Jovens engajados em pesquisa científica

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Por Susane Lancman Sarfatti 

Desde que assisti ao filme chinês Nenhum a menos, penso na perfeição do título. Tenho curiosidade em saber se a tradução foi literal ou uma escolha da produtora brasileira. De qualquer forma, esse título expressa o lema de qualquer educador: “nenhum a menos”. Nenhum aluno a menos na escola, nenhum a menos na sala de aula, nenhum a menos no processo de ensino e aprendizagem.

O filme é poesia pura. Cada cena, cada ângulo da filmagem, e em cada silêncio sente-se a singela ação do diretor Zhang Yimou. A pobreza da zona rural chinesa, a precariedade da escola, a delicadeza do professor Gao reservando um único giz para cada dia letivo, e a obsessão da professora substituta para cumprir a missão a ela reservada de não deixar nenhum aluno partir da escola fazem desse filme uma obra-prima.

Nenhum a menos! Entretanto, me vi deixando alunos para trás nesse mês de novembro. Explico: a Escola da Vila fez uma parceria com o Instituto Butantan para que alunos do Ensino Médio participassem de pesquisas desenvolvidas nesse centro de excelência de pesquisa científica nas áreas de Biologia e Química, mas era preciso um processo seletivo.

Sem dúvida, uma oportunidade incrível. Mas, não era possível absorver todos os candidatos. O lema era: “alguns a menos”.

Claro que participar de processos seletivos é educativo. Podemos, inclusive, nos lembrar de todas as frases clichês: “a vida não se faz só de sucessos”, “saber perder é importante”, “é preciso aprender a cair e levantar”, “os fracassos moldam o caráter”. Mas, confesso, que como educadora sofri para escolher os alunos participantes.

Primeiramente, duas pesquisadoras foram às classes de 1º ano para apresentar as linhas gerais de suas pesquisas, que aceitavam pesquisadores aprendizes. Erika Zaher, na área de Biologia, dirigindo pesquisa relacionada a migrações de pássaros e borboletas, e Sonia Aparecida de Andrade, na área de Química, com vacina a partir da saliva de lagartas. Foi possível observar, desde os primeiros minutos, a atenção dos alunos, os olhos de alguns brilhando. Logo em seguida, a inscrição dos candidatos durante a hora do recreio.

Como selecionar? Decidimos com as pesquisadoras que as notas dos alunos na disciplina em questão seriam um dos critérios, e outro seria a escrita de um texto em que os alunos explicassem a razão de seus interesses em participar da pesquisa.

Recebi mensagens no Facebook e visitas à minha sala para saber mais como escrever o texto. A ansiedade era visível, tanto antes da entrega quanto depois, quando os alunos queriam saber do resultado.

Lemos, eu e Fermin, todos os textos. A cada leitura a decisão se tornava mais penosa. Conhecendo a história de cada um deles, ficava difícil não avaliar o impacto da escolha. Passamos os textos às pesquisadoras para que elas pudessem nos ajudar na seleção. Decisão acertada, porque elas puderam verificar se o interesse do aluno estava alinhado com o trabalho de pesquisa que seria realizado e, desta forma, serem mais objetivas.

Agora, nossos alunos selecionados estão trabalhando quatro horas semanais no Instituto Butantan como pesquisadores-aprendizes, e acreditamos que essa experiência venha a contribuir no processo de formação de cada um deles.

Agradeço imensamente à Erika, que trouxe a ideia para Escola, e à Sonia, que me receberam no Instituto Butantan para explicar o projeto. Esperamos que essa parceria dê muitos frutos, e que tantos outros alunos possam participar desse projeto.

Em breve, espero que os alunos-pequisadores escrevam no blog da Escola nos contando suas vivências.