A importância das explicações oferecidas pelo professor.

Por Ivone Domingues

Há uns dias, a professora Gislaine escreveu neste blog um ótimo texto sobre por que os alunos precisam explicar nas aulas de matemática. Com o intuito de complementar essa reflexão, escrevo sobre a importância das explicações oferecidas pelos professores.

Dentre as muitas interpretações apressadas do construtivismo que vêm sendo divulgadas ultimamente, há algumas que afirmam  que as explicações dos professores não têm lugar em práticas de ensino pautadas nas teorias construtivistas. Discordamos dessa interpretação. Na modalidade de ensino que praticamos, as explicações do professor têm um lugar privilegiado. Que lugar seria esse?

É fato que não compartilhamos da concepção de caráter transmissivo, segundo a qual basta uma explicação bem formulada pelo professor para que os alunos aprendam um determinado conteúdo. Essa visão parte de um modelo que não diferencia ensino de aprendizagem. Desse ponto de vista, se algo for comunicado de “forma clara” e os alunos prestarem atenção, esse conteúdo será compreendido por todos, tal e qual foi transmitido. A realidade da sala de aula nos mostra que as coisas não acontecem dessa forma. Quantos de nós já vivemos a experiência de sair de uma bela aula, tendo prestado muita atenção e com entendimentos divergentes de colegas que também se mantiveram atentos? Qual seria a origem dessas diferentes compreensões?

Do nosso ponto de vista, isso se explica porque a aprendizagem se diferencia do ensino, já que pressupõe a construção pessoal do aluno, que interage com o meio a partir dos conhecimentos de que dispõe. Isso não quer dizer que nos colocamos no outro extremo e dispensamos as explicações do professor. Pelo contrário, as explicações são importantes, sobretudo se surgirem de uma necessidade dos alunos. Mas como criar essa necessidade?

Costumamos propor  situações nas quais há um tempo destinado à interação dos alunos com problemas para os quais o professor não forneceu o caminho que leva ao resultado. Tempo necessário para que o aluno se responsabilize pela busca de soluções próprias, que nem sempre resultam em respostas corretas e acabadas. Essa busca possibilita uma aproximação do aluno com o problema a partir da mobilização das ferramentas cognitivas de que dispõe. No confronto entre diferentes respostas e explicações elaboradas pelo grupo, cria-se um ambiente favorável ao surgimento da necessidade de uma explicação mais formal. É nesse contexto que as explicações do professor ganham um sentido mais profundo.

Nas nossas propostas de ensino, portanto, é essencial que haja momentos frequentes em que o professor organiza essa construção coletiva por meio de explicações que as formalizam e conferem um status de saber organizado e validado socialmente. Em síntese, quando as explicações do professor são oferecidas para alunos instigados, que estão necessitando das mesmas, nota-se a diferença no modo como são aproveitadas. O desafio, portanto, é conseguir criar o enigma.