A Educação Infantil e a aprendizagem de habilidades sociais.

Por Dayse Gonçalves

Outro dia, num plantão de saída, ocupei lugar numa mesa onde havia uma criança de 5 anos desenhando. Ela é nova na escola e aproveitei aquele momento para me aproximar. Achei que estava realmente fazendo um bom trabalho e elogiei seu desenho, ao que ela reagiu com um “Obrigado”. Era uma menina. Disse ‘obrigado’, mas isso não tem a menor importância. O mais difícil é aprender a reconhecer que recebeu um elogio e agradecer a atitude gentil de seu interlocutor.

Trago este exemplo aqui porque é difícil que crianças pequenas respondam a seus interlocutores. Cumprimentamos e nem sempre somos cumprimentados. Prestamos muitas ajudas e nem sempre nos dizem “por favor” e “obrigado” ... Isso não é um problema quando ainda são pequenos, porque estão começando a aprender a se relacionar, por isso digo que já é o momento de nos preocuparmos com isso. Afinal, todos desejamos filhos e alunos respeitosos com os outros e seguros de si, com uma boa autoestima, não é mesmo? Certamente outros fatores intervêm no autoconceito, mas o modo como os adultos se relacionam com as crianças e as educam parece ser uma das componentes mais importantes neste comecinho de vida.

De que maneira então podemos lhes ensinar? Primeiramente nos preocupando em ser bons modelos (pais/educadores). As crianças aprendem imitando. A maneira como nos relacionamos, como já foi dito, é a estratégia mais potente de ensino (no nosso caso) e de aprendizagem (no caso de nossos filhos e alunos). E sabem por quê? Porque temos prestígio junto às crianças: pais, mães, professores e professoras. Então, nesta fase do desenvolvimento, vai contar nesta aprendizagem se cumprimentamos as pessoas que encontramos pelo caminho; se as chamamos pelo nome; se quando solicitamos ou recebemos algo dizemos “por favor” e “obrigado”, não importando quem seja o nosso interlocutor (idade, condição/posição social); se ao enfrentar situações de conflito procuramos agir de forma equilibrada, não humilhando as pessoas, agindo de forma assertiva mas não agressiva.

Vale pensar também na maneira como nos dirigimos às próprias crianças. Se quando estão falando conosco olhamos nos seus olhos, demonstrando interesse. O tom de voz com que exercemos nossa autoridade, quando colocamos limites ou lidamos com transgressões e birras. Se somos capazes de ser continentes e de compreender seus sentimentos e sua maneira de manifestar emoção, mesmo quando somos objeto de sua raiva, porque de fato somos muitas vezes, quando lhe impomos situações de frustração. As tais frustrações que filhos e alunos precisam experimentar para poder crescer, se fortalecer.

Não é fácil, é verdade! E não é incomum muitos pais acreditarem que precisam ser amigos dos filhos e que se não forem generosos com eles estarão sendo autoritários. Sem falar nos nossos sentimentos de culpa, que acabam nos fazendo generosos e lenientes, quando precisávamos somente exercer nossa função de pai e de mãe e prepará-los para a vida. Compreendo que os pais sofram quando ouvem falas do tipo “Eu não gosto mais de você!” “Eu não sou mais seu amigo!” “Eu não sou mais sua filha e você não é mais minha mãe!” Mas, vejam, não podemos nos intimidar, e, lembrando o propósito deste post, não podemos também intimidá-los, mas precisamos admitir que há sim uma assimetria nesta relação. E não esquecer nosso mais importante compromisso quando decidimos ter filhos (vale para alunos também!): educar. É nossa obrigação! Temos de ajudá-los a se preparar para a vida, para que desejem uma boa vida para si e para os outros.

Como costumamos dizer brincando “Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás”.