Divulgamos aqui o teor da carta que o professor Lino de Macedo elaborou como resposta à material “Desconstruindo o Construtivismo”. Não foi publicada até o momento e por isso, oferecemos nosso espaço para este esclarecimento.
Prezado Senhor,
Como (...) estudioso do Construtivismo, segundo Piaget (desde 1968), venho lamentar a publicação, em 12 de maio, da matéria “Salto no escuro”, escrita pelo Senhor Marcelo Bortoloti. Três semanas atrás, esta mesma revista, já publicara matéria contra o Construtivismo, escrita pelo Senhor Cláudio Moura Castro.
O texto do Senhor Marcelo Bortoloti é superficial, tendencioso e mal orientado.(...)
Indico abaixo os pontos de minha divergência com o Senhor Bortoloti:
1. Não há dogmas no construtivismo;
2. O construtivismo se caracteriza pela visão de enfrentamento (via realização ou compreensão) de problemas que requerem conclusão; se errada, o desafio é aprender com os erros:
3. Culpar os professores que se dizem construtivistas e não compreendem o que significa, para daí concluir que o construtivismo é responsável pelo fracasso da educação brasileira é simplificador e torpe, próprio de quem escreve sobre aquilo que não entende e, pior que isto, escreve com a motivação de confundir e “desconstruir”;
4. O quadro “A desconstrução do construtivismo”, em que este autor compara “pedagogia tradicional” X “construtivismo”, é de uma banalidade e falta de informação que causa dó e desrespeito em alguém minimamente informado sobre o assunto.
5. Meu pressuposto, pautado no excelente trabalho da Editora Abril, com a Revista Nova Escola e outros projetos educacionais, era que ela valorizava e somava forças com esta imensa tarefa de defender uma escola para todos, apesar das dificuldades deste projeto. Com a publicação deste artigo e do anterior percebo que a Veja é contra esta ideia, sendo favorável ao “melhor da escola tradicional”, com sua visão determinista, favorável à seleção dos mais aptos, o que exclui a maioria de nossa população de crianças e jovens. Que pena!
6. Culpabilizar, enfim, professores e gestores por suas dificuldades em aplicar ideias construtivistas, no Brasil, é injusto, superficial e tendencioso, pois não considera a complexidade de se aplicar princípios teóricos e epistemológicos à prática pedagógica; ignora, também, o muito que se tem feito e conseguido, apesar de tudo. Além disto, minimiza, vulgariza e desengana todos aqueles que, apesar da complexidade desta imensa tarefa, não desistem e aceitam o desafio de uma escola para todas as crianças e jovens.
(.... ...)
Atenciosamente
Lino de Macedo
Professor Titular do Instituto de Psicologia, USP.