Estar na Escola e ser da Escola.

Por Daniela Munerato

O ano letivo começa e, após as férias, a escola novamente tem o movimento, a voz e as cores das crianças que retornam a este espaço cheias de expectativas, ávidas por reconhecerem as mudanças e os novos desafios. Também chegam ao espaço escolar crianças que nunca frequentaram uma escola ou que mudaram de escola. De alguma forma, elas irão se encontrar para compor classes e turmas.

Em casa, estas crianças já ouviram seus pais comentando: “Você vai ser do Grupo 1” ou “Agora você está numa escola de crianças grandes”. Imaginamos que nossos pequenos ficam curiosos pela ideia de ter uma professora que não conhecem, espaços para brincar, pintar, dançar e aprender. Porém, o que significa ser do Grupo 1?

É fato que estar na escola e ser da escola representam desafios diferentes. Enquanto estar na escola tem um significado físico, ser da escola depende de uma construção da pertinência progressiva, que faz com que nossos pequenos aprendizes compreendam que fazem parte de um grupo. Um grupo que estará junto todos os dias, participará das mesmas atividades e construirá a sua identidade. Através do convívio diário, as crianças compreendem que a singularidade e a diversidade são reconhecidas e valorizadas nas interações que têm lugar no espaço escolar.

Neste sentido, para as crianças, a rotina cumpre um papel fundamental na construção desta pertinência. Ela é construída no dia a dia com o objetivo de organizar o tempo na escola, a ordem das atividades que acontecem numa jornada, e que são planejadas considerando as necessidades dos pequenos, os compromissos coletivos, de modo a viabilizar as aprendizagens em muitos âmbitos do desenvolvimento infantil.

Em nome desta organização, que favorece a interação com os adultos, entre pares e com os materiais e espaços, o desconhecido torna-se previsível em nome da tranquilidade que a antecipação gera. Por este motivo, acompanhamos as professoras repetindo as mesmas histórias no período de adaptação, oferecendo as mesmas propostas nos cantos de entrada, terminando o dia com rituais que marcam a saída, como a “famosa pipoca”. Tudo é planejado de forma que as crianças se olhem, façam-se conhecer, contem umas com as outras, aprendam a expressar ideias, sentimentos, e reconheçam professores e demais funcionários que apóiam o segmento, como adultos significativos, confiáveis e responsáveis por eles no período em que permanecem na escola. Isto é fazer parte de um grupo!

Os pais também podem contribuir com este trabalho, evitando atrasos, garantindo que as crianças aproveitarão cada momento desta rotina especialmente planejada. Outra sugestão é tentar obter notícias sobre as atividades, as brincadeiras realizadas junto aos colegas, procurando saber o nome dos companheiros de turma, se referindo aos adultos que trabalham na escola pelo nome, respeitando sempre a disponibilidade de cada criança para compartilhar as experiências vividas na escola.

Em pouco tempo surgem os primeiros sinais da construção da pertinência grupal. As crianças encontram conhecidos na entrada da escola e dizem: “Vamos para a nossa sala?”, “Eu trouxe dois brinquedos e vou emprestar para você!” E quando chegam à porta da sala perguntam: “O Antonio já chegou?”, “Hoje nós vamos fazer colagem?”

A construção desta pertinência permeia toda a escolaridade, pois acontecerão mudanças a cada ano: professoras, salas, novos alunos e novidades na escola. Este trabalho estará sempre presente, no cuidado com cada um e com o grupo ao qual pertencem.