XIII Encontro de Geógrafos da América Latina.

Professor César Simoni na Escola da Vila

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O professor de Geografia do Ensino Médio da Escola da Vila que participou, entre os dias 25 e 29 de julho, do XIII Encontro de Geógrafos da América Latina, na Costa Rica, conta um pouco da experiência que aproximou os universos da escola e da pesquisa.

Escola da Vila – Professor, em sua opinião, qual a importância deste evento? Quem promove e que tipo de profissional participa?

César Simoni O EGAL reúne Geógrafos da América Latina. Isso é importante! Mas, debater os trabalhos com interlocutores qualificados e formados no campo de especialidade da disciplina é o aspecto mais interessante. Nesse tipo de evento, por suas dimensões, a diversidade de pontos de vista teóricos, temáticos e mesmo regionais ajuda a enriquecer a discussão e a reflexão.

EV – Fale um pouco sobre o trabalho que você foi apresentar neste Congresso.

CSA comunicação que eu apresentei nesse encontro nasceu dos estudos para a elaboração do projeto de trabalho de campo do 2º ano do Ensino Médio e ganhou força com o empenho dos alunos, que se envolveram na investigação. Quando a gente foi preparar a participação de Geografia no trabalho de campo de Itacarambi, conhecemos um lugar que não podia ficar de fora. O projeto de irrigação Jaíba, que fica do outro lado do Rio (São Francisco) era perto demais para ser ignorado. Na época, como agora também, eu estava estudando algumas coisas sobre a fronteira móvel da economia e da urbanização no território brasileiro por conta dos meus estudos para o doutorado. As coisas se encaixaram muito bem! A partir daí, a hipótese com a qual trabalharíamos consistia num olhar sobre a região como uma área de expansão da fronteira demográfica e econômica, com importantes repercussões para a economia tradicional da região. Com os alunos, fomos a campo verificar a hipótese. Discutimos sobre os procedimentos, sobre a validade de alguns enunciados hipotéticos, confrontamos dados e levantamos novas hipóteses. Acho que é por isso, quer dizer, por ser um trabalho real de discussão e pesquisa, que ele tem uma dinâmica própria e que não para. Este ano, voltamos a campo com o atual 2º ano e o trabalho avançou, já com novas hipóteses apontadas para o ano que vem. Este ano o tema da consciência do trabalhador dessa área de fronteira foi quem assumiu um lugar de destaque. Isso veio de alguns questionamentos deixados pela turma do ano passado. Espero que o empenho e a empolgação dos alunos com este trabalho continuem.

Daí, então, por isso, por essa dinâmica, o trabalho apresentado na Costa Rica contou, de fato, com muitos dados levantados e reflexões feitas coletivamente com os alunos. O que foi devida e nominalmente registrado. A importância e o ineditismo do que estudávamos não permitia que este trabalho ficasse restrito ao âmbito privado e estritamente escolar. Aí, compartilhei com os alunos a minha intenção de escrever um artigo sobre aquilo que estávamos começando a conhecer e disse que os dados levantados por eles ajudariam. Acho que essa percepção e dinâmica de produção do conhecimento também ajudaram a mobilizar forças. Fomos todos a campo confirmar algumas hipóteses.

EV – Professor, em sua opinião, qual a importância da participação do professor em eventos acadêmicos de sua disciplina?

CS No ensino médio, assim como no fundamental 2, penso eu, a presença dos conteúdos disciplinares fazem maior peso na prática do professor e nos processos de aprendizagem. Isso, tanto do ponto de vista dos temas abordados quanto do ponto de vista de uma lógica interna a cada área ou sub-área do conhecimento – de uma linguagem, mais propriamente. Esse, eu acho, é o primeiro ponto a se destacar.

Mas acho também que a evidência desse primeiro ponto tende a ofuscar outras coisas importantes. A tônica geral que ronda o discurso pedagógico parece ter esquecido que os procedimentos de pesquisa são, antes de tudo, tentativas de compreensão da realidade. Essa realidade, nos termos em que estão postos para a escolaridade básica, não se compreende sem um pensamento disciplinado e sem conceitos, e, assim como a realidade muda, o léxico disciplinar é instável. Logo, nesse sentido, estar “conectado” ao ambiente de produção do conhecimento disciplinar e ao universo da pesquisa significa estar diante de maiores possibilidades de adequação do conteúdo ensinado à forma de manifestação/expressão desse conteúdo, e eu acho que é isso que se entende por conhecimento.

EV – Em que medida este congresso aportou novas contribuições para sua prática docente ou seu percurso profissional?

CSPara ser sincero, fui especificamente a este evento com a preocupação maior de debater um trabalho com as características das quais já falei. Eu queria saber e ouvir a opinião de outros geógrafos sobre a hipótese e o encaminhamento do trabalho apresentado, uma vez em que ele foi construído fora do âmbito acadêmico da Geografia. Evidentemente, pude assistir a muitas outras mesas e debates, mas mantive essa preocupação inicial no centro. Para minha satisfação, pude perceber que o nosso debate escolar é de alto nível – e não falo só para o caso da disciplina de Geografia. Além disso, as perguntas e contribuições específicas que recebi enquanto o trabalho era debatido serviram para apontar para novos caminhos e também para perceber a potência do objeto que temos em mãos.

EV - Nota-se que das carreiras universitárias existentes na área de Ciências Humanas, a Geografia tem sido uma opção bastante frequente entre os alunos da Escola da Vila, a que você atribui este fenômeno?

CS Eu penso que atualmente o mundo e a Geografia vêm passando por mudanças e que isso tem a ver com esse comportamento. Primeiramente, a preocupação ambiental, o destaque dos eventos econômicos globais, os problemas urbanos são temas que chamam atenção de todos. Isso tem o seu papel na medida em que a Geografia tem se dedicado a entender tudo isso. Não estamos mais falando de uma disciplina descritiva e meramente quantitativa, como aquela que muitos ainda têm em mente quando se fala em Geografia. A Geografia mudou e está apta a compreender os fenômenos sociais mais recentes com toda a dinâmica que não se pode separar deles. E os nossos alunos sabem disso! Eu penso que eles fazem essa opção na expectativa de se aproximar de um instrumental teórico e de um debate que os aproxime dessa compreensão.