As etapas de aprendizagem esportiva: um olhar para pequenos cuidados.

Por Washington Nunes Silva Junior

Quero comentar algumas interferências que podem gerar desconforto nos treinos esportivos e nos jogos, principalmente, dos iniciantes.

Quando os alunos treinam, repetem exercícios, passam por diferentes processos de aprendizado dos gestos do jogo, das regras, das formas de jogar, de descobrir o outro como adversário ou companheiro, de controlar suas emoções e tentar ser o mais racional possível e, acima de tudo, perceber que têm que tomar diferentes decisões a cada momento (dificilmente a mesma ação é repetida em um jogo, pois ele é aberto, imprevisível e as decisões vão ser sempre tomadas de acordo com as do adversário, por isso é apaixonante jogar).

Algumas dessas ações são boas, outras ruins e nesse caminho, os alunos vão percebendo melhor os espaços construídos que ele ou outro companheiro pode ocupar ou atacar, perceber qual o melhor gesto a ser utilizado e aprender a antecipar as ações dos adversários.  Ao término de alguma ação ou do próprio treino, há a possibilidade do professor, junto com os alunos, fazer uma avaliação das decisões e auxiliar na descoberta e na orientação da correção de possíveis erros.

Muitas vezes, quando vemos as crianças jogando, não imaginamos que tantas coisas aconteçam em um simples “jogo de bola”.

Pois bem, essa relação afetiva entre o professor, o aluno e o conteúdo é bastante valiosa, por isso, precisamos deixar esses momentos acontecerem entre eles.

A cultura esportiva brasileira vem do culto ao futebol, no qual todos os brasileiros são treinadores e querem dar “palpites” em seus times e na seleção brasileira. E isso acaba se estendendo também, para dentro dos treinos na escola.

Fizemos, em alguns momentos, pedidos aos pais, em diferentes situações, para que não assistissem aos treinos esportivos. Essa medida, que pode parecer autoritária, na verdade, é feita para que não haja nenhum constrangimento quando um treinador tiver que fazer uma intervenção ou, quando um aluno errar “feio” uma ação no jogo.

Além disso, como podemos trabalhar com regras e limites com nossas crianças, se os pais não cumprem os combinados?

O que vemos, em alguns casos, é um sofrimento do “pai-treinador” que não consegue deixar de fazer um comentário, uma crítica ou um elogio. Será que a criança está preparada para esses comentários? Será que esse pai, sem a intenção de atrapalhar, não estará produzindo um medo de errar ao querer acelerar o processo individual de aprendizagem que cada aluno tem?

Vamos deixar os processos acontecerem dentro do tempo necessário. Já imaginou se isso fosse para todas as aprendizagens? Imagine a cena: um aluno acerta uma conta de matemática e a torcida faz a ola!

E não se esqueçam também: em um jogo, vale à pena comentar pontos positivos e valorizar as coisas que apresentaram evolução. Essas atitudes, muitas vezes, são mais interessantes que críticas que possam gerar desconforto e fazer com que as crianças abandonem a prática esportiva.