Patricia Sadovsky e o ensino da matemática na escola

Por Fernanda Flores, direção pedagógica

Dando continuidade à divulgação de algumas contribuições vindas das várias ações formativas realizadas com nossa equipe de professores este semestre, recebemos a professora Patricia Sadovsky, doutora em Didática da Matemática pela Universidade de Buenos Aires, para aprofundamento em questões do ensino e da aprendizagem da Matemática em nossa escola. Aproveitamos a oportunidade para entrevistá-la sobre questões que as famílias costumam ter acerca da área.

Apresentamos, em forma de perguntas e respostas, preocupações recorrentes que tocam em pontos como a importância da matemática para a formação mais ampla dos estudantes, o enfrentamento de dificuldades inerentes ao processo de aprendizagem e a questão da tecnologia relacionada a esse campo de conhecimento.

a. Qual é a importância da aprendizagem da matemática, no momento atual, para quem vai seguir uma carreira que não esteja muito vinculada a essa disciplina?

Bom, nós pensamos que a matemática contribui com formas específicas de pensar e produzir conhecimento que estão instaladas na cultura, ainda que muitas vezes estejam ocultas, nos parece muito importante que todos os alunos e alunas, mais além de suas opções futuras, tenham oportunidade de tomar contato com essas formas de pensar. Nesse sentido, o trabalho em matemática não é um trabalho voltado para resultados ou para deter-se especificamente em conceitos isolados, mas sim é um trabalho no qual o assunto do ensino é a atividade matemática ela mesma, é aí que se localiza sua relevância.

b. Quais orientações você daria para as famílias de alunas e alunos que apresentam dificuldade para aprender matemática e se mostram pouco confiantes e desanimados com a disciplina? Devem olhar suas lições e apontar seus erros?

Ter dificuldades não é algo constitutivo dos estudantes, não é algo que faz parte de seu ser, sempre entendemos como um momento e, nesse sentido, apostamos nas trajetórias das alunas e alunos, apostamos em acompanhar suas trajetórias e que possam modificar essa situação de certa distância do trabalho matemático, que se expressa através de dificuldades.

Em princípio, acompanhá-los é valorizar suas ideias, ajudá-los a se envolver e tratar de que expressem o que pensam.

Com relação ao que aparece como erros, sempre preferimos pensá-los como ideias, podem ser ideias errôneas, mas são ideias, e acompanhar as crianças supõe que possam expressar as razões pelas quais colocaram em jogo essas ideias, para que depois possam modificá-las.

c. Como as tecnologias digitais impactaram o ensino da matemática? Como as famílias podem se valer dessas tecnologias para ajudar os filhos a estudar essa disciplina?

Falamos “das tecnologias”, quando na verdade há tecnologias e tecnologias. Na escola e no ensino se constituem sem dúvida como um recurso potencial, no entanto, isso depende de qual sejam as ferramentas que se utilizem e segundo como as utilizemos.

Compreender que a lógica de uso das tecnologias em uma função de ensino e aprendizagem é totalmente distinta da que a que segue no jogo, no entretenimento e no uso cotidiano, essa é uma primeira questão.

Por isso, temos de ajudar os alunos, alunas, crianças e jovens a pôr um ponto ou uma pausa nessa necessidade que coloca a tecnologia de tamanha velocidade, de basear-se unicamente em resultados, sem compreensão de seus funcionamentos internos.

Não sei se diria algo muito específico, mas me parece interessante que as famílias acompanhem crianças e jovens em um uso crítico das tecnologias neste momento, para que possam discernir, que possam separar os usos que são potentes em função de uma construção intelectual, de outros que são legítimos, mas não têm relação alguma com a aprendizagem.

Na próxima semana, dando continuidade a essa série, compartilharemos a conversa de nossos convidados Christian Dunker e Isabelino Siede com a comunidade escolar, no Vila Conversa, aguardem!