Desenhar para o filho ou com o filho?

Por Dayse Gonçalves – Orientação Educação Infantil e Marisa Szpigel - Coordenação de Arte

Seu filho pede para você desenhar para ele? Perguntamos isso porque é comum que crianças pequenas peçam aos pais e outros adultos com os quais convivem para que desenhem para elas. Diante deste pedido, o que fazer? O que significa desenhar para as crianças? As crianças estão em busca de referências visuais, de modelos. Mas será que neste caso o adulto será um bom modelo? Em certa ocasião o artista Guto Lacaz revelou em uma conversa informal que por um longo período visitou um vizinho desenhista todas as tardes, para observá-lo desenhar. Guto não desenhava naquele momento, mas levava os desenhos para casa, e a noite desenhava a partir do modelo. Disse que observar o processo de desenhar era muito importante. Por outro lado, Picasso, artista conhecido por sua intensa e ininterrupta produção, em uma de suas frases de impacto, disse que levou dez anos para pintar como os mestres e a vida toda para desenhar como as crianças.

Tudo leva a pensar que este simples pedido pode parecer pouco importante, e na verdade não o é. A criança, como o faz, solicita modelos, e também precisa ser incentivada a desenhar sem a presença deles. O ato de desenhar carrega uma complexidade de operações, numa articulação entre os estímulos internos e os externos.
Na escola, nas classes de educação infantil, não desenhamos na frente das crianças, pois não é incomum que depois do encaminhamento de uma atividade, diante do modelo oferecido pelo professor, alguns trabalhos revelem nossa forte influência. Se o professor desenha algo na presença das crianças é comum que os pequenos sintam-se impelidos a desenhar como ele, pela admiração que sentem por seus mestres.
Nestas situações, em que estamos encaminhando uma proposta, apresentando os materiais, convidamos as próprias crianças a explicitarem ideias sobre as possibilidades de uso dos materiais, de modo que o modelo oferecido é muito mais próximo do tipo de produção que as crianças costumam realizar.
E quando nos pedem para desenhar, lhes dizemos que há inúmeros jeitos de desenhar, e convidamos várias crianças do grupo a fazê-lo, além de apresentar imagens em diferentes livros, evitando, com isso, um único modelo.
Então, se seu filho pedir para você desenhar, compartilhe com ele momentos de pesquisa de imagens. Os livros de literatura infantil são rica fonte para isto. Notem como cada ilustrador resolve graficamente uma figura humana, uma casa, um animal. Desenhe com ele e não para ele.

A propósito, desenhos figurativos costumam ser os mais valorizados socialmente, portanto mais uma razão para variar experiências. Que tal propor passeios de linhas sobre o papel, em um tanque de areia, no vidro embaçado do box do banheiro... Com certeza o simples pedido poderá se transformar em encontros significativos para deixar a linha, ou o desenho, sonhar.