Meu filho não conta nada sobre a escola

Por Daniela Munerato

Os filhos geram sentimentos inerentes ao tipo de relação que estabelecem com seus pais. Os pais desejam acompanhar, cuidar, controlar a fim de não deixarem que nada escape e possa gerar um sentimento de culpa ou falha. Conduta comum, afinal somos seres humanos! Enquanto estão com os filhos, observam cada movimento, e se deixam aos cuidados de familiares ou empregados também encontram maneiras de acompanhar cada ação, previamente combinada ou organizada. Mas, e quando os filhos estão na escola?

Quando estão na escola a situação é um pouco diferente. Apesar da confiança, do conhecimento da proposta e das unidades de trabalho de cada série, os pais buscam as notícias diárias. Para os professores, é praticamente impossível dar notícias a todos os pais da turma diariamente, e a ideia nem é essa. Por outro lado, a depender da idade e das características pessoais, muitas crianças compartilham parte do que fazem por aqui.

É comum acompanharmos os desabafos dos pais nas portas das salas. Ávidos por notícias fresquinhas que os transportem rapidamente para dentro da sala de seus filhos, pelo menos um pouquinho, os pais recebem seus filhos no momento de saída perguntando: “Como foi a escola?” “O que você fez hoje?”

As crianças estão imersas no contexto da despedida, saem da sala animados pelo que viveram no ambiente escolar, mas habitualmente driblando o cansaço. Observamos que reagem de diversas formas: acontecem os abraços apertados, as notícias confusas do dia, pois desejam contar em dois minutos tudo que vivenciaram em cinco horas. Outra reação vista neste momento é a breve resposta que gera muita frustração nos pais: “Tudo bem” ou mesmo fingem não ter ouvido, perguntando algo sobre o jantar, a família ou alguma atividade que ainda desejam realizar, ignorando o interesse dos progenitores.

Os pais ficam cheios de dúvidas: “Ele não tem o que contar? Então a escola não foi tão boa!”, “Será que aconteceu alguma coisa que ele não quer me dizer?”, “Será que não acompanha o grupo? Não aprende? Não tem interesse pelo que a professora está oferecendo ao grupo?”, “O que acontece que não me conta?”

É curioso, mas às vezes uma mesma criança pode assumir posições opostas na companhia ou na ausência dos pais, mostrando-se mais ou menos falante, a depender da companhia e do contexto. Em casa, longe do grupo e da professora e sem o desafio de fazer-se conhecer cada vez melhor, a criança pode dar notícias muito breves sobre um assunto perguntado ou preferir não responder a determinadas questões. Na escola, diante dos amigos e do desejo de participar das atividades, descreverá as situações com riqueza de detalhes.

É fato que o ganho da oralidade abre muitas portas para as crianças no campo das relações. Com o aumento do vocabulário elas observam que a palavra comunica sentimentos, desejos, controle ou mesmo a negação. As formas de expressão variam entre crianças: temos os que se expressam com facilidade, os que precisam de ajuda e os que sonegam informações. É só voltarmos um pouquinho no tempo e nos lembrarmos de que aprenderam que dizer “não” é algo que lhes dá um certo poder, dando-lhe a possibilidade de exercer um certo controle ou de colocar limites aos pais, assim como escolher o que compartilhar, quando e com quem. Na verdade, toda criança deseja comunicar as suas experiências, mas esta comunicação pode acontecer de diversas formas, pois as crianças são diferentes.

Então, quais seriam estas possibilidades de comunicação? Em primeiro lugar, ainda centrados neles mesmos, nossos pequenos aprendizes compreendem que se não contarem as notícias aos pais eles nunca saberão. Pode ser uma maneira de testar as relações e aprender como funcionam, como reagem seus pais a este tipo de situação. De qualquer forma, o que acontece na escola é reapresentado em casa de muitas formas. Quando reproduzem gestos ou falas dos professores. Quando apresentam um comportamento imitativo de um colega. Quando estão num jogo de faz de conta, representando papéis novos, que os pais nunca viram antes. Enquanto cantarolam uma canção ou tentam ensinar uma brincadeira...

O que os pais desejariam mesmo é que seus rebentos lhes colocassem a par de tudo, inclusive do que foi bom e do que foi ruim. Mas muitas crianças contam somente alguns episódios, e nem sempre no dia em que de fato aconteceram.  Isso quando não o fazem fora de contexto, como na hora em que vão se deitar, na fila do cinema, no carrinho de compra no supermercado... O tempo das crianças é diferente do tempo dos adultos!

Por fim, temos os episódios misturando a realidade e a ficção, muito comum na infância, e ainda relatos que implicam no olhar da criança, que compartilhar eventos a partir da sua vivência, de seus sentimentos, sem considerar o outro: “Hoje eu fiquei muito chateado, o meu amigo brigou comigo!” Mas esquece de dizer que o amigo brigou porque ela tirou o brinquedo, por exemplo.

Diante de todas estas colocações seguem algumas sugestões para viabilizarmos as notícias em casa. Como vimos, a criança não querer contar as novidades é muito esperado, mas fiquem atentos a outras formas de comunicação. Vocês também podem ajudá-la antecipando o que já sabem ou quando modificam suas perguntas. Se as aulas de música acontecem às segundas–feiras, perguntem sobre o Vicente, se cantaram e o que cantaram, se dançaram ou tocaram instrumentos, ao invés de perguntarem “O que você deseja contar do seu dia?” Sejam mais diretos perguntando:  “O Vicente propôs na aula hoje? Ensinou alguma música nova?”, “Como você fez esta produção que está exposta?” Para isto, pode ser interessante acompanhar as notícias no site da escola, apreciar juntos as fotos postadas, revisitar o planejamento anual da série, perguntando sobre determinada unidade de trabalho ou tema, observar os murais das salas e dos corredores e perguntar sobre eles. Estas podem ser algumas chaves que nos permitem abrir com mais facilidade as portas desta comunicação. Vale tentar!