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Uma Vila de muitas experiências

Por Elvira Nadai

Meus dois filhos, Bruno e Mariana Nadai, foram alunos da Escola da Vila. Bruno, do pré à 5ª série,  como se falava entre 1987 e 1995. A Mari fez todo o ensino infantil e básico na escola. Entrou com três anos e saiu com dezoito, diretamente para a faculdade de jornalismo, em 2002. No painel de formatura dos alunos, uma das frases que definia sua passagem era: “18 anos de vida, 15 anos de Vila”. Bem legal, não é?

Eu e o Nadai escolhemos a Vila sabendo perfeitamente que tipo de formação escolar desejávamos para nossas crianças, e tínhamos confiança de que poderíamos encontrá-la ali: uma formação humanista, que estimulasse o companheirismo, a solidariedade entre as crianças e o respeito pelo outro. Que investisse, de fato, na curiosidade intelectual e na autonomia dos alunos, na confiança para perguntar e para polemizar. E, como todas as crianças, incluindo as minhas, perguntavam e polemizavam, confesso que, às vezes, cansava um pouco. Mas valeu a pena, afinal e ao final.

Tivemos dúvidas em relação ao ensino e à aprendizagem da moçada? É claro que tivemos: quando as crianças diziam que escreviam de seu jeito e eu, agoniada, achando que podiam aprender “errado”; quando nos atrapalhávamos com as atividades de Matemática e a gente sem poder ajudar diante daquelas tais de base 2, 3, 4  (ainda bem que a Iole Druck, professora do departamento de Matemática da USP veio em nosso socorro e entendemos mais ou menos as "bases" desconhecidas para a maioria dos pais); quando a primeira turma de 5ª série começou e nos dividimos entre nos solidarizar com os professores (e direção), suas novas dificuldades e desafios, e encontrar maneiras de controlar nossas próprias dúvidas e inseguranças com as “novidades” daquela fase. É certo que houve momentos em que nos sentimos meio "cobaias" naquele início.

Conflitos??? Vários, e de natureza e graus diversos... Qual comunidade não os tem, com a reunião de pessoas diferentes, com conhecimentos diversos, expectativas variadas, etc etc. Experimentamos conflitos quando nem todos os pais concordamos com a primeira expulsão de um aluno, medida que consideramos excessiva; quando Mari e amigas queriam permanecer na escola depois das aulas e a Sônia não concordava, pois elas distraiam os alunos da tarde, especialmente os meninos mais novos. De meu lado, achava que era muito bom os alunos gostarem da escola e de ficar na escola, ou quando eu me metia a achar que esse ou aquele conteúdo poderia ser aprofundado.

Mas quantos momentos deliciosos vivemos (e não vivenciamos, pois essa expressão é insuportável) nestes anos todos, ao percebermos o gosto em aprender das crianças, sua evolução e amadurecimento intelectual; ao participarmos de reuniões de pais e professores realmente produtivas e esclarecedoras. As festas juninas, os festivais de poesia do Fernando Pessoa, as atividades pedagógicas no dia a dia da escola e nos estudos do meio que nos faziam lamentar não termos tido acesso a uma escola assim no nosso tempo. Certo dia, Mari me levou a uma quase “epifania”: passeávamos em um sítio nas imediações de Cotia, e ela, ainda no segundo ou terceiro ano do fundamental, olhou para uma plantação vizinha e nos disse: “olhem, até parece um quadro de Van Gogh”. Demais, não?

Como mãe e jornalista da área de comunicação em educação, aproveitei cada momento em que meus filhos estiveram na Escola da Vila. Aprendi muito, me diverti um bocado, cobrei à beça. Fui uma “cricri” quase em tempo integral, segundo a Sônia. Tanto que ela, com seu humor peculiar (rsrsrsrs), me agraciou com o título de “mãe mais chata da escola”, na formatura de ensino fundamental da Mariana. Ganhei um lindo buquê de flores do campo, que adoro, e subi bem orgulhosa ao palco para recebê-lo. Era um elogio e um recado sobre a importância da participação da família na educação de seus filhos, o que a Sônia tratou de esclarecer logo, para alívio da plateia já meio incomodada. No final, rimos todos.