Conversa entre alunos de diferentes séries e unidades: a temática do feminismo

Escola da Vila

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Por Joana Sampaio Primo

Todas as instituições (re)produzem a sociedade na qual estão inseridas; nas escolas não é diferente. Todavia, as instituições de ensino têm uma particularidade que as fortalece, a saber, o papel de transmitir para quem está sendo formado os princípios e conhecimentos acumulados num dado período histórico. Assim, se por um lado a escola reproduz padrões e valores sociais, por outro ela é um campo de permanente produção e reflexão, já que ensinar e aprender são ações construídas cotidianamente.

O feminismo – como bem abordado em post recente deste Blog – tem ressurgido com força nos últimos 5 anos, movimento que chega às escolas pela organização e reflexão de seus agentes, alunos e professores. Reconhecidamente um tema que trata das relações cotidianas, refletir sobre essa temática significa pensar o lugar de (re)produção dos homens e mulheres em nossa sociedade e, especificamente, nas escolas.

No final do ano passado, resolvemos introduzir no espaço das aulas de Orientação Educacional, da Unidade Granja, reflexões sobre o lugar da mulher em nossa sociedade. Num primeiro momento, pode parecer um assunto precoce para estudantes de 6º e 7º anos, porém vivenciávamos situações nas quais percebíamos que as alunas e os alunos (re)produziam determinados comportamentos sem refletirem sobre suas determinações.

Fizemos uma sequência de discussões com a turma. Eles se envolviam nas atividades, mas agiam como se não houvesse nenhuma relação com eles nem com suas atitudes. Instigadas por essas participações, planejamos outras estratégias.

Resgatamos um encaminhamento que faz parte de nossa prática na Escola da Vila, isto é, alunas e alunos ocuparem o papel de transmissores do conhecimento, pois concebemos que o exercício de comunicar um saber implica uma nova maneira de compreendê-lo. Trata-se, também, de uma estratégia na qual os estudantes podem ocupar outra posição em relação aos colegas e ao conhecimento, modificando o lugar de quem vai ensinar e de quem está sendo ensinado. Apostamos, portanto, que escutar um colega de idade próxima reconfigura as possibilidades de transmissão e de compreensão, aproximando alunas e alunos do que está sendo discutido.

Orientadas por esses princípios, propusemos, no final do ano passado, uma conversa entre duas alunas e um aluno do Coletivo Feminista do Fundamental II e os estudantes de 6º e 7º anos da Granja. A conversa com pessoas de outras Unidades e idades era uma forma de aproximá-los da temática e de valorizar o Coletivo que foi criado por iniciativa própria dos alunos.

Com a mediação da Orientação das unidades, combinamos com o Coletivo um dia para virem. Eles se prepararam, compartilharam um plano de aula especificando o que gostariam de discutir com os alunos da Granja, estavam animados! Por aqui, antecipamos com nossos estudantes o dia da conversa e quem viria discutir feminismo com eles, ficaram ansiosos! Na última tarde de segunda-feira do F2 antes das férias, fizemos uma grande roda de conversa e nada melhor do que acompanharmos o que aconteceu pelo relato de algumas alunas que quiseram compartilhar a experiência que viveram.

Sofia Lebrão Ferreira
Quando começamos a conversar sobre feminismo na aula de OE, fiquei um pouco sem graça e sem entender o porquê daquilo e sua importância na sociedade, porque esse assunto não é do nosso dia a dia e costume. Depois da conversa com os alunos das outras unidades, percebi que era muito mais que uma aula qualquer de OE sobre esse tema. Percebi que o feminismo é algo muito grande, e aprendi muito, acho que todos aprenderam, porque antes eram só risadas e brincadeiras sem graça, depois todos começaram a levar muito a sério e entender. E esse, eu acho, foi o ponto forte dessa conversa com os alunos, o fato de que tudo ficou mais claro, debaixo do nosso nariz, todos os dias, o tempo todo, mas não percebíamos nem sabíamos o que era. Muitos nem sabiam o significado da palavra feminismo, eu era uma dessas pessoas, mas todos nós ficamos conscientes sobre esse assunto tão comum atualmente.

Carolina Bonfiglioli Lopes
Para mim, a diferença entre escutar a temática do feminismo sendo abordada na aula de OE e na conversa com as alunas e os alunos na Unidade Butantã foi que nas aulas de OE o clima era muito tenso e sério, mas com os alunos era mais informal, e havia as atividades sobre pensar no que você brincou quando era criança, que roupas usou, e eu achei isso bem legal porque nós poderíamos pensar nas divisões que "temos" que seguir.

O que eu achei mais importante na conversa com os alunos e as alunas foi que muitas coisas foram esclarecidas e que nós pudemos ver diferentes pontos de vista (das outras unidades).

Alice Novis Rossi
O coletivo feminista de 2016 envolveu um grande processo de aprendizagem. Não só para as alunas que eram pouco familiarizadas com o assunto, mas também para as que, como a maioria do oitavo e do nono ano, já sabiam um pouco sobre o assunto.

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À medida que o coletivo foi avançando, as pessoas estavam ficando mais engajadas e com um conhecimento maior sobre o assunto, chegamos aos poucos a temas mais complexos, como representatividade da mulher na cultura pop, a mulher como objeto nas publicidades, vertentes do feminismo, etc.

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Resumindo, foi possível notar uma mudança no comportamento e na visão de todas as pessoas que participaram do coletivo ao longo do segundo semestre. As discussões envolveram um processo de aprendizado incrível, e promoveram um ambiente confortável para que as pessoas expressassem sua opinião (embora algumas pessoas ainda estejam em posição de ouvintes). O coletivo trouxe com ele exatamente a sensação de coletividade, uma ideia de estarmos juntas fazendo uma coisa importante para mudar o espaço escolar que também é nosso.