Professor orientador ou Orientador professsor?

Pedro Raveli e Divino Marroquini

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Professores queridos e reconhecidos pela competência em sala de aula, não viram imediatamente com bons olhos meu convite para assumirem a orientação da área na qual atuam. Foi preciso um processo de convencimento e a garantia de que poderiam continuar em sala de aula por mais uns bons anos. Só assim,  Pedro Raveli e Divino Marroquini, os mais antigos professores da equipe do Ensino Médio da Escola da Vila, finalmente aceitaram suas novas funções e desde 2010 passaram a  exercer o papel de professores de apoio à coordenação.

Atualmente  são, respectivamente, os orientadores da área de Ciências Humanas e de Ciências Naturais, além de fazerem parte da equipe gestora que coordena o segmento. Mas, acima de tudo  são, naturalmente, referência para os colegas, pois conhecem a fundo e participaram ativamente da construção do nosso Projeto Pedagógico para esta faixa etária.

Todos os que foram nossos alunos nesse segmento têm histórias e depoimentos fecundos sobre estes dois importantes professores que invariavelmente marcaram a formação deles.

Para que pais de outros segmentos e outros leitores do nosso blog possam conhecê-los também, pedimos que  eles  comentassem alguns aspectos do trabalho que realizam hoje na escola:

 

Na sua opinião, passar a apoiar o trabalho dos colegas tem algum impacto em seu trabalho como professor?

Pedro: Apoiar o trabalho dos colegas tem, pelo menos, um duplo impacto no meu trabalho como professor. É uma oportunidade de refletir sobre minhas orientações, minhas escolhas, os encaminhamentos que faço, etc. Ou seja, a partir das discussões com colegas, de uma maneira bem simples, as questões que surgem voltam-se para o meu próprio trabalho como professor. O trabalho com os colegas contribui também para conhecer melhor os alunos, em uma perspectiva que vai além da experiência do meu curso.

Por outro lado, estar em classe ajuda a orientar, na medida em que as discussões entre professor/orientador e professor ocorrem (também) em uma dimensão de trabalho compartilhado. Ou seja, de alguma forma, discutir entre pares confere um tipo de legitimidade (que não é condição para o trabalho de orientação) ao trabalho do orientador.

Divino:  O apoio aos colegas da área implica a reflexão constante sobre as práticas em sala de aula. É uma análise semelhante àquela que me habituei a fazer como professor da Escola, mas ampliada pela diversidade de situações e aprofundada pela condição de interlocução, propiciadas na orientação pedagógica.

Definir objetivos, selecionar temas a ensinar, estruturar a sequência de ensino e aprendizagem, planejar a avaliação e analisar seus resultados, são ações que ganham novos contornos em minha função de professor a partir do trabalho de orientação pedagógica. Ao mesmo tempo, estas ações constituem uma referência prática importante, aliada a referenciais teóricos, para o meu trabalho de apoio aos colegas. Entendo daqui que as duas funções se complementam bem.

Quais são os maiores desafios que enfrentam como  orientadores pedagógicos?

Pedro:  Além de tentar garantir uma coerência de propósitos e objetivos, a questão  mais importante no trabalho de orientador pedagógico talvez seja a tentativa de produzir um conhecimento comprometido com a valorização de diversas práticas. Ou seja, sem abandonar a responsabilidade de ser/servir como orientador, criar condições para que seja possível construir um conhecimento gestado nas discussões, tentando garantir a valorização das diversas perspectivas/da diversidade, afim de construir uma compreensão e ação conjuntas e comprometidas com propósitos e objetivos compartilhados.

Divino: Os maiores desafios na orientação pedagógica estão na inserção de novas práticas que possam caracterizar o trabalho da área em seu âmbito coletivo. Incluem-se aqui o redirecionamento epistemológico e metodológico do ensino de Ciências Naturais e a prática de registro da ação docente e da reflexão sobre a ação. No primeiro caso, o desafio se vincula à revisão da estrutura curricular, atualmente em curso, em que devem ganhar espaço o conhecimento científico contextualizado, quanto a seus aspectos tecnológicos, sociais e ambientais, e as situações didáticas que potencializam a investigação, o protagonismo do aluno e a integração conceitual progressiva. No segundo caso, o registro das sequências didáticas, desde a concepção até sua avaliação, requer um investimento importante dos professores, considerando que as práticas em registro são aquelas atualmente vivenciadas, mas que devem incorporar as novas diretrizes do trabalho da área.