Irene Antunes

Ex-aluna da Escola da Vila, Irene foi chamada para trabalhar conosco em 2006, na Educação Infantil. Desde então, passou por todos os segmentos da Escola, ingressando, neste ano, na equipe de Orientação Educacional do Ensino Médio.

Conte um pouco do seu percurso na Escola da Vila.

Irene: No final de 2005 vim realizar uma atividade com alunos de Educação Infantil como parte de um projeto de pesquisa que eu estava desenvolvendo na faculdade de Psicologia e encontrei minha orientadora dos tempos de aluna da Vila, nos corredores. Ela me perguntou se eu ainda dava aulas particulares, atividade que eu exercia desde os 15 anos, e pediu que eu reenviasse meu currículo; logo em seguida, fui chamada pela Coordenação da Educação Infantil para apoiar o trabalho de uma classe em que havia um aluno com grandes dificuldades motoras. Assim comecei.

Dali um ano e meio, Vânia Marincek, diretora do segmento, me ofereceu assumir como titular numa sala de Educação Infantil, mas para isso eu teria que trancar a Psicologia e estudar Pedagogia. Eu fiquei muito contente e sabia que encontraria muita satisfação com esse trabalho, mas estava envolvida com meu curso e queria encontrar uma porta de entrada na Educação com a formação que estava tendo. Perguntei se havia a possibilidade de estagiar na Orientação Educacional e logo depois consegui uma oportunidade de trabalhar como assistente de OE no Ensino Fundamental 1.

Foi uma experiência muito rica: acompanhar todo um segmento, as especificidades de cada ano/faixa etária – as formações grupais, as diferenças de gênero, a relação dos alunos com o professor e com a própria orientação, os conflitos e suas resoluções. Esse foi meu primeiro contato com as assembleias de classe e com os textos de Joseph Puig e Ulisses de Araujo, que tratam do tema da formação moral dentro da escola. Acompanhar as reuniões de orientação de professores também foi muito importante, tanto para conhecer suas perspectivas dos problemas que enfrentam em sala de aula, quanto para aprender com as reflexões, sugestões e avaliações da orientação, experiência de algum modo semelhante às supervisões clínicas que fazemos para falar dos pacientes do consultório.

O estágio foi enriquecedor também porque pude acompanhar o trabalho que realizamos com as famílias. Na época, eu fazia atendimentos de pais na Clínica do Instituto de Psicologia da USP, pelo Laboratório de Casal e Família, que recebe crianças encaminhadas para a psicoterapia pela escola e aposta numa proposta de trabalho também com os pais, e muitas vezes somente com eles. Essa experiência certamente foi somada ao meu trabalho na Escola, onde pude entrar em contato com essa questão sob outra perspectiva. Esse é um trabalho que sigo desenvolvendo no consultório hoje.

Enfim, em 2008, houve remanejamento nas equipes de Fundamental 2 e Ensino Médio e Sônia Barreira, diretora geral, me chamou para trabalhar como assistente de OE no F2. Foi uma surpresa. Eu tinha acabado de chegar no F1 e sentia que ainda tinha muito que conhecer do segmento. Mas, Sônia foi compartilhando comigo as razões para a proposta, as demandas de trabalho do segmento e disse que acreditava que tinha a ver com meu perfil e que eu ia gostar. Estava certa. No final do ano passado me apresentou esse novo desafio: ingressar na equipe de Orientação do Ensino Médio.

O que você pensa sobre a entrada do psicólogo na equipe de orientação educacional?

Irene: Quando surgiu a demanda de se separar o trabalho do coordenador pedagógico do orientador educacional foi natural que fossem trabalhar nesse novo cargo profissionais experientes, com tempo de casa, que conheciam bem a instituição, a comunidade escolar e, é claro, as características das faixas etárias com as quais trabalhariam. O mesmo sempre ocorreu quando da contratação do coordenador pedagógico. De uns anos para cá, a demanda de trabalho do Orientador mudou e acredito que foi se avolumando, tanto como consequência das novas características da família contemporânea, quanto do percurso e amadurecimento do próprio cargo, que foi ganhando forma e agregando funções. Acontece que, nesse movimento, surgiu também a necessidade de se ter o assistente de OE, um apoio ao trabalho da orientação, o que abriu na escola o espaço para a formação também desse profissional, o orientador. Psicólogos e estudantes de Psicologia interessados na área da Educação, e que não têm exatamente a formação e o foco na sala de aula, tiveram aí a oportunidade de inserção no ambiente escolar.

A formação do seu profissional sempre foi um diferencial da Escola da Vila, através de orientações individuais, reuniões semanais da equipe, produções de relatórios reflexivos da prática e participação nos cursos oferecidos pelo Centro de Formação da Escola, dentre outros. Nesse contexto, a prática de trazer professores experientes para a equipe técnica não foi de forma alguma excluída, tendo inclusive acontecido nos últimos anos, mas a Escola vem também formando, ao longo dos anos, outros profissionais, da mesma forma que sempre formou professores estagiários.

Que aspectos do seu trabalho você destacaria como desafiadores?

Irene: São inúmeros. Os desafios são diários, afinal lidamos com um grupo muito grande de alunos, pais e professores. Os adolescentes são ainda tão jovens, mas já com muita bagagem nas costas. O trabalho primeiro está no que diz respeito ao escolar, afinal estamos numa escola. Daí que lidamos diariamente com o desafio de trabalhar, juntamente às famílias e à equipe de professores, para inserir no projeto pedagógico da Escola aqueles alunos que não têm adesão às situações de ensino/aprendizagem propostas, ou porque não têm bom vínculo com o estudo ou por causa de dificuldades específicas de aprendizagem.

Diferentemente do que acontecia no Fundamental, conflitos que dizem respeito aos agrupamentos são menos comuns no Ensino Médio, já que os adolescentes os intermediam de forma mais autônoma. Por outro lado, as questões individuais se tornam mais complexas, mais próximas dos problemas enfrentados pelos adultos, universo para o qual muitos já estão mirando. Nesse contexto, apoiar os meninos e meninas nessas questões também é um desafio. São muitas conversas, entre as aulas, nos intervalos, e mais conversas, e pedidos de ajudas, e pedidos de “deixa que eu resolvo”, e entrada dos amigos, e reflexões, informações, broncas, birras, reconciliações, enfim, um cotidiano intenso de trocas, relações, construções e aprendizados que fazem do dia-a-dia de trabalho justamente aquele almejado por mim, quando da busca por trabalhar numa instituição escolar.

Lembro de novo de minhas entrevistas na ocasião das mudanças de cargo e segmento ao longo do meu percurso na Escola da Vila em que eu sempre dizia que seja em sala de aula, na OE, no F1 ou EM, o fazer é ainda o mesmo: educar!