Youtube, Youtubers e a Escola

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Por Helena Mendonça

Recentemente tivemos uma visita na escola de um youtuber famoso entre os jovens. Essa visita causou um furor entre os alunos que estavam em suas salas e foi uma situação que mobilizou muita gente: as crianças e os jovens que queriam autógrafos e fotos com o famoso, e os adultos que, em sua maioria, não conheciam aquela pessoa e se questionavam sobre o motivo de tal sucesso.

Entendemos que a principal função do Youtube, atualmente, é a de entretenimento. Reconhecemos também que existem alguns canais muito bons, com materiais interessantíssimos para serem usados em situações de aprendizagem planejadas na escola ou fora dela, em situações de estudos autônomos.

Há pouco, um grupo de alunos de 8º ano fez uma pesquisa sobre o uso do Youtube com os 94 alunos de 6º, 7º e 8º anos, como parte de um trabalho proposto pela área de matemática. Nessa pesquisa, os alunos constataram o seguinte:

1. Praticamente todos os alunos da escola acessam o Youtube, e quase metade do grupo acessa o site todos os dias.

2. 65% do grupo usa o serviço para entretenimento.

Trata-se de uma pesquisa escolar, breve, a partir de um grupo pequeno de alunos, mas nos ajuda a perceber quanto e como nossos alunos têm usado o serviço. Existem pesquisas bastante interessantes do CETIC – Centro Regional para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (por exemplo: pesquisa TIC Educação e pesquisa TIC Kids Online) sobre o uso de tecnologias em escolas para fins educacionais. Na pesquisa chamada Kids Online, que entrevistou, nos anos de 2014 e 2015, mais de 2000 crianças e jovens, de 9 a 17 anos, de 129 municípios brasileiros, metade dos respondentes citou como atividade regular o acesso ao Youtube. Não há um indicador de que tipo de material acessam, mas é importante saber que as crianças e jovens entram e acessam o site, e que esse uso vem crescendo ao longo dos últimos anos.

Sabendo disso, como poderia então se dar a atuação da escola com relação a esse serviço que tem se tornado tão popular entre os jovens? Ultimamente, temos observado que há muitas crianças com canais ativos no Youtube. São canais de vídeos que registram situações de jogo, passo a passo sobre determinada ferramenta ou recurso tecnológico, vídeos que contam histórias do cotidiano, que dão dicas sobre algum assunto de interesse dos jovens etc. Essa atividade acaba não sendo, de alguma forma, levada em consideração na escola e vemos que poucas instituições apoiam tal iniciativa das crianças e dos jovens. Há várias possibilidades de apoiar e orientar os alunos para que eles possam aprender a criar vídeos de qualidade e a refletir sobre o tipo de conteúdo que podem criar e publicar. As orientações da escola podem ser dadas desde questões mais técnicas, de criação de vídeo, até a análise dos conteúdos publicados, dos critérios de qualidade, do objetivo do canal, dentre outros temas. Os próprios alunos conhecem muitas ferramentas e têm acesso a modelos que podem ser analisados a partir de critérios de qualidade diversos. Hoje, na Vila, as produções escolares cujo produto final seja organizado em vídeo estão no canal escoladavila_alunos. Estamos criando também outros canais, já que, inclusive, a produção de materiais em vídeo tem crescido muito, tanto para uso docente quanto a partir das criações dos alunos.

É muito importante, então, que a escola abra espaço para que os alunos explorem tais ferramentas e reflitam sobre os diversos temas que envolvem a publicação na internet, sobre a relação deles com o que é público e com o que é privado, com o tipo de conteúdo a que tem acesso na rede, no Youtube e em qualquer outro serviço e, principalmente, sobre a criação de conteúdos de qualidade. A estratégia de tornar-se produtor daquilo que se costuma consumir, já se mostrou muito potente para a análise crítica do consumo de toda sorte de materiais – revistas, aplicativos, crônicas, contos, ilustrações, jogos, etc. Esse também deve ser um dos papéis da escola em relação às tecnologias digitais.