Escrever em Ciências Naturais como tema de supervisão.


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Pela Equipe de Ciências Naturais do Ensino Fundamental 2

Escrever é sempre algo bastante difícil. Escrever não é uma mera transposição de um pensamento para o papel. Escrever é uma atividade que repercute sobre o próprio pensamento. Aprende-se escrevendo. E, escrevendo, aprende-se a escrever.

E escrever textos de Ciências Naturais na escola? Existe uma “linguagem da ciência”  que é produzida no contexto acadêmico, e é voltada para cientistas. Pode ser um referencial importante, mas dificilmente serve de exemplo para as produções escritas no contexto escolar. Os textos de ciências produzidos na escola são um gênero próprio de escrita. Mobilizam conceitos, fenômenos, teorias, etc. Ao mesmo tempo, seu objetivo é fazer com que o aluno aprenda conceitos, fenômenos, teorias...

A equipe de Ciências Naturais do Ensino Fundamental 2 da Escola da Vila vem pesquisando as possibilidades das produções escritas na área, e, no segundo encontro de supervisão de 2012, analisou uma situação de produção escrita proposta pelo professor Alex nas quatro classes do 9º ano.

 A proposta consistia em fazer com que grupos de alunos formulassem novas respostas às questões de uma prova trimestral que haviam realizado. O trabalho incluiu as seguintes etapas, todas postadas no AVA (ambiente virtual de aprendizagem) para que pudessem ser coletivizadas: 1ª etapa, listagem dos conceitos, exemplos, argumentações, refutações que as respostas deveriam conter;  2ª etapa, elaboração de uma resposta modelo para duas questões; 3ª etapa, análise da produção dos outros grupos e seleção da melhor resposta para uma das questões, explicitando a justificativa da escolha.

A análise dessa atividade no encontro com a supervisora nos permitiu retomar a discussão sobre  as relações entre produção escrita e avaliação. Sabe-se que nas avaliações o foco da produção dos alunos está voltado a atender as expectativas do professor, por isso, torna-se importante propor situações de escrita fora de situações avaliativas para favorecer uma produção e troca mais genuína de ideias entre os alunos.

Os textos elaborados apresentaram uma qualidade muito boa, porém, é importante ressaltar que, possivelmente em função da complexidade do tema, mesmo depois de terem realizado toda a sequência de estudo, ainda restavam muitas ideias divergentes que foram recolocadas nesse momento de revisão coletiva. Isso nos permitiu revisar, conjuntamente, a nossa concepção sobre os vínculos entre variação na qualidade linguística dos textos e avanço no domínio conceitual por parte dos alunos até determinada etapa do estudo. Embora tenhamos como objetivo avançar com todos e permitir que a maioria alcance determinadas ideias, ainda assim, em se tratando de um tema com obstáculos muito evidentes (como o determinismo e a intenção de evoluir) mesmo após a realização de uma sequência de estudo, os alunos ainda apresentam diversidade de ideias. Essa variação que se apresenta é legítima, embora ela possa nos causar algum incômodo...

Ana Espinoza comentou que, lendo as respostas postadas no ambiente virtual e assistindo aos vídeos dos debates entre os alunos considerou a proposta exigente e ficou com a impressão de que houve um avanço significativo em relação à visão teleológica, visto que os alunos incluem em seu discurso muitas referências ao fato de que não há uma intenção no processo de evolução. Os indivíduos não se modificam para se adaptar ao ambiente. A superação dessa ideia, tão presente no discurso cotidiano e tão difícil de se modificar, pareceu ter avançado bastante com o estudo realizado, mostrando que o tema da intencionalidade havia sido muito bem trabalhado.

Ana comentou, também, que chamou a sua atenção o fato de os alunos terem se dedicado tão intensamente à proposta de voltar à produção, mesmo sabendo que isso não alteraria seu conceito. Ressaltou, ainda, que os textos na área de Ciências Naturais estão voltados para a aprendizagem de conteúdos e também são usados para avaliar essas aprendizagens. Qual seria o risco? Que a tentativa de ajudar os alunos resultasse em um trabalho intelectual feito basicamente pelo professor. Quando o professor oferece “tudo mastigado” pode parecer maravilhoso porque os alunos elaboram respostas completas e corretas, mas é preciso ver se essas respostas representam efetivamente o que pensam, se foram elaboradas realmente por eles ou se reproduzem de forma declarativa o que foi enunciado pelo professor. Esse é um desafio permanente: como colaborar para que os alunos “afinem seu olhar” para melhorar as próprias produções sem resolver os desafios por eles?

Outros temas foram debatidos no encontro de supervisão, como o papel do planejamento do texto no processo de produção escrita e a importância da retomada do conceito de ser vivo ao longo de toda a escolaridade básica, temas a serem desenvolvidos em futuras contribuições para este blog.

Como em todos os encontros anteriores, a equipe de Ciências Naturais teve a oportunidade de vivenciar um momento formativo muito rico, com intensa troca de ideias entre os participantes, que certamente resultará em avanços significativos para a proposta curricular na área e mais vontade de continuar refletindo sobre a tarefa de ensinar ciências.