A adultização da infância: coisas para pensarmos.

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Por Dayse Gonçalves

Segundo o historiador e medievalista Philippe Ariès, a indiferenciação do vestuário infantil do vestuário adulto, em determinado momento histórico, dizia da falta de importância que a criança tinha na sociedade. E como podemos verificar, também na Arte aparece essa quase questão no modo de retratar crianças daquele período. A estatura era basicamente o que diferenciava o adulto da criança.

A expansão da escola, segundo o autor citado, por volta do século XVII, parece marcar a descoberta da infância. Mas sabemos também que o acesso a ela não era democrático, por isso a maioria das crianças permanecia vivendo uma vida muito parecida com a dos adultos. Muito precocemente já trabalhavam. Trabalhavam no campo, nas fábricas, nas cidades. O mais triste é ter de admitir que no Brasil muitas crianças brasileiras ainda vivem nesta condição.

Tirando as questões de ordem econômica e social, que mantêm muitas crianças numa condição de exploração ainda hoje, parece ser na passagem entre adulto em miniatura a um ser visto como diferente, que os adultos começaram a dar importância às crianças e a organizar sua vida também em função das necessidades delas.

Como nós sabemos, no mundo de hoje, para fins comerciais, a visão de infância é muito ambígua. A mídia bombardeia os nossos pequenos com dezenas de produtos e práticas que os adultizam, além de favorecer atitudes consumistas. São muitos produtos direcionados a meninos e meninas. Às meninas, ainda, são oferecidos determinados objetos, como maquiagens, esmaltes, peças de vestuário, calçados com saltos, além de práticas relacionadas ao mundo das mulheres adultas, como visitas precoces aos salões de beleza para fazer as unhas, arrumar o cabelo... Enfim, há um marketing ‘pesado’ em cima destes pequenos, já vistos como importante faixa de consumidores. Infelizmente.

Embora não sejamos os maiores responsáveis, também nós, adultos que as educamos, acabamos impondo às crianças hábitos consumistas incompatíveis com as necessidades que um desenvolvimento saudável requer.

Portanto fica o convite para repensarmos que tipo de infância desejamos para nossos filhos e alunos. A escola, e dentro dela a Educação Infantil, por meio de palestras e do intercâmbio com as famílias através das Reuniões de Pais, tem apontado para a necessidade de um olhar cuidadoso para com as experiências que proporcionamos aos pequenos, que vão desde a importância do brincar ao desencorajamento de algumas práticas, que vão exigir de nós escolhas que vão fazer a diferença na maneira como as crianças viverão esta breve etapa da vida.

Para concluir, gostaríamos de sugerir o filme “Criança, a alma do negócio”, de Estela Renner, disponível na página do Instituto Alana.