A difícil arte de aprender que na vida há momentos de tristeza.

"Fiz ela na casa dela, brincando, porque ela ia gostar" - Fonte: Mural Grupo 3A

Por Daniela Munerato e Dayse Gonçalves - Coordenação da Educação Infantil

Sexta-feira, dia 2 de setembro, perdemos nossa querida aluna Julia Macedo, do G3A. Uma menina que vivia sempre fantasiada, que adorava ser princesa. Uma das últimas boas lembranças que temos dela é a carta que escreveu para a turma dias antes de falecer. Nela, contava sobre a festa de aniversário de princesas que seus pais tinham preparado para ela. Numa das passagens dizia que em vez de ter ido à Disney, a Disney tinha vindo até ela.

E foi essa a imagem que ficou da Julia para as crianças: a imagem de uma menina princesa, que gostava de brincadeiras simbólicas envolvendo fantasias, bonecas e bebês, casinha e comidinhas, tudo muito delicado, como ela própria era.

No mural de despedida e de homenagem à companheira querida podem-se ver muitas referências a esse universo.

Trabalhar na construção deste mural foi muito importante, porque ajudaria as crianças a compreenderem que a relação com a colega não acabaria ali. Mas tínhamos uma dúvida: e se nem todas as crianças quisessem participar? Afinal, as crianças lidam de um jeito muito diferente dos adultos nestas situações. E podia ser também que ao longo dos dias algumas manifestassem alteração de humor. Algumas poderiam sentir raiva, poderiam ficar mais agitadas, voltar a fazer perguntas... Era preciso lidar com isso. Esperávamos também que ainda que sentissem tristeza, certamente iam querer brincar e se divertir, porque é brincando também que a criança aprende sobre a vida. Sabíamos que era importante ensinar a elas também que não existem normas no que diz respeito a sentimentos. Que não existem sentimentos bons ou ruins.
Todos os colegas de turma quiseram participar. Então o mural ficou ali, num lugar escolhido por todos. Sabíamos que ele nos ajudaria a construir um outro tipo de vínculo com a amiga Julia. Ele nos daria a oportunidade de conversar sobre saudade, além de nos ajudar a ter boas lembranças, que guardaríamos como pequenos tesouros em nossos corações.

E foi assim que começamos a semana, com grandes desafios a enfrentar: o primeiro deles era o simples ato de receber as crianças. E se nos emocionássemos? Era preciso lembrar de tudo que já tínhamos lido e das orientações recebidas da Dra. Maria Helena Pereira Franco, que foi um porto seguro para nós nos últimos meses, e que nos ensinou que se acontecesse de nos emocionarmos, estaríamos ensinando às crianças a lidar naturalmente com seus próprios sentimentos. Sabíamos também que elas chegariam com o que tinham para expressar e perguntar. Isso mesmo, perguntar. As crianças lidam com a morte de um jeito muito diferente do adulto. São curiosas e desejam compreender o mundo e os acontecimentos à sua volta. Seria preciso responder às perguntas de forma simples, mas com honestidade, não utilizando metáforas. E, por último, o desafio de marcar este momento de tristeza que o desaparecimento de Julia representava para nós, e por essa razão a rotina não podia ser a mesma de todos os dias, ainda que soubéssemos que enfrentando este tipo de situação e dando vazão à nossa tristeza, sentimos também necessidade de nos distrairmos, como já foi dito. Então nos permitimos demorar um pouco mais na oficina de Arte do que de costume, escolhemos juntos uma brincadeira para realizar. E alguém teve a idéia de escolher uma das brincadeiras preferidas da Julia para realizarmos naquele dia. E foi assim que ficamos todos muito juntos no dia do reencontro.
A experiência de perder seres queridos – como Matheus e Julia - é terrível mas traz alguns aprendizados. Aprendemos um pouco mais sobre como lidar com nossas emoções, com nossos sentimentos, sobre como tratar do tema com nossos alunos, com crianças pequenas, e que a morte é parte integrante da vida.

Queremos concluir este post com um agradecimento especial aos pais das crianças do G3A e do G3Bm, e em especial à Priscila e Nícolas, que demonstraram tanta solidariedade e ofereceram tantas formas de ajuda.
Queremos agradecer também aos professores da Educação Infantil: em especial à Mariana Mas, por sua coragem e sensibilidade, ao Vicente, à Marisa, à Regina e à Lili, dentre outras coisas por terem aguentado firme, conseguindo ser e fazer o que era preciso durante este tempo.

Por último, queremos incluir aqui a colega Joana e seu marido Rodrigo - pais da princesa Julia -, que junto com os outros pais, confiou em nós e a nós seu pequeno tesouro, e que tanto nos ensinaram.