Quando o próprio espaço favorece a interação e a aprendizagem

Por Amanda Bertuletti e Maria Fernanda Veloso 

Planejar situações de aprendizagem que promovam avanços na aquisição de conhecimento de nossos alunos é um desafio que sempre buscamos na Escola da Vila. Por esse motivo, estamos procurando constantemente novas formas de trabalho e de organização dos estudantes para potencializar parcerias e promover diferentes descobertas.

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Na Unidade Granja Viana, a própria disposição das salas, com paredes que se abrem, favorece as propostas inovadoras e de interação entre alunos de distintos anos. Assim, as turmas das séries subsequentes são dispostas em salas vizinhas que se transformam em uma única sala, facilitando o planejamento de situações em que os alunos das duas turmas são colocados para trabalhar juntos, colaborando uns com os outros.

Já estamos quase chegando ao final do 1º semestre e percebemos nas crianças muitos avanços. Para os estudantes do 1º ano, foi um tanto desafiador apropriar-se do “NOVO”: novo espaço, novos amigos, novos conteúdos, e nada melhor do que enfrentar esses desafios contando com a parceria de quem já passou por isso: a turma do 2º ano.

Por isso e, sobretudo, porque sabemos que as crianças de uma mesma turma não aprendem os mesmos conteúdos da mesma forma e concomitantemente, que organizamos, durante todo o semestre, momentos nos quais as duas turmas eram convidadas a trabalharem juntas. Com isso, pudemos contribuir para que todos encontrassem parcerias mais ajustadas e avançassem.

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Para que a interação acontecesse, foi necessária nossa intervenção, organizando o espaço e as atividades para que os alunos se relacionassem, estabelecessem novos vínculos para além dos já criados com os amigos de classe, e aprendessem uns com os outros. Acreditamos que alunos e professores ganham em muitos aspectos quando a interação entre turmas é planejada, tanto para promoção de situações nas quais a brincadeira rege as relações quanto naquelas em que outros desafios, mais acadêmicos, colocam-se.

Pensando nesses avanços, situações são planejadas semanalmente com a intenção de promover a troca de saberes, momento em que as crianças precisam explicitar suas vontades e também considerar o outro. Aprendem sobre o convívio social e sobre a cooperação intelectual, quando, juntos e pela troca, chegam a novos conhecimentos.

Organizamos a rotina das semanas incluindo dois horários para que as duas turmas trabalhassem juntas: os cantos de entrada e os cantos de jogos, além de momentos de brincadeiras coletivas no parque.

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Nos momentos de jogos, os estudantes interagem com diferentes jogos matemáticos, que são compartilhados com eles previamente e colocados à disposição para serem escolhidos. O próprio trabalho de escolha -  feito em roda com todos eles juntos, um dia antes da oficina - já possibilita a discussão de conteúdos matemáticos, como quando precisam dividir o número de alunos pelo número de propostas e o fazem discutindo e justificando seus cálculos para os amigos.

Jogar dados com muitas regras diferentes, como: trilhas, batalha e bingo, configuram-se como situações que envolvem muitos desafios para as crianças. Conversar com os colegas e com as professoras sobre como jogam, como fazem para ganhar, para contar os pontos e como podem experimentar outras formas de jogar, são, igualmente, situações envolventes e instigantes que favorecem avanços na compreensão das relações matemáticas existentes dentro de cada proposta de jogo.

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Retratamos aqui uma fala desses momentos de discussão.

Professora: Amanhã, teremos 6 opções de jogos: trilha, batalha dos dados, dobro, dominó, fecha-caixa e escopa de 10. Em nossa sala, temos 22 alunos. Qual será o número de participantes por jogo? Como podemos dividir?

Aluno A: Podemos colocar 10 por inscrição.

Aluno B: Não, porque não temos 70 alunos.

Professora: Então, como podemos dividir?

Aluno C: Vamos dividir 5 para cada jogo.

Professora: Como posso registrar?

Aluno D: Anota 5+5+5+5+5 não é possível, porque já deu 25. Tenta com 3.

Professora: Tudo bem, vou anotar 3+3+3+3+3+3+3, certo?

Alunos: Não, irá faltar 1 criança.

Professora: Então, como faremos?

Aluno A: Você pode deixar um jogo com 4 crianças.

Esse é apenas um relato de muitos que surgiram nesse período.

Neste sentido, para além das ações nos cantos, separamos um espaço na rotina para contextualizar e problematizar situações que surgiram durante os jogos, isto é, momentos em que as crianças colocam em cheque tudo que já sabem, validando ou discordando da resposta do amigo, expondo suas opiniões e realizando reflexões sobre as contribuições dos colegas.

Para que aconteçam momentos de discussão, nos quais todo saber é considerado, há sempre a necessidade de uma intervenção: nosso papel, como professoras, não é o de validar ou invalidar as respostas, mas sim o de mediar, provocar conflitos e desafios. É por meio dessas desestabilizações que as crianças buscam novas estratégias para avançar e ressignificar o conhecimento.

As atividades conjuntas têm contribuindo de forma significativa para que os alunos das duas turmas se conheçam, estreitem vínculos e também aprendam mais.