Inclusão na educação infantil - devir criança

Por Regina Izzo - Professora do Grupo 1A

A educação infantil é, muitas vezes, a primeira experiência das crianças para além do contexto familiar. Nesse momento, são abertas muitas possibilidades de formação de vínculos com adultos e crianças, e tem início, também, a construção do sentimento de pertencer a outro grupo, com todas suas especificidades e regras de funcionamento, e a ampliação do contato com a diversidade.

Os pequenos, sobretudo os de Grupo 1, olham para cada um dos seus pares de maneira muito particular, relacionam-se sem operar classificações, sem ter a necessidade de delimitar o que pertence ao seu universo e o que é “estranho” a ele. Esta é uma das características desta faixa etária; afinal, estão começando a trilhar seus caminhos na vida e conhecendo uns aos outros.

Considerando estes aspectos tão favoráveis à inclusão, junto ao fato de que o grupo de crianças, na maioria das vezes, é que segue unido por toda a escolaridade e nós, professoras, “ficamos para trás”, se faz extremamente necessário investir e fortalecer a relação entre os pequenos, desde o início.

Nesses três anos de educação infantil, as crianças convivem nas mais diversas situações, todas elas facilitadoras da interação, tais como: aulas de música, piqueniques, brincadeiras, propostas de arte, parque e rodas de histórias. Esta é a base que dará a força necessária para todas as crianças enfrentarem os desafios que o resto da escolaridade apresenta e se inicia no ensino fundamental. No caso das crianças que apresentam algum tipo de deficiência, este desafio é um tanto maior, pois, muitas vezes, é neste momento que a necessidade de uma personalização do currículo se apresenta de forma efetiva. Assim, é hora de utilizar as relações que foram construídas nestes primeiros anos como elementos fortalecedores do processo de inclusão destes alunos. Os desafios são muitos, pois, além das adaptações curriculares, as crianças enfrentam também a reformulação constante dos grupos de amizade, o desafio da autonomia, a exigência aumentada e até os “namoricos”, que passam a ocupar, cada vez mais, a vida social de todos.

Para nós, adultos, é sempre bom exercitar aquilo que as crianças nos ensinam: abrir mão da nossa capacidade de classificar os sujeitos a partir de nossos próprios critérios, para estabelecer diferentes relações com os outros. É importante, em muitos momentos, sair do nosso lugar de ação e de fala, que legitima um modo de proceder com pouca ou nenhuma prática real de inclusão.

A prática da inclusão passa, necessariamente, por esse aprendizado, esse “devir-criança”, sem o qual corremos o risco de sermos apenas “caridosos” com aqueles que não são necessariamente iguais a nós ou à maioria, tentando simplesmente incluí-los ao nosso universo, à nossa norma constituída.

É preciso, pois, na prática da "inclusão", exercitar a capacidade de nos estranhar, de modo a nos situar em outra lógica, em que não existem as distinções simples, e entrarmos nesse mundo compartilhado, dividido, recriado com os outros, que é segmento da Educação Infantil.