As situações de convívio na Educação Infantil

Situações de convívio fazem parte de nossas lembranças de infância: crianças brincando na rua, dividindo espaços variados - com irmãos, primos, vizinhos, crianças mais novas, crianças mais velhas -, interagindo quase nunca com intervenção de adultos. Os mais velhos conduziam as brincadeiras. Brincávamos com pouquíssimos materiais. Estes tinham mais importância quando estávamos em casa, ou em dias de chuva, porque na verdade não precisávamos muito deles quando estávamos com nossos companheiros (professores de brincadeiras).  A rua era o espaço era o lugar onde aconteciam as ‘peladas’, o esconde-esconde, o pega-pega, a mãe-da-rua, estátua etc. E nestes espaços cabiam brinquedos como pipa, bolinha de gude, carrinho de rolemã, patinete etc. Um monte de brinquedo que tem gente que cresceu sem nunca experimentar.

Tais situações representavam muito mais que diversão. Eram também uma oportunidade para aprender a conviver, a lidar com conflito. Esta é a riqueza das situações de interação!

No nosso caso, os mais velhos às vezes eram líderes nas brincadeiras e às vezes eram até temidos por nós, mas foram importantes porque nos ajudaram a ficar mais fortes, mais seguros. Foram nossos mestres no sentido de que nos permitiram construir um tipo de repertório que não teria lugar se não tivéssemos aprendido a ocupar espaço, a enfrentar os conflitos, a mostrar eventualmente a nossa força. Os menores que a gente, estes eram muitas vezes liderados por nós, e exercer este papel também foi importante no nosso desenvolvimento, por nos permitir nos perceber às vezes mais fortes, às vezes fracos. E é assim que somos ainda hoje, adultos.

É também através do convívio que aprendemos a respeitar opiniões diferentes das nossas, que nos deparamos com idéias que não teríamos sozinhos. A imaginação ganha força, nós ganhamos força!

Hoje, mais que ontem, a escola talvez seja o único lugar onde a maior parte das crianças viva este tipo de experiência. É, portanto, promotora de encontros, diversão, aprendizagens, situações de enfrentamento de conflito, construção de relações: os dias por aqui são oficinas de convívio!

Brincamos com a expressão, mas as Oficinas de Convívio são uma estratégia que criamos para favorecer encontros semanais entre crianças de diferentes idades, na Educação Infantil, com a duração de aproximadamente quarenta minutos. São várias oficinas acontecendo concomitantemente, e das quais as crianças escolhem participar. Há ainda outras situações planejadas com esta intenção: lanches coletivos, récitas públicas, leituras, brincadeiras, oficinas de Arte, culinária etc. Nestes encontros, tutores e tutorados têm a oportunidade de construir um olhar a um só tempo de tolerância e de admiração.

Tudo isso garante relações harmoniosas todo o tempo? Não! Mas são ações que mostram como é possível conviver na diversidade. E isso requer tempo de ensino e de aprendizagem.

 

Daniela Munerato e Dayse Gonçalves - Coordenação da Educação Infantil