Os avós visitam a escola de seus pequenos netos.

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Por Dayse Gonçalves

Na Educação Infantil, segmento onde as crianças são, na sua maioria, acompanhadas por adultos à hora da chegada e da saída, observamos que muitos avós contribuem de forma muito ativa na organização da rotina das crianças (e, porque não dizer, de seus pais!). Não é incomum observarmos netos e netas comemorando a chegada do avô ou da avó (ou de ambos) no final do período em determinado dia da semana. Ouvi ao longo de todo o Grupo 1 um menininho dizer, há alguns anos: “Hoje é dia do meu avô Zé vir me buscar!” E era sempre emocionante o encontro entre os dois. De onde estivesse vinha para encontrar, de braços abertos, o vovô Zé. Saía no colo – apesar de já bem crescidinho – mas estava justificado porque aquele colinho era uma extensão do abraço que tinha só começado no momento do encontro.

O vô Zé, pelo que sei, ainda vem uma vez por semana (e já está no seu quarto ano de EV), mas há os que têm uma participação ainda maior na vida dos pequenos, se responsabilizando por trazê-los ou buscá-los mais dias na semana. Outros, ainda, gostariam de ter esta chance, mas vários fatores os impedem. Mas têm ao menos a oportunidade de vir num dia muito especial à escola: o dia em que a turma de G1 os recebe para uma boa conversa sobre seus tempos de criança. Então os avós têm o seu dia nas turmas de Grupo 1. Cada dia vem uma avó ou um avô. Ou ambos, se forem avós do mesmo neto.

Agora no segundo semestre há um cronograma de visitas agendadas, com promessas de conversas sobre os mais variados temas: brincadeiras de infância, histórias preferidas, lanches inesquecíveis, lembranças de brinquedos, jeitos de se vestir para ocasiões especiais, a entrada na escola, as fantasias que vestiam, os lugares que frequentavam ou que visitavam nos passeios em família, o cinema na sua época, canções nunca esquecidas, etc.

Para nós, que desenvolvemos esta Unidade de Trabalho há muitos anos, é muito interessante e também muito gostoso acompanhar como avôs e avós, com seus relatos, fotos e objetos de época, vão se apresentando às crianças pequenas. Melhor, vão apresentando um tempo diferente do das crianças, e com isso as crianças vão fazendo incríveis descobertas. Isso mesmo, descobertas!

Outro dia, por exemplo, ouvindo uma mãe comentar de uma brincadeira de infância da avó, ouvi uma criança de três anos comentar de volta que não sabia que sua avó tinha sido criança. Não é uma graça? O pensamento infantil é muito interessante. Para os pequenos, tudo sempre foi como se apresenta para eles neste momento. Das pessoas às formas de viver e de se relacionar. Por essa razão este convívio intergeracional é tão importante. Aprender que se aprende sobre um tempo passado ouvindo um depoimento, um relato, ou, ainda, conversando sobre uma imagem ou objeto de época.

Lembro-me de uma vez também, em que uma avó enviou para a escola, atendendo às solicitações da professora da neta, fotografias de quando era pequena. Foi um momento mágico para a neta, para a professora e para seus amigos! Todos os colegas, inclusive a própria criança, diziam ser aquela foto da menina. Então a professora conversou com eles sobre um outro possível tipo de herança que costumamos recebemos de nossos avós: a semelhança física!

Dentre tantas descobertas maravilhosas por parte dos pequenos, há ainda a magia que o encontro representa para os próprios avós. É sempre com gosto e empenho que se preparam para vir à escola. Poder relembrar passagens gostosas da infância, poder abrir seus guardados (memórias concretas e imateriais) para compartilhar com os pequenos... Do lado dos pequenos, a surpresa de reconhecer no “lenço atrás” o corre cotia ou o pato pato ganso que brincam hoje, ou em saber que não havia muitas fantasias que existem hoje, e nem que não eram usadas no dia a dia. Em compensação, havia outras coisas muito legais com que meninos e meninas se divertiam.

Dentre as muitas razões para manter este trabalho nas turmas de G1, a principal talvez seja mesmo essa: a de reconhecer no nosso presente o passado de nossos avós. E de se reconhecer neles e de reconhecê-los em nós.