Ciúme de irmão! Só quando nasce?

Por Fernanda Flores

Ano após ano, muitas são as mães grávidas em nossa escola, o que significa uma especial atenção, e porque não dizer, tensão relacionada à chegada do bebê-irmão. Uma nova configuração familiar vai se instaurando ao longo da gestação e também certo desassossego na vida do mais velho, até então sem rival. Preocupamo-nos com o ciúme, a regressão, sobre como o filho mais velho receberá o menor, entre tantas outras coisas.

Enfim, várias perguntas passam a (pré) ocupar as famílias. Mas queria trazer aqui o lado das crianças. Escolhi três falas de alunos de nossa escola que denotam a complexa teia de sentimentos que envolvem os irmãos. Um aos 3 anos, prestes a receber seu irmão, outro aos 9 anos, irmão mais novo (que já foi bebê-irmão um dia desses...) e outro ainda aos 13, recebendo o irmão de um segundo casamento da mãe.

Aos 3: “Quem vai ser a SUA mãe?”, essa foi a pergunta desse pequeno dirigida ao barrigão da mãe de 9 meses... Como o mundo gira em torno dele, nem é concebível que duas crianças tenham a mesma mãe! É isso que está em jogo, passar a ter de olhar para o outro, reconhecer que os interesses dos pais e demais familiares se ampliam para mais alguém.  Essa mudança gera mudança, é a isso que devemos estar atentos, novas demandas surgirão, relacionadas à necessidade de o mais velho afirmar seu lugar na família, fazer valer sua importância.

Aos 9: Na minha vida inteira, meu irmão, vai fazer TUDO primeiro do que eu”... O irmão mais novo, conforme cresce, passa a perceber que há muitas coisas que são inauguradas na família pelo irmão mais velho: os filmes “com mais emoção”, a primeira vez em acampamento, em festas, em parques que definem altura para brinquedos entre tantos outros. Os irmãos mais novos têm sim muito ciúme ao perceberem que essa é uma situação real. E deve mesmo ser assim, a idade e as diferenças que a mesma proporciona não podem ser diminuídas ou desconsideradas, em respeito a ambos. Mas convenhamos, quem tem irmão mais velho há de ter vivido a raiva de não ter podido fazer algo que o irmão já podia...

Aos 13: Na minha casa NÃO pode ser, tem o bebê, não pode fazer barulho, não pode tocar telefone, não pode som alto, tipo, minha mãe só pensa nisso.” Ganhar um novo irmão não é simples em qualquer idade, muitas vezes achamos que para um jovem pré-adolescente cheio de novas ocupações em sua vida, um irmão seria tirado de letra, mas o cenário familiar se transforma, e também os lugares e as certezas nas relações familiares são, mais uma vez, revisitados e transformados e, como toda mudança, há períodos conturbados e outros de maior acomodação.

Todas essas falas nos permitem inferir o turbilhão de sentimentos pelos quais as crianças, em todas as idades, passam ao receberem a notícia de que ganharão mais um ser em sua família.

E Pais, o que podemos fazer?

Além de mais jogo de cintura, mil e um desdobramentos para fazer todos sentirem-se igualmente olhados (tarefa para a qual, aos olhos de nossos filhos, creio que falharemos), vale a escuta, sentir-se legitimado em sua raiva em seu ciúme, mesmo quando teremos de dizer não. Segundo Françoise Dolto, importante psicanalista francesa, a atitude que ajuda é ouvir as reclamações e tristezas da criança e dizer-lhe que tem razão, que as desigualdades são bem duras de suportar e que você a compreende. Se você mesmo (pai ou mãe), foi criança com um irmão ou uma irmã, pode dizer que conheceu a mesma situação penosa e que agora, que se tornaram adultos, a diferença deixou de existir.

Bom, mas há o maravilhoso lado A de se ter irmãos... para esse, um próximo texto!