A configuração das salas e o trabalho interidades: a experiência das aulas de tutoria no F2 da Granja.

Por Ana Vitiritti 

Sempre que pensamos nas sequências didáticas de ensino, nós, professores, elencamos conteúdos conceituais, pensamos em atividades que possam promover a discussão na classe, temas que sejam ao mesmo tempo interessantes e estimulantes, garantindo a manutenção da aula, e que possam potencializar a aprendizagem. Mas não é só baseada em conteúdos que deverá estar a atenção do professor. Os agrupamentos produtivos e a ambientação da sala de aula contribuem para o alcance dos nossos objetivos.

Quando, premeditadamente, o professor define como será a organização da turma, sob a orientação adequada, os alunos poderão trocar nas duplas, nos trios, quartetos ou em um grupo grande de discussão. Essas trocas poderão criar um ambiente favorável à criação de hipóteses, à resolução de problemas, à necessidade de argumentação diante de um novo ponto de vista, possibilitando que os alunos coloquem em cheque suas ideias e administrem a sua própria aprendizagem.

Um aluno mais velho, por exemplo, poderá assumir um papel de mediador da discussão, poderá centralizar o registro do que foi discutido, poderá servir de exemplo para alunos mais novos. Por outro lado, um aluno mais novo, curioso e criativo poderá questionar as escolhas dos outros colegas procurando os porquês conceituais que ainda desconhece.

Nesse sentido, na Unidade da Granja temos desenvolvido agrupamentos de todos os alunos do F2 nas aulas de tutoria. Temos alunos do 6o ano, recém-chegados do F1, alunos do 7o ano, já acostumados às trocas de professores e procedimentos básicos trabalhados em sala, e alunos do 8o ano, que, com a própria diferença de idade, já possuem um grau de abstração e argumentação distinto dos menores.

Nas aulas, temos um grande tema de fundo das nossas discussões: a Mídia Digital. Estamos imersos em um mundo tecnológico, e os alunos acordam cercados pelas tecnologias digitais, vão para a escola com seus computadores e tablets, realizam as atividades também usando essas tecnologias e, quando ainda há tempo, não perdem nenhum segundo para conversar com seus amigos no snapchat ou twitter. Tema interessante e que desperta curiosidade sobre como foram os avanços nos últimos tempos. Como saímos da escrita nas paredes da caverna com corantes naturais à base de terra e chegamos a sinais de telefonia celular que, imediatamente, identificam as informações, reconhecem o local que o usuário está e, se bobear, já indicam o restaurante mais próximo?

Para a discussão desse tema, cada professor pinçou um aspecto que relaciona o tema à sua disciplina específica e às necessidades procedimentais que observa no grupo de alunos do F2 de maneira geral. Em Ciências Naturais, a necessidade de trabalhar o gênero descritivo e a escrita organizada, que representa passo a passo o que foi pensado, o que foi discutido e que retoma as ideias de causa e efeito. Em Língua Portuguesa, a necessidade de trabalhar a leitura e a interpretação de textos com um grau de aprofundamento distinto da superficialidade. Em Ciências Humanas, a necessidade de trabalhar as respostas completas, coerentes com o que foi pedido, a necessidade da interpretação de gráficos, tabelas, infográficos e esquemas. E, em Matemática, a necessidade de criar textos argumentativos que representem a resolução pretendida para a solução de problemas complexos, que envolvam cálculos simples e as regularidades da multiplicação.

Após a definição do tema, os alunos do F2 foram divididos nos grupos de trabalho mesclados e escolhidos de acordo com as necessidades pretendidas pelos professores. Em seguida, as estratégias dos professores foram criadas para atentar ao tema, atender aos objetivos específicos, levando em consideração as competências dos grupos interidades.

Diferentemente do que ocorre nos agrupamentos gerais com alunos de idades distintas, aqui eles foram selecionados com competências e habilidades muito semelhantes para que a proposta do professor pudesse ser desafiante para todos e para que no grupo exista uma ordem horizontal e eles tomem as decisões e apresentem soluções com a mesma propriedade, independentemente da série.

Essa escolha intencional teve como objetivo colocar o grupo de alunos em um mesmo lugar em relação à aprendizagem, mesmo sabendo das diferentes competências inerentes às idades. Segundo Vygotsky, a aprendizagem só se consuma quando intermediada pelo outro, e se esse outro é muito competente em relação ao o que sei, como saberei se sei ou se apenas reproduzo aquilo que é do outro? Se o outro é muito competente e eu ainda não, será que me espelho ou apenas me escondo? Se somos iguais, como faremos para resolver algo que não é de conhecimento de nenhum de nós?

As aulas começaram agora em fevereiro, e não temos ainda muitas notícias. Vamos esperar as próximas duas semanas, quando os primeiros módulos de atividades tiverem acabado para contar mais um pouco da nossa experiência com agrupamentos produtivos interidades nas aulas de tutoria da Granja. Mas algo já sabemos: o tema é interessante, e os grupos interidades trabalhando com um objetivo único no projeto poderão aprender com as diferenças e deverão saber ouvir e se posicionar de maneira clara e coerente diante de alunos que não são, necessariamente, de seu convívio diário, o que já é um ganho enorme.