O que caracteriza a adolescência? Um encontro com Lidia Aratangy na Escola da Vila.


Por Tiago T. Lima

No dia 10 deste mês, recebemos na escola a psicóloga Lídia Aratangy para uma conversa com os pais de 6º, 7º e 8º anos sobre adolescência. Para os cerca de 60 pais que compareceram, foi uma oportunidade para tratarmos de um assunto que nos provoca tantas questões e incertezas. Pena que mais gente não pôde vir! Justamente por ser a adolescência uma fase, em grande medida, de indeterminação – na qual a criança, que tinha sua identidade construída a partir do olhar de seus pais, começa a abandoná-la para construir uma que lhe seja própria – é que também nós, enquanto pais e educadores, somos exigidos a sustentar como resposta uma posição coerente e definida cuja medida nem sempre é simples de encontrar.

Lídia abordou de uma maneira descontraída questões que ficam muitas vezes pesadas para conversarmos, utilizando exemplos e situações cotidianas para transmitir uma noção profunda, cujas consequências não são simples de identificar: a de que a adolescência é a fase da vida em que nos deparamos com nossa solidão. Ou seja, compreendemos que há um caminho aberto que depende apenas de nós e que as referências que tínhamos na infância não são mais suficientes. Descobrimos um mundo interno em nós mesmos e nos outros entre os quais uma comunicação plena é impossível.

Ela conseguiu, então, por meio da sua fala, fazer um panorama dos tipos de relações possíveis para o adolescente, dentro e fora da família, e o respectivo valor de cada um. Distinguiu, dessa forma, a amizade da autoridade/responsabilidade; o apoio do limite; maternagem de frustração – onde cada um dos termos desses pares tem sua importância.

Sobre os tempos atuais, falou das novas possibilidades de desempenho dos papeis familiares a partir da diversificação de configurações familiares e das questões de gênero. Conversou como não adianta nutrir uma posição de saudosismo de quando éramos crianças; de um tempo em que os limites impostos por nossos pais eram tão claros e sua autoridade tão inquestionável. Afinal, não podemos esquecer-nos dos problemas dessa configuração familiar, nem tampouco das vantagens que uma relação mais próxima com os filhos traz. Trata-se então de encarar o desafio de manter uma relação com os filhos que, se não tão mais rígida, não deixa de estabelecer limites e deveres para a criança de forma vertical.

Nas entrevistas e nas reuniões de pais, escutamos muitas vezes das famílias dúvidas e demandas dirigidas à escola que passam por esse tipo de discussão sobre a faixa etária e relação dos pais com os filhos. Porém, além de às vezes precisarmos de um tempo para reunirmos diferentes pontos de vista para responder, é preciso também nos lembrarmos das limitações da escola em tratar ou manejar certas questões que estão para além da sua alçada, não perdendo o foco na parte pedagógica. Por isso, nossa opção para neste momento, tal como se fez noutros tempos na escola, de trazer um convidado, com um ponto de vista exterior ao nosso, que pudesse trazer alguns elementos novos para pensarmos – e um pouco mais dos já conhecidos, mas que organizados sob o olhar de Lídia, parece que têm sua potência renovada.