As crianças e as experiências de infância dos pais.

Por Fernanda Flores

Dando continuidade às ideias exploradas no post do dia 18/04, que nos convidava a refletir sobre a qualidade do tempo que dedicamos aos nossos filhos, à convivência familiar, acho oportuno destacar outro aspecto que me parece pouco explorado em nossas reflexões cotidianas sobre a tarefa de educar.

Trato aqui das oportunidades que nos damos e proporcionamos a nossos filhos de revelarmo-nos como filhos que fomos.

Mas em que saber de nossa vida durante a infância, a adolescência pode nos aproximar?  Na medida em que os filhos podem nos conhecer vivendo experiências com as quais se identificam, pelas quais passam, percebendo que os pais também tiveram bagunças, brigas, tombos, molecagens, levaram broncas, não foram tão bem na escola como imaginam, tiveram causas profundas pelas quais brigaram com os pais... Reconhecem-se mais próximos, nos veem mais humanos, menos perfeitos (como imaginam).

Laços de identidade se fortalecem, compartilhamos mais situações de vida sobre as quais pensar, rir, recordar. Geramos intimidade, acolhimento e interesse pelas vidas que vivemos e que vivem nossos pequenos, mesmo nas pequeninas “bobaginhas” que teimam em nos contar.

Nossas histórias de infância falam a nossos filhos de emoções triviais, vividas tão intensamente na infância que muitas vezes esquecemos o quão importante foi, para cada um de nós... fugir das abelhas junto aos primos, depois de tanto jogar bolinhas de papel na colmeia; cair do muro ao tentar andar na borda estreita; chegar em penúltimo lugar na prova de natação do clube; colocar pimenta na bolacha do irmão que achava ser catchup; tocar a campainha do vizinho e sair correndo; ter ficado de castigo...

Da mesma maneira que ficam fascinados com contos e personagens de mundos fantasiosos e distantes, apresentados pelos livros e pelas contações de histórias, enlaçam-se igualmente nos enredos de nossas peripécias de pequenos, nossos “quase isso”, nossos “e se aquilo”, lições de vida tão íntimas e verdadeiras, valiosas pelo simples fato de serem somente da família de cada um, constitutivas dos adultos e pais que somos hoje e das pessoas que formamos todos os dias.

Como bem disse Dayse, “são coisas pequenas, (...), que para os pequenos são grandes acontecimentos”, alegrias e tristezas que temos oportunidade de compartilhar com nossos filhos.

Experimentem!