Trabalho de campo: aprendizagem além dos muros da escola.

9ºs anos no Vale do Ribeira

Por Angela de Crescenzo

A realização de situações de ensino e aprendizagem fora dos muros da escola é uma antiga preocupação da Escola da Vila. As saídas para que os alunos conheçam e interajam com a cidade, parques, museus, locais históricos, bibliotecas, fazem parte e, de certa forma, complementam as atividades regulares que acontecem na escola. Geralmente, estão relacionadas à aprendizagem de conteúdos de áreas específicas, mas também são espaços que promovem aprendizagens relativas à formação do aluno enquanto estudante e como cidadão.

No Fundamental 1, os acampamentos e o dia do acampante têm como principal objetivo o fortalecimento do vínculo entre os alunos e deles com os professores. Em algumas séries esse convívio é incrementado pelo uso da língua inglesa, gerando assim uma maior exposição ao idioma com todas as vantagens que sabemos que esse contato traz.

No Fundamental 2 e no Ensino Médio, o trabalho de campo agrega às questões de sociabilidade/interação aspectos específicos de estudo relacionados à algumas disciplinas. Levar os alunos a campo – numa viagem de três dias (ou mesmo numa visita ao centro da cidade de SP) – é uma estratégia metodológica que utilizamos para que os alunos possam realizar estudos mais próximos da realidade, bem como desenvolver o “olhar” e o “fazer” de alguns procedimentos de pesquisador, próprios de cada disciplina. Os trabalhos de campo não se resumem, em nenhuma hipótese, à atividades recreativas!

Todo trabalho de campo pressupõe uma intensa preparação anterior com os alunos, que se dá através de aulas, leituras, levantamento de questões que serão pesquisadas, planejamento de ações, etc.

Na última semana de março, os 9ºs anos saíram a campo rumo ao Vale do Ribeira, em uma viagem que envolveu as disciplinas de Geografia e Ciências Naturais. Observar a arquitetura e os contrastes de Iguape, que foi uma importante cidade do estado de SP;  ouvir e conversar com o líder da comunidade quilombola, Chico Mandira; compreender como as famílias se  organizam para o manejo das ostras, saber como surgiu a cooperostra; conhecer o banco de engorda de ostras, forma que a comunidade desenvolveu, junto com pesquisadores de universidades, para sobreviver na época do defeso; conhecer um pouco do trabalho da associação de pescadores  artesanais; caminhar na mata atlântica na Ilha do Cardoso; conhecer o manguezal; são algumas das atividades realizadas cujo sentido jamais poderia ser obtido através de filmes, livros e aulas expositivas. É claro que, além de tudo, tem também um convívio com os colegas, diferente do que ocorre na escola e a diversão é garantida!

Depois de três dias de intenso trabalho em campo, é o momento de retornar, reunir e sistematizar os registros e as informações, com o objetivo de organizar os conhecimentos aprendidos “in loco”, trocar informações com os grupos, retomar as questões iniciais, disparadoras das pesquisas e tentar respondê-las com outro tipo de vivência e conhecimento sobre a realidade estudada.

Do ponto de vista metodológico, há uma distinção importante entre “ver o local” e “vivenciar o local”. É esta segunda dimensão a que buscamos promover quando propomos uma saída a campo com os alunos, favorecer o  relacionamento com o ambiente e com a comunidade.

Por isso, temos clareza que os conhecimentos construídos não podem ser totalmente controlados, muitas aprendizagens ocorrem além das planejadas. Um exemplo dessa imprevisibilidade, são as aprendizagens que aconteceram durante o contato dos alunos com as pessoas da comunidade quilombola. A entrevista e a conversa com o líder Chico Mandira foi antes planejada com cuidado em sala de aula, mas a riqueza do contato humano superou o planejamento.

Como colocaram os participantes da mesa de debate sobre o tema “Trabalho de Campo” no simpósio interno da Escola da Vila de 2008, criamos uma situação de aprendizagem que tinha como objetivo colocar determinadas pessoas em contato com determinadas coisas, esperando que desse contato surjam aprendizagens significativas.

Isso sem dúvida ocorreu com nosso grupo!