Viagem Pedagógica a Barcelona.

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Por Beth Baldi / Escola Projeto – Porto Alegre – RS

De 28 de maio a 7 de junho de 2012, participamos de um grupo de 26 educadores brasileiros (*) que estiveram em Barcelona/Espanha, em um seminário organizado pelo Centro de Formação da Escola da Vila, juntamente com alguns membros do GRINTIE (Grupo de Investigação sobre Interação e Influência Educativa da Universidade de Barcelona), em torno do tema “As Novas Tecnologias na Escola”.

Os professores César Coll, Alfonso Bustos, Anna Engel e Horácio Vidosa trabalharam conosco durante esses dias no Campus Mundet da Universidade de Barcelona, apresentando-nos sua visão sobre o quê, como e por quê as TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) na educação, bem como oportunizando momentos de reflexão a partir das visitas realizadas a duas escolas da cidade, em que observamos, entre outros aspectos, a forma como estão utilizando as tecnologias. Eis as escolas:

  • Escuela Collaso i Gil, escola pública de 1º a 6º ano, situada no bairro do Raval, um dos mais antigos, que acolhe, basicamente, filhos de imigrantes (92%) provenientes, sobretudo, de Bangladesh, Paquistão e Marrocos (aproximadamente 450 alunos, de 29 nacionalidades diferentes);
  • Col-Legi Montserrat, escola privada, religiosa e subvencionada pelo estado (como, aliás, são todas as privadas de lá), que atende 984 alunos, da educação infantil até o chamado “bachillerato” (alunos de até 18 anos), localizada no distrito de Sarriá-Saint-Gervasi, o primeiro em renda per capta da cidade.

Também tivemos contato com o professor Ramon Barlam, que relatou sua experiência na escola secundária em que trabalha, tendo em vista especialmente o uso das TIC como ferramentas para atenção à diversidade.

Conversamos ainda com Tomás Casals, criador da “Tiching”, primeira rede educativa global na internet dedicada exclusivamente à educação e para ser utilizada pelo mundo educativo escolar, a qual, até o momento, pode ser acessada em países como Espanha, Argentina, Colômbia, México, Peru e Chile, mas que logo chegará ao Brasil e a outros países.

Finalmente, em visitas organizadas pela Escola da Vila, conhecemos:

  • a Escuela Súnion, com aproximadamente 500 alunos de classe média alta, de ensino secundário (ESO) e bachirellato, a qual se organiza em termos de grupos, horários das disciplinas, uso dos espaços e tutorias, de forma bastante diferenciada das nossas escolas, com muita flexibilidade e aposta na autonomia dos alunos;
  • o responsável pelo Departamento de Ensino da Cataluña, Sr. Jordi Vivancos, que nos apresentou, junto com o professor Ricard Garcia, uma visão geral sobre a implantação das TIC no sistema educacional dessa parte do país.

Seria impossível, neste curto espaço de texto, contar tudo que vimos e aprendemos por lá a partir dessas atividades todas. Mas algumas ideias ficaram muito claras em relação ao tema. Entre elas, destacaria:

  • não se trata mais de pensar se queremos ou não as TIC nas nossas escolas, pois elas são uma exigência intrínseca da realidade escolar, de modo que se trata, agora, de planejar como utilizá-las de forma crítica, reflexiva e transformadora;
  • o equipamento técnico, sozinho, não resolve, embora seja um requisito - é preciso ir além e começar ontem, formando continuamente a equipe da escola para um trabalho que incentive a pesquisa e a experimentação, bem como as colaborações entre os professores, inclusive de diferentes instituições, buscando um novo sentido para as ferramentas tecnológicas;
  • as TIC, por si só, não determinam a metodologia - é preciso que a escola tenha clara a sua proposta didático-pedagógica, buscando, a partir daí, a tecnologia ou ferramenta mais apropriada; mas, por outro lado, sendo ferramentas de pensamento e inter-pensamento, elas são muito potentes e nos ajudam a pensar e gerar significados, de modo a mudar paradigmas, facilitar processos de ensino-aprendizagem, colocar o protagonismo no aluno e atender à diversidade, fomentando o trabalho cooperativo, inovador, de melhor qualidade e longevidade;
  • há uma quantidade enorme de softwares e programas que podem se tornar ferramentas interessantes a serem utilizadas nas diferentes áreas e graus de ensino, bem como para diferentes fins, os quais precisamos conhecer para poder fazer o melhor uso possível nas aulas.

Percebeu-se, também, de forma muito nítida, algo que não se relaciona somente à questão das TIC e que sabemos, mas nem sempre conseguimos colocar em prática: a ousadia e a participação colaborativa de toda a equipe da escola, tanto na construção e planejamento das propostas quanto na sua execução, gera motivação, maior apropriação e compromisso, sendo essenciais para que a instituição se renove e para que seus objetivos se concretizem e se ampliem, aparecendo de forma coerente em sua prática. Observando as escolas visitadas, seus alunos em ação, os espaços, as formas de organização e o entusiasmo dos relatos, isso fica muito claro.

Assim, além de poder curtir uma cidade tão deslumbrante quanto Barcelona, esta viagem nos proporcionou sair de nosso “mundinho” e olhar outras realidades, ampliando nossa visão, inclusive a respeito da nossa própria experiência.

(*) Nesse grupo, estavam representadas as seguintes escolas: Apoio-PE; Bakhita-SP; Escola da Vila-SP; Escola Projeto-RS; Instituto da Criança-MG; Interamérica-GO; Jardim das Nações-SP; Juscelino Kubitschek-DF; Marista Paranaense-PR; Nova Geração-PR e Projeto Vida-SP.