Inclusão e formação do professor. Uma questão de parceria.

Por Maria da Paz (Gunga) – Orientadora de Práticas Inclusivas

“Eu tenho um aluno com...”; “Vou receber no próximo ano um caso de...”;  “O que fazer quando uma criança com diagnóstico de...”; “Como alfabetizar uma criança que tem...”. Estas são, invariavelmente, as primeiras frases que ouvimos ao dar início aos cursos sobre  educação inclusiva. Na maioria das vezes, nos deparamos com professores bastante preocupados e temerosos, sempre em busca de uma resposta e da maneira “certa” de lidar com aqueles alunos que apresentam características que lhes são pouco familiares.

Qual o papel do formador nesta situação? Como ajudar o professor? É possível (e formativo) responder a estas questões?

 Na Escola da Vila contamos com algumas instâncias (internas e externas) de formação dos professores para lidar com a diversidade de alunos: a interlocução do professor com o orientador; as reuniões organizadas nos diferentes segmentos em que são abordados assuntos referentes ao tema da educação inclusiva;  a observação e a atuação do orientador de práticas inclusivas nas salas de aula; o atendimento solicitado pelos professores e funcionários; e os cursos ministrados em programações do Centro de Formação, abertos aos  profissionais de outras instituições.

 Se, por um lado, nessas ações de formação é importante oferecer  algumas respostas e informações relacionadas às situações que os educadores nos apresentam, por outro, é fundamental que cada um perceba que pode e deve contar, antes de tudo, com sua própria formação e experiência como educador. Assim, a atuação do formador visa, sobretudo, a ajudar o professor a reconhecer e a encontrar, em seu percurso em sala de aula, os recursos que já tem, e que, com certeza, serão seus mais importantes instrumentos de trabalho.

 Informar, explicitar características específicas e compartilhar aspectos do diagnóstico são ações que, sem dúvida, podem apontar alguns caminhos para lidar com os novos desafios que se apresentam aos professores, além de  transmitir a eles certa segurança para enfrentar os primeiros dias, mas podemos afirmar que este é um primeiro e pequeno  passo de seus percursos formativos. Na verdade, a formação para a inclusão que almejamos (tanto nas ações internas quanto naquelas dirigidas aos professores de outras escolas), tem início quando o professor, ao deparar com seu novo aluno, se pergunta: “E agora, o que eu faço?”. É a partir deste momento que tem início uma interlocução legítima entre professor e formador, pautada nas observações, nas impressões e nos questionamentos que passam a existir após os primeiros encontros com os alunos. É preciso, antes de tudo, esperar que as verdadeiras perguntas surjam, para construirmos algo em cima delas.

“Uma resposta nunca merece uma reverência. Mesmo que for inteligente e correta, nem assim, você deve se curvar para ela.” [...] “Quando você se inclina, você dá passagem”, e a gente nunca deve dar passagem para uma resposta. ”A resposta é sempre um trecho do caminho que está atrás de você. Só uma pergunta pode apontar o caminho para a frente.” (Gaarder, Jostein, 1999, p. 28)

A formação para a inclusão é algo que vai além do que conhecemos e estamos acostumados a fazer. Por se tratar de situações em que o desconhecido e o estranho se colocam, é preciso que o professor possa contar com a escuta e a interlocução do formador, garantindo, assim, espaço para externar suas dificuldades, seus medos, suas estranhezas. Vale dizer também que, ao contrário do que se pode pensar, esses encontros não transmitem conhecimentos e, sim, fazem com que venham à tona e sejam, gradativamente, ressignificados.

O principal objetivo de nossas ações formativas, então, é fortalecer a atuação do professor e fazer com que seja ele o protagonista de seu fazer diante do desafio da inclusão, construindo um ciclo de AÇÂO-REFLEXÂO-AÇÂO (perseguido em todas as ações educativas).

Não podemos deixar de abordar aqui dois aspectos relevantes, que caracterizam a prática construtivista. O primeiro deles diz respeito à autonomia: toda ação educativa e formativa visa, entre outras coisas, a preparar o sujeito (aluno ou professor) para atuar (em todos os sentidos) munido de uma autonomia cada vez maior. Assim, é fundamental que o formador consiga, gradativamente, desafiar o professor a tomar as próprias decisões, avaliar as estratégias escolhidas e, principalmente, lidar com os próprios erros, de forma a fazer deles novos pontos de reflexão e reconstrução de sua prática. O segundo, não menos importante,  aponta para a necessidade de trabalhar em parceria, pois no nosso entender, é só desta maneira que o conhecimento se constrói. Nossos professores estão, hoje, em diferentes momentos do processo de formação para a inclusão, e encontram na troca de experiências e na interlocução horizontal, outro espaço significativo de formação.

 Por fim, é com bastante segurança que afirmamos que na Escola da Vila e em nosso Centro de Formação, as ações  formativas de professores para inclusão não culminam no fazer da sala de aula, mas encontram aí a sua nascente.