Unidade Granja Viana - os desafios e as delícias de uma implantação

-

Por Vania Marincek 

Implantar uma escola é uma tarefa repleta de desafios. Desde a concepção e a organização do espaço em função da proposta pedagógica, passando pelo funcionamento e chegando ao dia a dia da sala de aula, tudo precisa ser pensado e planejado em detalhes.

Estamos no terceiro ano da implantação da unidade da Granja Viana e, nesse período, já podemos ver que construímos uma escola cheia de vida, com alunos instigados a querer saber sempre mais e com todos, alunos, professores e pais, sendo todo o grupo muito implicado com tudo o que acontece na escola. A sintonia é tanta que parece que a escola já existe há muitos anos.

Para chegar a isso em tão pouco tempo, a experiência acumulada pela Escola da Vila nesses 36 anos de existência tem contado muito. Sabemos como uma escola funciona, sabemos como fazê-la funcionar. Temos um projeto pedagógico sólido, que se reconstrói cotidianamente pelo trabalho de todos, um currículo consistente que alicerça os fazeres de professores e alunos, e temos como princípio promover e apoiar a formação contínua de nossos professores. Mas sabemos também que a escola se constrói a cada dia, e ganha sentido à medida que se constitui como comunidade de todos aqueles que dela participam.

Na Granja, temos buscado construir esse sentido em cada uma de nossas ações.

Nas situações em sala de aula, voltadas para a aprendizagem dos alunos, e que também contam com a participação, direta ou indireta, dos pais; na organização de eventos culturais pensados com cuidado e carinho para a participação de toda a família; nas reuniões de pais, que buscam apresentar a essas famílias um pouquinho de nosso trabalho; nos momentos cotidianos de entrada e saída, em que pais e professores trocam notícias; nas conversas e entrevistas individuais, que vão dando a conhecer aos pais o nosso olhar para as aprendizagens e a nossa forma de trabalhar, e de estabelecer, para cada um de nossos alunos, parcerias ricas e produtivas com as famílias.

Nossa experiência de tantos anos, construída com as duas primeiras unidades, contribuiu para que os alunos da Unidade Granja pudessem começar sua nova vida escolar imersos na cultura da Escola da Vila. O currículo, o material didático, a forma, bastante peculiar, de encaminhar o trabalho em sala de aula, e de gerir de forma respeitosa as relações entre alunos-alunos e professor-aluno se fizeram presentes desde o primeiro dia de aula da nova unidade.

Essa mesma experiência contribuiu para muito mais do que isso. Pudemos introduzir na unidade da Granja inovações que já vínhamos gestando e que vêm ganhando forma e substância ao serem implantadas. Propostas que reforçam nossas escolhas de trabalho pautadas nos valores que são a referência da Escola da Vila: autonomia, cooperação e conhecimento.

No Fundamental 1, as salas de aula, construídas com paredes removíveis, possibilitaram a organização da rotina prevendo momentos durante a semana em que alunos de séries diferentes trabalham juntos. Nesses momentos, duas salas se transformam em uma única, ampla, que comporta diversos agrupamentos, previamente pensados pelas professoras de forma a garantir a troca entre os alunos e o avanço de cada um. Essa organização, implantada no início do ano passado, possibilitou um ambiente de trabalho produtivo em que parcerias preciosas e inesperadas se formaram e contribuíram para as aprendizagens.

Também, desde o ano passado, introduzimos na rotina semanal das turmas de 4º e 5º ano momentos destinados a promover as aprendizagens de base das áreas de Matemática e Práticas de Linguagem. Nesses, os alunos dessas duas turmas são organizados em pequenos grupos de trabalho por conteúdos diferentes, sempre relativos a aspectos em que precisam avançar na compreensão.

Já no Fundamental 2, segmento que começou a ser implantado este ano, também há na grade um horário em que alunos de 6º e 7º ano se organizam, em grupos, por projetos que integram as áreas de Práticas de Linguagem e Ciências Humanas, ou Matemática e Ciências Naturais – as tutorias. Nessas aulas, o grupo de alunos conta sempre com o apoio das professoras de área e da professora-estagiária, o que garante um atendimento bem próximo a cada grupo. Essa organização foi pensada para não fragmentar o conteúdo e para apresentá-lo aos alunos da forma como é na vida real: situações reais que entrelaçam as diferentes áreas de conhecimento.

No primeiro trimestre na tutoria de Práticas de Linguagem e Ciências Humanas, os alunos escolheram para investigar temas bastante distintos e diversos: moda no século XIX; os uniformes e a moda; capoeira; futebol; as grandes invenções (avião); arte e entretenimento; o youtube. Essas pesquisas já estão sendo finalizadas.

Na tutoria de Matemática e Ciências Naturais, as investigações giraram em torno dos seguintes temas: as viagens espaciais, os eclipses, as informações do sistema solar e o lançamento de foguetes. Os resultados desse trabalho puderam ser conhecidos por toda a escola no evento do último sábado, dia 30 de abril, quando os pais, os alunos e a professora lançaram o foguete construído em sala de aula, e tiveram a chance de visitar todos os trabalhos que foram organizados pelos próprios alunos, na forma de exposição.

foguete foguete

Mas a mudança mais significativa que está acontecendo na implantação do Fundamental 2 diz respeito ao uso da tecnologia para o apoio ao trabalho em sala de aula. Iniciamos 2016 com as turmas de 6º e 7º ano, e todo o material didático está organizado em forma digital. Cada aluno tem seu computador e trabalha o tempo todo com ele, pois grande parte das propostas acontecem em meio digital. Para os alunos, esse foi um novo desafio. Havia muito a aprender, desde o cuidado com seu equipamento, passando por dominar as possibilidades de uso da agenda eletrônica, do controle das lições e das anotações de aula... As aulas das primeiras semanas foram planejadas para que aprendessem também os procedimentos de uso desse novo material. Como previmos, em pouco tempo, a grande maioria dos alunos se apropriou desses procedimentos, e essa aprendizagem seguirá acontecendo com o tempo, à medida que os estudantes forem ganhando cada vez mais familiaridade com a proposta e o material. Do ponto de vista das aprendizagens, já podemos afirmar que o material digital apresenta muito mais possibilidades de troca entre os alunos, de devolutivas específicas de trabalhos e de organização do material produzido por eles, do que a forma tradicional de organização em livros e cadernos.

Importante ressaltar que, nesse processo de mudança, o desafio que nos colocamos foi o de abraçar o digital, com todas as suas múltiplas possibilidades, muitas, sequer sonhadas nem imaginadas antes, sem deixar de lado as tecnologias tradicionais. Em nossas propostas em sala de aula, coexistem computadores, lápis, papel, lousa e todo e qualquer tipo de recurso que possibilite que os alunos aprendam sempre e cada vez melhor. Esse é um princípio que norteia o trabalho em toda a Escola e não só nessa situação específica do Fundamental 2.

Melhor do que contar ou saber sobre o que tem acontecido nesse início da nova unidade é poder participar disso tudo vivendo a cada dia a delícia de fazer parte de um projeto consistente, e que, por isso mesmo, pode se transformar e buscar novas respostas aos desafios que se colocam.