Evento especial com Ana Siro e Pablo Novoa.

Por Cibele Lopresti Costa - Professora da disciplina de Estudos Literários do curso de Pós-Graduação em Alfabetização da Escola da Vila e formadora de professores

No último dia 18, a Escola da Vila recebeu a visita de Ana Siro para a palestra intitulada A poesia no contexto escolar e não escolar. O evento contou com a participação especialíssima de Pablo Novoa, músico talentoso que, com sua voz e violão, promoveu intervenções artísticas essenciais para a compreensão da fala da pesquisadora.

Ao longo da palestra, Ana Siro comentou possíveis estratégias didáticas para a criação de significados ao texto poético, ressaltando a necessária exploração entre som, sentido e imagem. Segundo a pesquisadora, as sequências didáticas devem promover o aprofundamento da compreensão textual e de sua estética e, ainda, da relação intrínseca entre essas duas instâncias. Para tanto, foram apresentadas algumas das experiências desenvolvidas pela dupla em escolas públicas da Argentina.

Na medida em que os relatos avançavam, as concepções teóricas e metodológicas da autora tornavam-se mais claras e as intencionalidades didáticas, ampliadas. O público pôde vivenciar, na prática, o que ela dizia sobre “converter a literatura em experiência”. O que vivemos foi o resgate de sensações, de memória, de sentidos esquecidos na cotidianidade. Aos poucos, nossas sensações foram despertadas por textos sussurrados, literalmente, em nossos ouvidos; por músicas que nos arrancaram do automatismo para o sensível. Assim, na experiência coletiva, vivificamos o que há de particular e sensível em cada um de nós.

Certamente saímos diferentes, pois aquela sexta-feira pareceu-nos modificada. Ou fomos nós modificados pela experiência de ouvir música, poesia e pela companhia de nossos pares?

Escrevendo esse texto, afirma-se em mim a convicção de que a arte é sim capaz de atravessar nossos sentidos e promover transmutação. Que as experiências de Ana Siro e Pablo Novoa sejam referência para nossa prática e reflexão.

Transcrevo um poema do heterônimo Ricardo Reis (1) citado ao final da palestra, um dos meus prediletos:

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a Lua toda

Brilha, porque alta vive.

(1)Ricardo Reis foi um dos três heterônimos de Fernando Pessoa, além de Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Cada qual possuía características, estilo e poética próprios. Nas palavras do autor: “Por qualquer motivo temperamental [...] construí dentro de mim vários personagens distintos [...] a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e ideias...”. Disponível em: www.pessoa.art.br