Uma escola no museu!

Por Sonia Barreira e Luisa Furman

Uma escola dentro de um museu a céu aberto surpreende e encanta. Enquanto passeamos entre instalações instigantes de artistas reais, num amplo jardim com árvores imensas e generosas, pudemos conhecer também as instalações de uma Educação Infantil pouco comum.

Lincoln Nursery School, longe de ser uma nova experiência pedagógica, tem sólidas bases num projeto que nasceu há mais de cinquenta anos. Mais recentemente, inspiradas pela experiência educacional de Reggio Emilia, promoveram transformações em seus espaços, na forma de interação com as crianças e na proposta curricular. No entanto, não é isso o que mais impacta os visitantes dessa pequena cooperativa de pais e educadores, e sim o fato de estar instalada no mesmo espaço destinado a um amplo museu de arte contemporânea ao ar livre.

Por essa razão, as crianças convivem diariamente com as obras de arte espalhadas pelo grande espaço verde, com inúmeras árvores frondosas, altas e, nesta época do ano, floridas. Essa convivência íntima e rara permite um conhecimento de cada obra bastante consistente.

Ao contrário das crianças de outras escolas, que são levadas aos museus especificamente para poder ter esse contato, os quais se resumem, na maioria das vezes, a uma experiência  singular e efêmera. Nossa pergunta foi então: e que diferença isso faz para os pequenos?

Constatamos que a partir das várias vivências diárias, as crianças podem conceber a mesma obra de arte de muitas maneiras. Podem observar o efeito que a variação do clima (frio, chuvoso, quente, ensolarado) pode promover. Podem se aproximar delas por um lado ou por outro lado, de perto e de longe, por cima ou por baixo, às vezes até dentro ou fora e com isso constatar detalhes que surpreendem e permitem novas formas de interagir com elas. Podem, por isso, sentir a obra de diversas maneiras e construir certa empatia, preferência ou apego por esta ou aquela peça.

Outro aspecto que o convívio permite é o acompanhamento de diversos processos de manutenção das obras – a depender de suas características, maior compreensão sobre a diversidade de materiais, a fragilidade e, eventualmente, a dependência de certos cuidados. Constatam com facilidade que as peças precisam ser instaladas, que algumas podem mudar de lugar e, principalmente, que são feitas por alguém, por uma pessoa, um artista!

O programa de trabalho dessa pequena escola inclui a conversa e o trabalho conjunto com os artistas expositores, de forma que inúmeras vezes os pequenos estudantes podem entender que a obra é inventada, projetada, estudada e construída. E, dessa maneira, compreender de forma intensiva o processo de produção de arte.

Essas experiências acumuladas desmistificam a arte e são um convite para a criação, para a produção dos alunos, seja em função da experiência reiterada ou de propostas específicas de seus educadores.

A ampla variedade de instalações desse museu instigante enriquece o repertório das crianças e permite e construção progressiva sobre o que é a Arte e para que ela serve.

Por fim, a partir de uma proposta relatada pelos educadores da Lincoln School, compreendemos que aquele rico entorno permitiu também que os pequenos fossem convidados a se colocar no lugar de especialistas, conhecedores do acervo. Um dia, a partir da constatação de diversos problemas com os visitantes do museu, que insistiam em interagir com as obras de forma inadequada, os alunos decidiram fazer uma lista de propostas sugerindo o que e como os visitantes poderiam explorar cada uma delas, sem colocar em risco sua manutenção.

Em vez de simplesmente proibir com cartazes dizendo "não suba nesta escultura" ou  "não toque neste painel", "não coloque sua criança sentada aqui", eles preferiram propor  novas experiências tais como: olhe de diversos ângulos; tire uma foto, compare com a outra obra; veja de perto e depois veja novamente de longe, etc. A exploração constante das obras e de seu entorno permitiu a esse grupo de crianças uma visão bastante original de como relacionar-se com as instalações.

Os espaços das escolas fazem parte do estímulo ao conhecimento e à interação com a realidade e os desafios da vida real. Alguns, no entanto, são mais do que isso e se transformam em parte do currículo formativo.

Formar um pequeno acervo de obras de arte no espaço da escola não deixa de ser um estímulo semelhante ao que conhecemos nessa instituição. Na Vila, essa prática já acontece, mas ainda pode ser mais explorada e expandida. Que essa pequena escola nos inspire e estimule!