As perguntas das crianças e as respostas dos adultos.

Por Daniela Munerato

Crianças... São incrivelmente observadoras, espertas, manifestam seus saberes de muitas formas e sempre querem saber mais. E nós? Como respondemos a todas as questões?

Iniciamos nossa reflexão lembrando que a aquisição da fala marca um momento importante na vida de qualquer criança. O falar abre portas, permitindo a comunicação, a interação, a expressão de sentimentos e desejos.

É através da interação também que as crianças observam respostas diferentes para as mesmas situações, e que a comida preferida, o repertório musical, as brincadeiras escolhidas variam a depender das pessoas. No início esta percepção gera conflitos, pois as informações são vistas como oponentes, como se a única resposta para uma boa pizza só pudesse ser de queijo e que qualquer outra palavra faria do queijo ruim. Mas, progressivamente, e com a ajuda dos adultos e de seus pares, elas conseguem compreender que opiniões diferentes fazem a diversidade, não significa ”e” ou somente “ou”.

Nós, enquanto adultos, observamos um movimento de repetição intenso dos nossos pequenos; tudo que escutam repetem, tentando construir sentidos, ampliando repertórios. O fato é até engraçado, pois repetem as palavras como compreendem e temos “batatinha quando nasce esparrama pelo chão” ao invés de “espalha a rama pelo chão”, “todos foram pelo menos eu” ao invés de “menos eu”, e “limãosile” para limusine, “açúrcar” para açúcar, e muitos outros exemplos. Assim, qualquer palavra pode ser reproduzida dentro e fora de contexto onde fazem sentido, pelo som que provocam, ritmo, extensão. Quantas vezes as crianças saem da escola cantando um trecho de uma música apresentada em uma história: “Eu sou um bolinho de creme reachado” e os pais não conseguem compreender.

Aos poucos, as palavras se tornam cheias de significado e com elas se formam frases cada vez mais completas, que conduzirão informações, desejos, sentimentos, pensamentos, regras a serem seguidas, para que sejam possível a convivência e o estabelecimento das relações.

Aos dois anos de idade a criança aprende a dizer “não” e esta será a resposta mais provável para tudo que for perguntado. Depois, o vocabulário vai aumentando até chegarmos aos famosos “porquês”, “como”, “onde”?

A criança chama: “pai, mãe” e lá vem o frio na barriga “o que será que vai perguntar desta vez?”

O importante é compreendermos a função desta frase, já que qualquer que seja a pergunta, não requererá extensas explicações. Algumas vezes a criança deseja somente obter uma informação, outras vezes, confirmar algo que já sabe. O principal é sentir-se atendido, cuidado, considerado. Ouvir mais de uma vez a mesma resposta também traz alguma segurança. Uma criança que mudará de endereço precisa ouvir muitas vezes que seus brinquedos irão com ela. Afinal, ela não pensa como nós!

O que precisamos considerar quando as crianças perguntam? A pergunta em si, o que elas desejam saber pontualmente, mesmo que do nosso ponto de vista a resposta pareça incompleta. Se sentir necessidade, a criança fará outras perguntas. Na dúvida sobre a questão, tente compreendê-la melhor. ”Você está falando disto? Onde ouviu isso? Para eu te responder, preciso saber o que fez você pensar sobre isso”

Enfim, o importante é responder. Esquivar-se das perguntas só gera ansiedade e até insegurança. Se o adulto de referência não responde, a criança continua perguntando para outras pessoas. Então, melhor que sejamos estas referências que acompanham as curiosidades e pensamentos de nossos pequenos, que vivem em permanente exercício a fim de compreenderem a nossa sociedade e as relações de modo geral.