Meu irmão pode ir junto?

Por Daniela Munerato

A notícia da chegada de um bebê na família marca o início de uma relação que será construída e descoberta progressivamente. O primogênito acompanha mudanças na casa, muitas vezes em seu quarto, e estas novidades demoram sempre um tempo para tornarem-se conhecidas ou para que, de fato, sejam tranquilas.

Acostumada com as atenções individualizadas, a não ter que esperar para ser atendida, a criança compreende aos poucos as mudanças que acontecerão. Tudo será dividido, mas não há uma perda, e sim um ganho, um olhar mais amplo para a configuração familiar que assume outra estrutura e deve se reorganizar. E é justamente esta questão que deve ficar clara desde o início, tanto para os pais como para as crianças.

Sabemos que as intervenções dos pais fazem com que a relação entre irmãos aconteça. Dentro deste universo contamos com várias posições: de pais, filho mais velho, filho mais novo, etc. Assim como toda a relação interpessoal, o relacionamento fraterno tem seu lugar no âmbito familiar, mas não podemos esquecer que cada sujeito marca seu espaço individual independente do grupo a qual pertence. Temos as características da idade, o papel que cada um assume e tudo isto deve ser considerado!

Outro fato é que os pais sempre estão repletos de expectativas para os filhos e naturalmente as crianças ficam muito influenciadas por elas. Estas expectativas vão determinar fortemente a organização da fratria, as relações de poder, a função de cada um dos seus elementos e o tipo de comunicação dominante.

Fora de casa temos outros âmbitos nos quais  os filhos constroem tipos de relações diferentes das familiares, frequentam a escola, clubes e ampliam suas redes sociais. Nestas interações aprendem mais sobre as diferentes formas de relação que contribuem para as suas aprendizagens e para a própria construção da personalidade.

Inseridos nestes contextos, os convites para festas, eventos, lanches ou brincadeiras na casa dos amigos acontecem com maior frequência. Em determinado momento os pais não precisam mais acompanhar seus filhos, seguros de que já conseguem cuidar-se ou de que outro adulto de referência estará por perto. Mas, existe uma outra questão muito recorrente sobre este tema que causa reflexão e dúvida entre os pais: o que fazemos com o irmão? Se um é convidado o outro deve ir junto?

Eis uma questão que merece considerações e pode ser analisada sob diferentes pontos de vista. Quem convida um amigo para ir a sua casa deseja interagir com ele ou conhecê-lo melhor. A entrada de um irmão, neste sentido, interfere na relação, pois sabemos que as crianças saudavelmente exercem diferentes posições a depender dos contextos sociais. Muitas vezes, quem é liderado pelo irmão mais velho em casa tem a oportunidade de liderar na escola e o contrário também pode acontecer. Se o irmão mais velho vai sempre junto tira do mais novo a responsabilidade de se cuidar, de se adequar a situação fora do contexto familiar. Por outro lado, se o irmão mais velho leva sempre o mais novo junto sente seu espaço dividido, pois deve considerar o irmão em suas brincadeiras e atividades, fato que pode gerar muitos conflitos.

Do ponto de vista do irmão que acompanha, o fato pode ser visto como uma situação de ganho, principalmente quando o irmão mais novo acompanha o mais velho e, inclusive tem a ilusão de ser “grande” por isto. Mas, a sensação pode ser também de perda, quando o irmão mais velho acompanha o mais novo e não se sente a vontade para entrar nas brincadeiras dos menores. Devemos olhar para cada criança, colocar-se no lugar deles, antecipar questões que possam aparecem e se esta parceria “irmãos e amigos” favorecerá um dia divertido para todos. Afinal, este é o propósito do convite! Portanto, não esqueçam de considerar estas questões antes de decidir o que deve acontecer.

O mais importante, dentro deste contexto, é que irmãos tenham espaços individualizados garantidos: pertencem a mesma família, mas são pessoas diferentes, com amigos comuns e diversos, que acompanham suas idades e interesses. Estamos falando de direitos dentro do contexto familiar que favorecem o desenvolvimento de competências, de negociação e cooperação entre irmãos. Quando são vistos como diferentes ficam mais seguros, o ciúme acontece menos, pois o amor está garantido dentro da sua particularidade.

O irmão pode ir junto? Sim! Mas, cuidemos para que a diversidade de oportunidades e de interações esteja presente, garantindo a individualidade de cada um.