“Ninguém é tão grande que não possa aprender nem tão pequeno que não possa ensinar”

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Por Giulia Guarrera Zanetti - aluna do 1º ano do Ensino Médio

Por que os orientadores nos propõem perdermos três dias de escola, 15 aulas, para viajar com o 6°ano para o trabalho de campo deles?

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Bom, nessa experiência única, nessa aventura da qual pude sentir o gosto nos 3 dias que passei em Brotas com essas crianças, enxerguei que sim, a aprendizagem em relação aos conteúdos realmente é deles, mas o trabalho é de todos nós.

Os acampamentos na escola são atividades pelas quais as crianças, inclusive eu, aluna da escola há 13 anos, passei. Ficam ansiosas, não querem perder por nada, afinal são as primeiras viagens com os amigos sem os pais, em que a independência grita alto. Passando essa fase, chegamos aos trabalhos de campo, nos quais, além de viajarem e praticarem atividades de lazer, vão para estudar, abrindo experiências para fora das salas de aula. Essas viagens se iniciam no 6º ano.

Pude presenciar tudo isso. “Mas não vai ter piscina agora?”. “Tem que anotar na apostila?”. “Isso é importante?”. “Onde tá minha apostila?”, lembrando meus momentos dessa passagem do lazer ao lazer e trabalho. Sim, já havia passado por tudo isso, mas também tive experiências novas e únicas. Ser colocada em um quarto no qual não conhecia ninguém. Entrar dentro do quarto 210 e todas as meninas ficarem felizes, mas eu ainda não saber o nome de todas é um tanto quanto bem desafiador. Saber o que falar, em que ajudar, são coisas que tive que aprender logo nos primeiros minutos.

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As fofocas, futriquinhas de menina (como diz a Ângela, desde a minha época), as brigas de “namorico”, entre outras, foram situações, além das de trabalho, que me fizeram voltar no tempo e ajudar as crianças, dando conselhos que, na idade delas, também não fazia ideia, mas após 4 anos acabei aprendendo com os conflitos da vida. Mostrava pra elas que não, a vida não ia acabar porque tinha ficado no quarto “errado” ou porque tinha terminado com o namorado, mas sim eram obstáculos que nos faziam fortes e que todo mundo, inclusive eu, havia passado por isso e estava ali, “superada” e feliz.

5Assim, fui criando durante essa viagem relações que eu nunca imaginaria ter, me abriu portas para novas relações com crianças que cruzava no bebedouro ou no banheiro como desconhecidos. No entanto, se você, meu ouvinte, gosta de tricotar sabe que mais do que linha e agulha é necessário paciência. Além disso, a grande graça está em fazer a peça e não simplesmente em vê-la pronta. 6Quem quer apenas o produto, é mais fácil e rápido comprá-lo em uma loja, mas não existem lojas de relações, de amizades, de confiança. Então, para adquirir isso, você terá de seguir a trilha mais árdua e severa. Se é para conhecer, que seja por completo. É preciso uma vagarosa viagem para sentir essa relação, essa amizade e, junto, essa confiança crescer e se impregnar em cada parte de seu ser.

7Com isso, tive que partir para essa trilha dessa viagem. As brincadeiras que realizamos, desde futebol de sabão, guerra na piscina e no lago, até gritarias no quarto ou missões noturnas e as conversas que tivemos, desde dúvidas conteudísticas de CH ou CN, até confissões antes de dormir ou no jantar, fortaleceram uma amizade, sim posso chamar assim e irei, que nunca mais quero perder. 8não, não pense que por eu ser menina as amizades a que me refiro são apenas com o mesmo sexo, criei amizades com os meninos, em especial, do quarto do Guilherme (outro monitor do ensino médio) que são tão fortes e verdadeiras quanto.

Fim da viagem, continuação de amizades. Com destaque ao 6º ano A, que vejo e com quem convivo todos os dias, os abraços que recebo, os beijos, os gritos de “oi”, as brincadeiras que ainda fazemos e as conversas que ainda temos, não têm preço, não há preço que pague. Cada dia me sinto mais parte deles e eles de mim. E aprendi que não importa a diferença de idade, não importa se sou 4 ou 5 anos mais velha que eles, conseguimos estabelecer essa eterna relação. 9Claro, não irei negar que, com meus amigos da minha idade, fazemos também outras atividades, temos conversas também de outros assuntos que vão surgindo ao logo do crescimento, aliás, que irão surgir para essas crianças mais para frente também. No entanto, com eles além de conversamos e fazermos coisas que me levam de volta ao passado, também realizamos atividades que são eternas, que podem ser feitas independente das idades.

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Além de tudo isso, meu caro, gostaria de deixar aqui uma dica que essa aventura com essas crianças me ensinou. Não importa que eu volte ao mesmo lugar 4 anos depois, relembre todo o conteúdo de CH e CN e reviva situações cotidianas, os momentos que vivi em Brotas no Peraltas quando estava no 6º ano não irão nunca mais voltar e esses que vivi como monitora do ensino médio também se fundirão em eternas memórias. É… O tempo passa… E muito rápido. É necessário que aproveitemos cada segundo porque o agora já é passado e, do passado, só guardamos lembranças em nosso ser. Hoje essas crianças estão refletidas em meu ser. E sempre estarão…

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