Criança namora?

crianca namora?

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Por Fernanda Flores - Coordenação da Educação Infantil e 1º ano

“Eu namoro o João e a Ana namora o Bruno. Às vezes, a gente troca...”

Muitas vezes, ao ouvir frases como essa, pronunciadas em casa por crianças que há pouco precisavam de ajuda para andar, observamos certa ambiguidade na reação de pais e adultos em geral. Vemos aqueles que acham engraçado seus filhos “elegerem”, desde pequenos, pares para chamar de namorado; outros que se perguntam se aquilo é uma brincadeira natural da idade e como deveriam atuar; há também aqueles que, sem titubear, dizem aos filhos que isso não é coisa de criança; e outros ainda, que incentivam o assunto, perguntando frequentemente aos filhos e contando em rodas sociais que o filho ou a filha já tem um namoradinho.

Ah, mas deixem as crianças falarem em casa que se beijaram na escola...

A questão que trazemos para reflexão é sobre o que comunicamos às crianças quando há espaço para essas contradições. Ao brincar de mamãe e papai e imitar as ações normalmente relacionadas a essas figuras sociais, as crianças reapresentam o que julgam compor parte das ações dos adultos na vida cotidiana, ressignificadas na brincadeira simbólica.

Mas o que acontece numa brincadeira de namoro? Mesmo atuando como em uma brincadeira, entram aspectos do namoro que as crianças copiam da vida adulta, mas que ainda não têm o menor sentido para elas, como dar um beijo na boca, ficar abraçando e andando de mãos dadas numa relação mais exclusiva, ações que em nada dialogam com a infância e com as demandas de desenvolvimento dessa etapa.

Consideramos como muito importante a necessidade de as crianças saberem que há marcos de crescimento que significam transições e que o namoro é um deles, marco da adolescência e não da vida de nossos pequenos. Assim, na escola, deixamos claro para nossos alunos que namoro não é algo do universo infantil e que o que vivem com seus colegas são relações de amizade, de descoberta de afinidades, intensas e mutantes, parte integrante da vida de crianças!