#35anosescoladavila

Andréa Polo
Lena, Andréa e Lorena Polo (lançamento do Livro da Família/Lena professora da minha filha)

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Das experiências e significados de aprender na ESCOLA DA VILA

Por Andréa Polo 

Pensei muito no que escrever em homenagem à ESCOLA DA VILA. Retomei fatos marcantes, pessoas incríveis, preciosos livros indicados e senti meu coração disparar novamente quando me lembrei da primeira reunião de pais, do meu primeiro curso no Centro de Formação e dos alunos que vi crescendo até voltarem com seus filhos para a Escola, já como pais e mães!

Quase vinte anos depois, lembrei detalhadamente um fato que marcou meu percurso como educadora nessa instituição.

A Escola da Vila era uma mocinha de quinze anos quando ingressei como professora auxiliar numa das salas de 3º ano. Lena, a professora titular, me acolheu cheia de responsabilidades, garantindo que me aproximasse rapidamente dos projetos da série e especialmente do “Vilês” (assuntos e termos específicos de quem trabalha na Escola da Vila). Lembro-me claramente de suas explicações rebuscadas, cheias de detalhes sobre as tão apaixonantes leituras realizadas em voz alta com a classe toda. Diariamente, no mesmo horário, logo depois do parque, as crianças voltavam para a sala e abriam seus livros para acompanhar as narrativas encantadoras, com os tons, sabores e vozes que Lena era mestra em produzir. Tatiana Belinky e seu Transplante de menina iluminavam minhas tardes como se eu fosse uma das alunas da professora! E era! Sem dar maiores explicações, eu parava tudo o que ela me pedia para fazer pelo prazer e pela paixão que eram reveladas a mim por uma profunda conhecedora do “poder” dos livros. Eu tinha certeza de que começava a ser formada por alguém que ensinava cotidianamente um dos princípios mais valorosos da Escola: a formação de uma comunidade leitora. Das tantas vivências com os livros, em casa, nas escolas por onde passei – e que fique bem claro: sempre amei ler! –, nunca tinha vivido uma experiência tão intensa e marcante, que tivesse me transpassado completamente a ponto de desejar reler tudo o que já tinha feito de forma “solitária”, agora em comunidade!

Percebi logo a profundidade que Lena alcançava com suas intervenções e “gelei”, depois de uma semana, quando ela precisou fazer um exame e me disse para encaminhar a retomada da lição de casa porque talvez se atrasasse. Parecia tão simples... A proposta era pesquisar sobre a vida do Pelé e do Villa Lobos. O 3º ano estava estudando algumas biografias para fazer o Livro da Família e eu, naquele dia, deveria retomar a lição de casa levantando semelhanças entre os textos dos biografados. Comecei conversando com as crianças, expondo “tudo” o que pensava saber sobre “favorecer boas situações de aprendizagem”, até que Lena chegou: “Andréa, você quer continuar, ou quer que eu assuma?”. Claro que respondi que preferia que ela assumisse, pois ainda não conseguia “me ver” dando uma aula para a professora Lena assistir! Ela, então, assumiu as orientações.

Absolutamente envergonhada, comparando seus encaminhamentos com o que eu tinha feito em quinze minutos de sua ausência, percebi claramente o tanto que “aquela” novata precisava aprender, o quanto “ela” achava que sabia sobre “provocar” os alunos! Que privilégio conviver com alguém que generosamente me ensinava a construir os mais fortes significados da docência com seus exemplos diários.

Eu tinha lido sobre Emilia Ferreiro, Piaget, Vygotsky, mas, ali, diante de uma educadora sem par, as coisas começaram a fazer todo o sentido. E o melhor disso tudo é ver que esse movimento de aprender com os mais velhos continua fazendo parte do que a Vila tem de melhor! Muito tempo já se passou e posso garantir que, em cada canto da escola, há ciclos de admiração e consciência dos professores mais jovens para com seus tutores, parceiros, duplas que desfrutam desse momento privilegiado de formação contínua. Penso que isso só acontece porque todos sabem da responsabilidade que possuem quando esticam a mão para um colega e dizem: “Vamos lá, porque você terá muito para aprender e ensinar, e eu, por mais tempo de casa que possua, também!”.