Os desafios motores e os acidentes no espaço escolar.

Por Marcos Santos Mourão (Marcola)

O início das aulas traz as crianças de volta aos desafios físicos e motores do convívio escolar. Desde os pequenos, com os desafios relacionados ao novo espaço, até os “veteranos” com as brincadeiras de correr e pegar no parque, todos, inevitavelmente, se defrontarão  com os obstáculos físicos. Na maioria das vezes estes obstáculos são superados sem maiores problemas, mas em certas ocasiões eles podem causar acidentes, com alguns “ralados e galos”. Quando as crianças se machucam, somos inevitavelmente levados a perguntar: - Como foi que aconteceu? Aonde aconteceu? Com quem aconteceu? Certamente os pais também precisam e querem saber os cuidados dispensados aos filhos num momento de dor (e cabe a escola esta comunicação). Mas a abordagem dada neste texto para os acidentes é de outra natureza. Pensaremos na relação do espaço como elemento curricular. Nas escolas tradicionais, tanto a sala de aula como os espaços externos são rígidos e imutáveis, ou seja, a disposição das mesas, dos brinquedos do parque, das áreas de deslocamento e brincadeiras já são dados e não aceitam interferências nem do professor e muito menos das crianças. Do ponto de vista motor, existe uma conduta padrão correta para os deslocamentos, os sentidos na circulação das crianças, a ocupação dos materiais e do espaço no parque, que entre outras coisas, restringe a capacidade das crianças em lidar com os desafios e obstáculos do espaço físico. Pelo excesso de controle, é provável que os acidentes, quando ocorrem com as crianças, sejam tratados como desobediência delas ou descuido dos educadores.

Uma educação voltada para autonomia corporal pressupõe a existência de desafios físicos, que disparem inúmeras possibilidades de resolução nas crianças. Isso equivale a oferecer desde cedo diversas experiências motoras com brincadeiras, circuitos e exploração de materiais que promovam a descoberta e combinação de diferentes habilidades. Os espaços da escola devem ser vividos como componentes instrumentais, ou seja, devem ser mutáveis sempre que necessários. Pelos desafios oferecidos, é preciso que os acidentes, quando ocorrem com as crianças, sejam tratados como parte do processo de desenvolvimento. Uma parte sofrida, mas inerente.