Ingredientes para uma boa resenha (e para uma ótima situação de interação com um autor!)

Oficina com Chico Moura

 

 

Por Andréa Luize (coordenadora do núcleo de práticas de linguagem e profª da pós-graduação)

Uma boa resenha literária contempla:

- 1 dose de apresentação da obra,

- 1 dose de análise do resenhista.

É claro que fica muito melhor se for escrita para um público previamente determinado, e se for elaborada a partir de uma opinião crítica, bastante fundamentada. Só fica melhor ainda se feita sob a orientação de um renomado especialista: Chico Moura.

A experiência de produzir resenhas e de refletir sobre seu papel na escola foi vivenciada por um grupo de 25 educadores, vindos de diferentes instituições e regiões do Brasil,  no sábado, dia 3 de setembro.  Para os participantes, imagino que, como para mim, tenha sido um presente partilhar desse período de trabalho com Chico Moura que, com total maestria, conduziu a terceira Oficina com Autores organizada pelo Centro de Formação. Nosso ilustre autor guiou-nos pelo universo das resenhas: como se diferem das sinopses, das indicações e dos resumos, quais as características essenciais, como marcar a análise e a opinião, por vezes, de forma até sutil, por meio de verbos e conectivos potentes. A leitura e a discussão de um conjunto de resenhas deu mais vida às colocações que ele fazia; sob suas intervenções, conseguíamos enxergar até nas entrelinhas a quem o texto se dirigia ou mesmo o que o resenhista queria nos dizer.

Resenhar uma obra está longe de ser tarefa simples e pouco desafiadora. O fato de ser, em alguns veículos, um texto mais curto não significa que, do ponto de vista da produção, seja um texto menos árduo. Supõe um olhar crítico e apurado sobre a obra, e um distanciamento necessário para isso, considerando o interlocutor em jogo e o propósito do texto. Chico Moura convidou os participantes da oficina a criar uma resenha para professores, apresentando a obra escolhida e tecendo argumentações sobre o que potencializaria num trabalho em sala de aula. Enquanto trabalhávamos na elaboração de nossas resenhas, Moura foi nosso professor e realizou leituras de versões dos textos, discutiu ideias, tirou dúvidas, fez intervenções pontuais para nos apoiar na tarefa. E foi sob sua tutela que conseguimos elaborar os textos, lidos em voz alta para os colegas, ao final do período de trabalho com o autor.

Na segunda parte do encontro, discutimos o potencial das resenhas também para a formação de leitores: ter de analisar o livro lido ou ouvido supõe distanciar-se dele, supõe olhar para a história com outros olhos, buscando nela o que pode instigar o interesse e a curiosidade de outros leitores. Com esse objetivo, foram apresentados aos participantes os trabalhos encaminhados em classes de Educação Infantil e do FI da Escola da Vila, especialmente propostas inseridas em sequências de leitura, nas quais se perseguem gêneros ou autores. O foco maior foi dado a duas sequências: a de conhecer Eva Furnari nas turmas de cinco anos de idade, e a de conhecer contos escritos por Andersen, nas turmas de 3º ano.

Além de refletir sobre as resenhas como textos de circulação social e potentes para o trabalho de formação de leitores e de escritores, pudemos vivenciar uma rica e inesquecível experiência de produção. Afinal, muitos dos participantes nem se imaginavam no papel de resenhistas, tarefa realizada com afinco por todos, e, menos ainda, imaginavam receber elogios de Chico Moura, o que alguns também puderam levar como recordação!