De que Ciências falamos na Educação Infantil?

Por Daniela Munerato e Mariana Mas

Uma das principais características das crianças nesta fase do desenvolvimento é a grande curiosidade que as mesmas revelam por tudo que encontram e desejam compreender. Na escola e fora dela são muitas as experiências e inúmeras são as oportunidades de ampliar o conhecimento de mundo.

As próprias brincadeiras das crianças estão inseridas neste universo. O tempo todo as crianças tentam por em jogo o que já sabem, bem como experimentam novidades, de modo que o conhecimento empírico lhes garante grande repertório para interagir com o novo. Quem nunca misturou água e flores para uma comidinha na brincadeira de casinha? Ou fez uma poção mágica com sabonete ou restinho de shampoo na hora do banho?

Acontece que as experiências vividas muitas vezes passam despercebidas. As crianças resolvem muitos problemas no dia a dia mas refletem pouco sobre eles. Sabem que o alimento está sendo cozido e que logo, logo, o almoço ou o jantar será servido, percebem o aroma e as transformações a que são submetidos, mas não fazem muita ideia do que aconteceu para que essas mudanças ocorressem.

Na escola, este tipo de reflexão está garantida nas várias situações que envolvem, por exemplo, uma sequência de didática intitulada “Transformação nos alimentos”, que desenvolvemos com crianças de G3. Neste trabalho, de forma envolvente levamos as crianças a se aproximarem de conteúdos da química, como os conceitos estruturantes de matéria e transformação, e sempre nos surpreendemos com o que dizem e sobre o que podem pensar quando realizamos os experimentos combinados com os pequenos, muitos deles por eles propostos, para verificarmos suas ideias, suas hipóteses.

Na semana passada, mais uma vez, a equipe da Educação Infantil contou com a orientação de Ana Espinoza*, através de uma supervisão sobre o trabalho que desenvolvemos neste segmento. Mais uma vez, esta especialista nos ajudou a pensar sobre como pode ser tão instigante e ao mesmo tempo tão potente trabalho neste eixo com crianças pequenas, que já podem ser levadas a indagar, argumentar, enfim, CONHECER.

Ainda sobre o Grupo 3 (5 - 6 anos), o foco de uma de nossas sequências é o cozimento dos alimentos. Explicar o rápido cozimento da batata picada quando comparado ao cozimento da batata inteira, bem como de outros materiais, é o grande desafio. A cada visitação ao tema, novas conexões são estabelecidas e se tornam conhecimentos prévios para abordagens cada vez mais substantivas ao longo da escolaridade.

Vejam algumas falas de crianças desta série quando tentam explicar o cozimento mais rápido da batata picada:

“Eu já sei! A inteira veio dura e a picada, quando a gente corta, já vai ficando mais mole”.

“A inteira ficou dura porque não colocou água e fogo dentro dela e aí não ficou mole”

“A batata, antes de por no fogo, não é dura? Então se você abre ela entra água quente e ar na batata e aí fica mais mole! E a dura está com casca e inteira, a água não encontra o meio e aí não fica mole.”

“A batata inteira só tem água em volta dela e no meio não”.

“Eu acho que na inteira a água fica em volta, e na picada a água encontra por dentro da batata. Não tá picada? Então, a água fica por dentro! A inteira não tem buraco para água entrar”.

Em outra oportunidade daremos notícias do trabalho desenvolvido com outros grupos deste segmento. Aguardem!

*Ana Espinoza é licenciada em Química pela Universidade de Buenos Aires e é professora de Didática de Ciências da Educação.