida sobre a valorização dessa área em nosso currículo. Os alunos tentaram explicar, àquela plateia incrédula, como construíram um protótipo para captar energia das ondas do mar. E com a simplicidade de quem conhece muito, explicaram os modelos nos quais se inspiraram, os apoios que obtiveram para as novas e complexas fórmulas matemáticas com as quais operaram, os testes, os erros, as reformulações que o campo os obrigou a fazer, e os muitos dados que obtiveram. Pacientemente, nos explicaram o sentido dos dados, desconfiados de que parte da plateia não os entendia, voltaram e simplificaram ou repetiram as explicações técnicas, científicas e metodológicas. A plateia, estarrecida com a profundidade do experimento e a competência dos jovens alunos, ovacionou!

Escola da Vila

Em seguida, um subgrupo de alunos de 15 anos de idade nos trouxe a visão construída pelo mesmo trabalho de filosofia do primeiro grupo, agora da avenida Paulista como palco de manifestações variadas, ainda que habitada por transeuntes apressados e nem sempre abertos ao diálogo, à troca e à interação com os conteúdos dos cartazes, das pichações, dos movimentos, das proposições, e de tantos outros acontecimentos aos quais nossos investigadores se entregaram, abertos às contradições e aos antagonismos ideológicos coexistentes no mesmo espaço. Nossa plateia, já informada sobre as bases teóricas trabalhadas, pôde absorver melhor e com deleite as observações e os comentários dos meninos e meninas que se arriscaram a subir ao palco diante de 120 educadores de todos os segmentos. Admirados, aplaudimos!

O trabalho seguinte explorou outras linguagens e, com sensibilidade e criatividade, representou através de vídeo e de um rap a experiência vivida em um trabalho de campo optativo, numa realidade rural, com famílias camponesas, trabalhadores da terra, que abriram as portas de suas casas a esses jovens urbanos que, com respeito e consideração, procuraram absorver e entender vidas e trabalhos conhecidos apenas parcialmente através dos livros e jornais. Nos emocionaram com suas escolhas estéticas e poéticas aliadas às suas leituras e aos seus aprendizados. E, então, as palmas ecoaram no auditório da nossa escola e revelaram nossa admiração e nosso orgulho.

Escola da Vila

Finalmente, uma corajosa e competente aluna, sozinha, subiu ao palco para nos oferecer sua análise sobre um personagem conhecido de todos, o Coringa do Batman, para discutir as origens e a perversidade do mal. O ensaio dela buscava explorar os limites da formação e construção individual e o envolvimento da sociedade nesse processo, cuja questão central era: “Um indivíduo nasce com determinado comportamento e com um conjunto de valores ou a experiência social o torna assim?”. Para tanto, utilizou seus conhecimentos de filosofia, especificamente a epistemologia, a literatura e, ainda, buscou aporte teórico nas obras de Hannah Arendt com seus conceitos políticos sobre a banalização e a institucionalização do mal.

Escola da Vila

E, então, explodimos em aplausos, assovios, risos e cumprimentos, que não disfarçaram nem um pouco a satisfação em ver que os alunos dessa nossa querida Escola da Vila transitam com facilidade entre filosofia, história, química, matemática, artes, geografia, biologia, física, oratória e literatura, e recrutam de seus repertórios, construídos ano a ano desde a mais tenra infância até a mais tumultuada adolescência, para entenderem fenômenos complexos da realidade com sensibilidade, ética, precisão, respeito, solidariedade, clareza, e autonomia.

Então... fomos embora, realizados!