O trabalho com as profissões no Grupo 2

Por Daniela Munerato

Imersas no egocentrismo inerente à faixa etária, as crianças pequenas têm como principal referência suas experiências pessoais.

Em relativamente pouco tempo de vida percebem a casa e o aconchego na companhia dos pais e de outros cuidadores como lugares de segurança.

Quando chegam à escola, começam a se relacionar com outras pessoas - adultos e crianças - e também com um novo espaço. Então é chegada a hora de construir uma relação com outras pessoas e aceitar que há regras de convivência neste novo espaço. Aprender a respeitar e também aprender a respeitar-se são novos desafios que passa a enfrentar.

Aos poucos, as crianças começam a observar que cada ambiente possui características que lhe são próprias. Aos seus olhos, por exemplo, o padeiro é aquele que sempre lhe oferece pão de queijo para provar e pertence àquela padaria; da mesma forma que a banca de jornal não poderia existir sem o conhecido “seu José”, e assim por diante.

Portanto, quando chegam à escola as crianças acreditam que todos os funcionários moram neste espaço, por pertencerem a ele, inclusive seus professores. Afinal, como explicar o parque limpo ou a presença da professora quando chegam à sala? Já observaram a cara de decepção das crianças pequenas quando encontram seus professores em outros espaços, como o cinema ou supermercado? E se estiverem acompanhadas então dos filhos e do marido?

Do ponto de vista do desenvolvimento infantil, sabemos que aos quatro anos de idade as crianças ampliam a capacidade de olhar o outro, observar diferenças, testar limites, imitar condutas até então nunca experimentadas. Diante das mais variadas situações buscam compreender a origem e os princípios a partir dos quais constrói relações: Por quê? Onde? Como? É uma fase considerada de transição. O vocabulário vai se ampliando e é cada vez mais bem empregado. Enfim, assistimos a importantes transformações do ponto de vista cognitivo, social e afetivo.

Em casa, a frase “Vou trabalhar!”, entendida até então como um momento no qual os pais estão ausentes, começa a ser questionada com perguntas do tipo: “Como é o seu trabalho?” “Onde você trabalha?”, “O que você vai fazer?”

A unidade de trabalho “Profissões”, no G2, acontece considerando todo o contexto colocado anteriormente e cumpre vários propósitos. Conhecer a natureza de algumas profissões ajuda na compreensão do universo do trabalho, do mundo adulto. Ajuda a ampliar relações de confiança no ambiente escolar, a atribuir importância ao trabalho realizado cotidianamente pelas pessoas que fazem a escola acontecer. Garante a segurança de que os pais exercem atividades que apreciam, que escolheram e que existem diversas profissões na nossa sociedade.

No início do trabalho o foco são os profissionais da escola. Eles são observados, entrevistados e se tornam muito conhecidos e queridos. Da mesma forma, acontecem posteriormente os encontros com os pais. Quando eles marcam entrevista, as crianças contam os dias para este encontro. Preparam perguntas e ficam muito animadas para ver se confirmarão ou não suas hipóteses sobre o que é ser, por exemplo, psicólogo. Quem diria que uma psicóloga não trabalha com piscinas?

Outro ganho importante que acontece através deste trabalho é a aproximação das crianças com os pais de seus colegas, que passam a ser cumprimentados com enorme desenvoltura, e são surpreendidos com comentários sobre o dia do encontro e novas perguntas sobre a profissão exercida.

Diante das novas aprendizagens sobre o tema, as crianças constroem olhares diferentes sobre a organização social: nem todos os núcleos que reúnem pessoas representam lares, mas podem ser locais de trabalho. Por outro lado, retomam a referência do ambiente familiar para pensar que todos os profissionais que conhecem pertencem a famílias, trabalham e voltam para suas casas. Isso também tranquiliza as crianças. E há ainda os que arriscam pensar o que gostariam de ser quando “forem grandes”.