Aventuras no México - Expedição Wallacea 2016

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Por  Celina M. M. Moraes

A Operation Wallacea é uma organização britânica que, desde 1995, realiza programas de pesquisa e conservação da biodiversidade em vários lugares do mundo. Esses programas envolvem pesquisadores de várias instituições científicas e estudantes de ensino médio, graduação e pós-graduação, que atuam como voluntários na coleta de dados, apoiando o desenvolvimento das pesquisas. Os levantamentos desses dados permitem conhecer a biodiversidade e a função ecológica dos ecossistemas estudados, monitorar mudanças na biodiversidade e/ou na situação socioeconômica das populações humanas envolvidas, e ainda estabelecer e monitorar a eficiência de planos de manejo nos locais estudados. As pesquisas realizadas resultam em muitas publicações em revistas científicas, dissertações e teses, assim como em relatórios fornecidos aos órgãos que efetivamente realizam o manejo das áreas de conservação abarcadas nos diferentes programas.

Em nossa primeira viagem com essa organização, o destino escolhido foi o México, e incluiu uma semanana Reserva de Calakmul, no extremo sul, quase fronteira com a Guatemala, e uma segunda semana no litoral, na cidade de Akumal, uma área marinha protegida por conta de seus incríveis recifes de corais e da presença de tartarugas.

Em Calakmul, passamos uma semana acampados junto à base de pesquisa, no meio da reserva. Todos os dias, íamos para campo (isso quer dizer que fazíamos trilhas no meio da floresta), acompanhados dos pesquisadores, e pudemos participar de muitos levantamentos diferentes: sobre borboletas, morcegos, aves, répteis e anfíbios. Apesar de avistarmos macacos, quatis e cotias eventualmente, os dados sobre mamíferos foram levantados de forma indireta a partir de rastros, fezes e armadilhas de câmeras. Também tivemos emocionantes atividades noturnas, como os levantamentos com morcegos (nosso grupo detém o recorde de captura de 85 morcegos em uma só noite!).

Do carregamento dos equipamentos ao registro nas planilhas em campo, quase tudo era feito pelos alunos. A captura dos animais era tarefa dos pesquisadores, com exceção das borboletas, que todos puderam ajudar a retirar das armadilhas depois de vencido nosso medo de esmagá-las acidentalmente! Não ficávamos com nenhum animal, apenas coletávamos os dados e depois os soltávamos. Todos os participantes ajudavam na identificação, pesagem, medição e marcação, de acordo com as informações solicitadas em cada pesquisa, e as informações eram sempre supervisionadas e eventualmente corrigidas pelos pesquisadores experientes, pois os dados são reais e requerem rigor em sua coleta. Também tínhamos palestras diárias sobre ecologia e conservação.

Em um dos dias, visitamos as ruínas maias de Calakmul, impressionantes! Tivemos a sorte de encontrar um bando de bugios, que ficou muito próximo e praticamente posando para nossas câmeras!

Na praia, em Akumal, a experiência foi diferente. Ficamos hospedados num albergue, junto com muitos outros estudantes e pesquisadores que participavam do programa. Depois de uma semana num acampamento no meio da selva, com racionamento de água, um quarto lotado de beliches, com banheiros coletivos e sorvete ali do lado era praticamente um hotel de luxo!

Nossas “trilhas” passaram a ser submarinas, fosse com snorkel ou mergulhando com cilindro, e mais aprendemos com as pesquisadoras do que efetivamente ajudamos com muitos dados. O ambiente marinho é muito cheio de novidades para nós, seres terrestres, e confesso que era difícil ficar contando quantos corais de determinada espécie havia porque, quando passava uma tartaruga, não tinha como não parar tudo e ficar pasma, olhando aquela beleza nadar tranquilamente ao seu lado! E como anotar algo numa prancheta embaixo d’água enquanto controla seu equilíbrio e tenta se manter na horizontal? Muitos desafios de uma só vez!

Aprendemos a reconhecer algumas espécies marinhas, fizemos um transecto e um quadrante embaixo d’água, reconhecemos grau de branqueamento de corais e observamos o comportamento de peixes herbívoros. No último dia, todos os participantes contribuíram fazendo pequenas palestras, em inglês, na praia, sobre ameaças e conservação de ambientes marinhos, como um evento da OpWall para conscientização dos turistas frequentadores.

Tivemos a companhia de duas escolas britânicas ao longo da viagem e, por isso, além da biologia, nossos alunos estavam também imersos no inglês o tempo todo, se bem que aproveitaram para ensinar um pouquinho de português para as novas amizades!

A viagem mostrou-se extremamente proveitosa em muitos âmbitos, dos conhecimentos teóricos e práticos de biologia à vivência de uma situação de intercâmbio, aprender a cuidar de sua saúde e de suas coisas, ficar uma semana sem celular nem acesso à internet, entender que nem todo mundo vai de biquíni à praia, viver uma situação extrema de falta de água, enfim, as aprendizagens foram muitas e intensas. Alguns comentários preciosos traduzem essas experiências:

“Hoje eu me senti um cientista de verdade, ali, lado a lado, fazendo a mesma coisa que um cientista faz.”

“Não sei mais se vou comer camarão depois do que aprendi aqui.”

“Puxa, nossa diversidade dá de mil, eles precisam conhecer a Mata Atlântica.”

“Nunca fiquei uma semana sem celular, descobri que não preciso tanto dele assim.”

Me orgulho de contar que nossos alunos deixaram ótimas impressões, tanto em nossos colegas britânicos quanto junto ao staff da Operation Wallacea, que, pela primeira vez, recebia alunos da América Latina. Acho que estreamos muito bem! Em agosto, já faremos a divulgação do novo destino para 2017. Preparem suas mochilas e máscaras de mergulho, pois novas aventuras nos aguardam!